quinta-feira, 26 de julho de 2012

Capítulo 11 - Meu Sensível Coração de Gengibre


Meu Sensível Coração de Gengibre on.
“– Grabalhaldo, o que está fazendo?”
“– Oh, meu caro amigo Erostino, trabalharei incansavelmente até conseguir ter o coração de Adailda para mim”.
“– O quê? Está louco? Cara, você é um galã! Galãs não ficam por aí tentando conquistar desesperadamente o coração de uma moça! Sabe o que pessoas como nós fazemos cara?! Saímos com todas da lista de contatos da balada, só pra curtir!”
“– Erostino, eu realmente gosto muito de você, mas isso que estamos vivendo não é vida! Sabe, eu pensava assim até conhecer Adailda! Mas uma vida só de curtição, sem um amor fixo, não vale a pena. Eu me apaixonei, e abri os olhos para o mundo! Quero uma pessoa para passar a vida inteira a meu lado, e sinto que esta pessoa é Adailda. Por isso, não descansarei até provar para ela que eu mudei, que não sou mais o rapazinho rico, mimado, herdeiro e baladeiro de antes. Agora sou um homem pleno, e não mais do passado quero saber.”
“– Amigo! Não se iluda! Não largue tudo por ela! Não vale a pena!”
“– Eu jamais largaria TUDO! Pelo contrário: estou sempre agarrado a ele! Por isso preciso dela, Erostino, Adailda é TUDO para mim!”.

Harry on.
“Minha nossa! Quanta baboseira!”, pensei. “Eu a amo daqui, eu a amo dali... Que é isso? Será que para conquista-la eu teria realmente de ficar falando esse monte de ladainha?”
                Olhei para o lado. Louis estava comendo um balde de cenouras, e havia algo em seus olhos... Quando percebi o que era, não acreditei.
                – Louis, você está chorando?
                – O quê? – ele pareceu voltar à realidade. – Chorando...! Ah, não! – Ele limpou as “não lágrimas”. – Entrou um cisco no meu olho...
                Sem acreditar nele, virei meu rosto e minha atenção à novela novamente.
“Cara, que tédio... Onde está o tal plano para conquista-la? Ah, sim, está passando agora... Mas não está dando certo. Ele lhe dá flores... Não fica com nenhuma garota na balada... Não vai mais à balada! – Nossa! – Compra mil coisas, passa a noite na soleira de sua porta, faz-lhe uma serenata... Mas nada, nada a agrada!”
Entediado, continuei a ver o desenrolar dos acontecimentos. Será que fazer garotas se convencerem de que você as ama é tão difícil assim? Mesmo que você seja um playboy...
Resumindo o que aconteceu: Grabalhaldo continuou tentando conquistar Adailda, o que acabou deixando Erostino em segundo plano, enciumado.   Erostino então bola um plano: para ter o amigo de volta, ele deve eliminar Adailda, e é isso que ele vai fazer. Ele escreve uma falsa carta de suicídio e vai até a casa dela. Ela atende a porta e o recebe bem. Assim que ela fecha a porta, ele aponta a arma para ela. Ela se assusta e grita. Ele vai atirar. Puxa o gatilho. Um estrondo é ouvido, seguido por outro grito. E a bala acerta o alvo.
Fiquei surpreso ao ver Grabalhaldo levando o tiro. Adailda estava atrás dele, e gritou desesperadamente. Erostino ficou perplexo e, em choque, fugiu. Agora a novela tinha toda a minha atenção.
“– Grabalhaldo! O que fez?!”
“– Eu pulei na sua frente e levei o tiro por você...” – Ele falava com a voz rouca e fraca.
“– Eu sei... Mas por que fez isso?!”
“– Adailda, eu já lhe disse. Por mais que você não acredite em mim: eu larguei minha antiga vida por você. E tenho tentado lhe convencer de que não sou o mesmo homem de antes. Você mudou a mim e a meus conceitos. O que eu fiz, TUDO o que eu fiz, eu fiz por amor, por que você é TUDO pra mim. Adailda, olhe em meus olhos... E acredite em mim... quando... digo... que... eu... te... amo...” – Dizendo isso, ele fechou os olhos nos braços de Adailda e... a novela acabou. O quê?! Acabou! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOO!
Olhei para o lado. Louis agora soluçava e seus olhos estavam mais avermelhados que suas cenouras.  
– Louis! Não pode ter acabado!
– Eu sei! – Ele nem tentou negar que estava chorando. – Ele não pode ter morrido!
– Não! Idiota, estou falando a novela... O que acontece depois?!
– E eu lá tenho cara de quem sabe o que acontece? Eu estou assistindo como você! E... – continuei olhando para ele com olhar inquisidor. – Tá, tá! Eu confesso! Eu li na Internet! Para de me olhar assim!
– Então conta!
Ele respirou fundo, limpou as lágrimas e continuou:
– Erostino desaparece. Grabalhaldo entra em coma. Adailda fica desesperada e, durante três anos, vai visita-lo todos os dias no hospital.
– Três anos? Eu não tenho tanto tempo!
– Shhhhhhhhhhhh! Deixe-me continuar! – Calei-me diante de seu tom de voz. Louis limpou a garganta e prosseguiu. – Ela entende que ele realmente a ama quando leva a bala por ela. E com o passar do tempo, desesperada por estar tão próxima e tão longe dele, percebe que também o ama. Que na verdade sempre o amara, mas se sentia tão mal por ser mais uma de sua lista de contatos que acabou sentindo repulsa, e jamais lhe deu uma chance. O sacrifício dele provou a ela que seu amor era verdade, e eles poderiam ter ficado juntos, se não fosse o seu coma. Ela passou os dias em silêncio perto dele no hospital. Todos os dias, o máximo de tempo permitido na sala, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Quando ia embora, desabava em lágrimas. Não casou. Não teve filhos. Cinquenta anos depois, ele ainda está em coma. Ambos com seus setenta e poucos anos, estão muito velhos. Adailda adoece gravemente, e é desenganada pelos médicos. Sem família, seu único desejo é permanecer até a morte ao lado da cama onde Grabalhaldo ainda está em coma. Sentindo a morte embreando-se por seu velho corpo, ela vira a cabeça e sussurra suas últimas palavras a Grabalhaldo: Eu-te-amo. Nisso, ele abre os olhos – ele fez uma pausa, limpando uma lágrima e tentando controlar a voz. – e sai do coma e diz: “Eu senti falta da sua voz”. Um sorri para o outro, estendendo suas mãos, e Adailda fecha os olhos. Em seguida, Grabalhaldo os fecha. Quando a enfermeira chega, os dois já estavam no paraíso, de mão dadas e sorrindo na terra – ele começou a soluçar de novo. – e com as almas entrelaçadas no céu!
– O quê?! Louis! Isso é só em novelas! Não posso provar meu amor a ela com esse tipo de sacrifício! Não posso esperar cinquenta anos!
– Quando se ama de verdade, se faz qualquer coisa Harry.
Irritado com Louis, saí da sala bufando, enquanto ele ainda soluçava. Que perda de tempo! Teria que arrumar outro jeito de conquista-la.

Louis on.
“Por que será que ele tá indo embora? Será que eu fiz algo errado? Ah, sim! Acho que ele queria uma cenoura... e eu nem deixei nenhuma pra ele... Oliver, meu estômago, como você é egoísta!”

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