terça-feira, 24 de julho de 2012

Capítulo 10 - Reviravolta


                Harry guiou o carro rapidamente pelas ruas de Dublin, até que achou que já estava seguro. Depois de uma meia hora rodando, ele parou o carro, saímos dele rapidamente e entramos num pequeno jardim de uma casa. Harry foi até a porta e bateu. Quem atendeu foi uma senhora de uns sessenta e cinco anos de idade, com os olhos bem azuis, e recebeu Harry de braços abertos:

– Harry! Querido, mas que surpresa! – Ela olhou para o lado e pareceu perceber a minha presença. – Quem é sua amiga?
– Vovó Horan, estamos fugindo dos paparazzi... Será que podemos entrar?
– Mas é claro! Vamos rápido!
Entramos na pequena e simples casinha de vovó Horan, a avó de Niall. Ela nos convidou para almoçar.
– Será um prazer ter vocês comigo hoje! Como está meu netinho Niall?
– Ah, vovó Horan, eu até ligaria para ele, mas ele teve uma séria indigestão e passou mal depois do café da manhã. Agora está dormindo um pouco.
Ela não ligou muito para isso e arrumou a mesa. Eu não havia trocado nenhuma palavra com Harry desde que ele me salvara, então, enquanto vovó Horan ía ao banheiro, tentei agradecer.
– Er... Obrigada... Harry. – Disse, encabulada.
– Não há de quê! – Ele sorriu, puxando a cadeira da mesa do almoço para que eu me sentasse, como um perfeito cavalheiro. Sorri em agradecimento, enquanto me sentava. Ele se juntou a mim na mesa. – Você fica me devendo essa. – completou.
Nunca gostei de dever nada a ninguém... Mas era justo.
– Me diz... – Ele continuou. – Por que fugiu de mim hoje de manhã?
Meu rosto começou a ficar vermelho, e eu não sabia o que responder a ele, quando mais um milagre aconteceu: vovó Horan voltou do banheiro e interrompeu-nos, colocando comida em nossos pratos e sentando-se também.
– Hummm! Parece ótimo! – Disse Harry atacando um pedaço de frango. Mas antes que ele pudesse chegar a sua boca, foi interrompido por um golpe fulminante de vovó Horan.
– Não! – Ela disse. – Não antes da oração, seu grosso! Está parecendo Niall, sempre atacando furiosamente a comida!
Harry fez uma carinha triste e não pude deixar de rir. Depois fizemos nossa oração e nos pusemos a comer. O almoço, até certo ponto, foi recheado de perguntas sobre Niall a Harry. Porém, depois, a curiosidade de vovó Horan passou para mim.
– Harry! Mais uma namorada! Esta é a sexta que eu conheço!
Meu frango entalou temporariamente na minha garganta e Harry ficou em choque.
– Não, vovó... As outras eram todas... amigas...
– Nossa, você tem muitas amigas, não? – Ela disse em tom curioso, arrumando os óculos no nariz. – Mas você parece diferente das outras... Não sei... Tem um certo ar mais humilde... E parece mais inteligente também!
Harry não sabia onde enfiar a cara.
– Er... Obrigada... Sra. Horan.
– Estou curiosa a seu respeito. – Ela se levantou para servir a sobremesa, um delicioso bolo de abacaxi que, segundo Harry, era sua especialidade. – Já sei! Vamos brincar! Sempre faço isso quando os meninos estão com garotas! Não sei como fui me esquecer... É a idade...
– Vovó Horan, não precis... – Mas Harry não terminou a frase.
– Perguntas Relâmpago! – Ela exclamou. – Idade?
– 20.
– Profissão?
– Diplomata.
– Tão nova?
– Pulei algumas séries.
– Ah... Inteligente... Sabia! Cor favorita?
– Azul.
– Animal favorito?
– Cachorro.
– Alimento favorito?
– Brigadeiro.
– Brigadeiro? – ela ficou confusa.
– É. É um doce típico do meu país. Sou brasileira.
– Ahhhmmmm!
– Quer a receita?
– Claro!
Fomos até a cozinha e eu verifiquei o estoque. Dava para fazer Brigadeiro. Harry nos seguiu, e parecia curioso enquanto me via ensinar a simples receita a vovó Horan e preparar a iguaria.
Quando terminei, enrolei os brigadeiros em bolinhas e expliquei que, tradicionalmente, púnhamos granulado, mas não havia na casa de vovó Horan. Então, eles experimentaram.
A expressão de Harry e vovó Horan foi de surpresa, depois de deleite.
– É maravilhoso! – exclamaram.
Ficamos um bom tempo apreciando o doce, enquanto conversávamos na sala. Rimos, contamos histórias, conhecemo-nos muito bem.
Em certo ponto, vovó Horan me mostrou suas costuras – ela era excelente costureira, além de cozinheira – e perguntou se eu tinha algum hobbie. Respondi no ato: Adorava desenhar.
Ela animou-se e correu para seu quarto, desaparecendo dois segundos depois. Gelei momentaneamente, assombrada em ter um momento a sós com Harry, mas, por sorte, ela voltou tão rápido quanto desapareceu, deixando-nos sem oportunidade para conversa, trazendo na mão um papel e um estojo.
Ela insistiu para que eu desenhasse Harry, e assim comecei. Era estranho encarar Harry, pois ele devolvia o olhar com muita intensidade. Comecei a desenhar suas belas feições, e a cada retoque que dava na folha, percebia mais ainda como ele era bonito. Vovó Horan continuou falando bastante enquanto isso, e Harry, em certo momento, leu em seu twitter piadas de pontinhos que alguma fã viciada em pontos – por algum motivo – ficava mandando para ele, e rimos muito.
Quando deveriam ser quase quatro horas da tarde, vovó Horan adormeceu no sofá, com a boca aberta e uma linha de baba escorrendo por seu queixo. Não pude deixar de rir. Era uma visão engraçada daquela senhora exótica, tagarela e alegre.

Olhei para Harry, mas ele não ria, Em vez disso, seu sorriso típico que eu desenhara havia sumido, e ele olhava agora para mim com um riso misterioso e um olhar... indecifrável.
– Você fica linda quando sorri. – Ele disse.
Fiquei vermelha, incapaz de responder e olhar em seus olhos, abaixando-os para minha folha.
– Olhe para mim. – Ele disse suavemente, porém firme, e eu não ousei desobedecer. – Por que fugiu de mim esta manhã?
Então não havia escapatória, eu teria de enfrentar meu medo.
– Eu... não... queria que... houvesse... um escândalo... Você estava lá... Tom estava lá. Minha carreira poderia vir água abaixo com isso, sabia! Estou sendo conhecida como a Celeb’s Pirigueti, e não aguento mais isso, por que eu simplesmente não tive caso com nenhum dos dois! Mas vocês me perseguem! Não me deixam em paz um minuto sequer! – Coloquei tudo para fora, de uma vez.
– Mas você não escolheria o Parker, não é? – Ele olhou esperançoso, seus olhos brilhando de expectativa.
– Isso não é relevante! Você não percebeu a gravidade de tudo o que acabei de lhe dizer? Não sei como ainda não me telefonaram de meu país, pedindo que retornasse. Essa pode ser minha última atuação internacionalmente, e você só se preocupa se eu escolheria seu concorrente ao invés de você! Se gostam mesmo tanto assim de mim, que parem de destruir meu futuro!
Ele pareceu perceber a gravidade da situação, e abaixou os olhos, arrependido.
– Desculpe. – Ele focalizou seus olhos verdes nos meus olhos escuros.
Não acreditei nas palavras.
– Não vou mais incomodar. Você tem razão. Não comentaram muito bem de você nas revistas ultimamente, mas só agora percebi que você não teve culpa de nada. Nem saiu com nenhum de nós... Quando entrarmos no hotel hoje, será como se nada jamais tivesse ocorrido, assim está tudo bem?
Estava em choque. De repente, Harry se tornara a pessoa mais compreensiva da face da Terra. Não parecia haver resquícios de atuação em seus olhos, apenas um brilho humilde, por isso, acho que fiz o que fiz em seguida.
Quando me dei conta, estava abraçando Harry.

– Obrigada. – Senti lágrimas começarem a sair de meus olhos. – Nunca ninguém foi tão compreensivo comigo antes.
– Não chore! – Ele passou os dedos pelas minhas bochechas. – Eu gosto realmente de você. Nunca tive a intenção de arruinar sua vida!

– Sabe, Harry, acho que fui um pouco dura demais com você... Mas era isso que estava sentindo. Um medo profundo.
– Eu entendo perfeitamente. – Ele me abraçou dessa vez. – Não fique assim.
– Dadas as circunstâncias, Harry, acho que poderíamos ser bons amigos, afinal. Hoje que nos conhecemos devidamente, foi um dia tremendamente divertido! Eu adorei passar a tarde com você.
– Eu compartilho do mesmo sentimento. – Ele respondeu, sério, e ficou me olhando com aqueles olhos verdes lindos! Ficamos assim, um encarando o outro por um tempo. Ele era TÃO bonito! E aqueles olhos eram hipnotizantes! Foi assim, um pouco distraída em Harry, que percebi que seu rosto estava chegando cada vez mais perto, e mais perto. Congelada, estava incapaz de me mexer, de pensar direito. Por minha cabeça passavam milhões de pensamentos, mas nenhum deles conseguia se fixar em meu ponto de concentração. Parecia que uma névoa enrolava meu cérebro enquanto eu fechava meus olhos e...
RONC!
O ronco de vovó Horan me trouxe de volta à realidade. Sobressaltado, Harry se afastou com um pulo, assim como eu, e um segundo foi suficiente para que meu foco de concentração englobasse centenas dos pensamentos antes perdidos ao mesmo tempo. O que eu estava fazendo? Iria ser mais uma a se entregar tão facilmente aos encantos de Harry Styles? Como aquilo estava acontecendo? Como a situação chegou àquilo? Como faria para sair dela? Deveria beijar Harry? Seria eu a nº 6 da lista de contatos de Harry? E por que vovó Horan não acordava? E quem teria matado Lucila na novela? E por que Louis era viciado em cenoura? E como eu sabia disso? O quê? O quê? O QUÊ?
Harry, ao perceber que era apenas vovó Horan roncando no sofá, aprumou-se depois do susto e continuou:
– Onde estávamos? – disse, se aproximando novamente.
Não! Não seria assim tão fácil conquistar a mim!  E se aquilo fosse apenas mais uma atuação do garanhão Styles?
Tentando raciocinar o mais rápido possível, olhei a minha volta, enquanto Harry, já com os olhos fechados, continuava a se aproximar. Eu precisava de mais um milagre.

........................

Harry on.

“Não acredito! Eu estou quase a beijando! Minha nossa! Esse Parker já era! Hum! Eu tenho que comprar cenouras pro Loui... Ei! Esse pensamento não é importante agora! Não quero saber daquele traidor. Vamos voltar ao mundo real”.
Ajustei os pensamentos e me concentrei no beijo. Estava sentindo a proximidade e...
“Nossa... Lábios... Rançosos... Como... Papel!... Papel?!”
Abri meus olhos e estava beijando uma folha de papel. Afastei-me rapidamente e olhei para a garota que deveria estar beijando. Ela sorria um sorriso débil.
– Olha! – ela disse. – Terminei o seu desenho!

 Harry Styles por Elissa Sanitá Silva (a blogueira que vos fala)


Eu parabenizei-a pelo excelente trabalho, que estava realmente muito bom, tentando esconder minha frustração. Assim fiz até achar que os elogios já eram suficientes.
Cheguei mais perto e arrisquei passar meu braço ao redor de seu ombro. Porém, senti meu corpo cair no chão estrondosamente quando ela se levantou rapidamente, exclamando:
– Minha nossa! Já está tarde! Precisamos ir logo! – Ela parecia enérgica, uma energia ansiosa parecia emanar dela. Será que estava tentando me evitar de novo?
– É...  Está tudo bem? – Arrisquei perguntar.
– Mas é claro, por que não estaria?
– Você parece... Evasiva. – Não podia deixar aquela oportunidade se esvair! Estava tudo indo tão bem! O que dera errado?
– Eu? Evasiva? Não! – Ela soltou uma gargalhada espalhafatosa e alta, que acabou acordando vovó Horan.
– Ora, crianças! – disse vovó Horan. – Eu cochilei?
Concordamos com a cabeça.
– Um cochilo de duas horas e meia, vovó. – falei.
– Sra. Horan, foi um prazer conhece-la, mas Harry já estava me levando de volta ao hotel, não é, Harry? – Ela sorriu.
– É... – comecei a falar.
– Muito obrigada por sua generosidade e hospitalidade! – Ela me cortou.
– Que é isso, minha cara! Gostei muito de sua companhia! – Vovó Horan falou enquanto eu era puxado de volta para a porta. – E de seu desenho! – falou pegando o desenho de Harry no chão a seu lado.
Ela abriu a porta, mas quase imediatamente fechou-a. Mil fotógrafos nos esperavam do lado de fora, seguindo a pista de meu carro. Mas que droga! Eu o escondera depois do almoço!
Não importava como me acharam. Mas ela ficou tensa. Fiquei pensando em algo para erradicar seu conflito, mas não precisei muito. Pois vovó Horan apareceu de repente sacudindo algumas chaves no ar.
– Querem uma carona do velho Gibby, meus amigos?
Vovó Horan...

.............

Louis on.
Pararam em frente ao hotel. Uma moça loira jovem vestindo roupas antiquadas e seu companheiro, um homem alto e careca, retirando bagagens de um carro velho e cheio de riscos, dirigido por uma senhora de cabelos grisalhos presos num coque. Acenaram em despedida. Quem seriam? Não importava. Estava ficando preocupado com Harry. Não o vira desde nosso último encontro no banheiro.
Desci até a recepção para ver se me distraia um pouco, mas, descendo a escadinha depois do elevador, trombei com o senhor careca.
– Desculpe, senho... – Falei, pegando sua bagagem que caíra e olhando em seus olhos. – ...r, Harry!
Sempre reconheceria os olhos de Harry, e não pude conter minha surpresa naquele momento.

Harry tapou minha boca com sua mão  e me encarou sério.
– Shhhhhhhhhhhh! – Ele falou.
A moça loira chegou em seguida, e não tive de medir esforços para reconhece-la.
– Mas que diabos está acontecendo aqu...! – Harry tapou minha boca de novo e me empurrou de volta ao elevador.
Quando estavámos seguros de olhares, Harry tirou a careca falsa – que não caíra nem um pouco bem para ele – e os óculos antiquados que estava usando.
– Como deixaram você subir? – perguntei, curioso.
– Liguei avisando que chegaria assim.
– Onde estava?
Mas ele não respondeu. Em vez disso se virou para a “Dama do Elevador”.
– Eu não aguento mais! Me responde: Por que você não me beijou? E por que está me evitando?
Nossa! O que eu perdera?
A moça pareceu surpresa. Depois, seu rosto esbanjou confiança e determinação.
– Harry Edward Styles! Se pensa que serei mais umazinha na sua lista, está enganado! Não nego que talvez você tenha plantado algo dentro de mim, mas se quiser realmente que a semente frutifique, terá de trabalhar muito antes da colheita! – Dito isso a porta do elevador se abriu para o andar onde ela estava. Ela saiu, se virou para Harry, jogou a peruca nele, parecendo com raiva, fez uma reverência, e saiu batendo os pés.
Antes que Harry pudesse reagir, a porta do elevador se fechou. Ele estava pasmo. Olhou para mim e falou:
– Eu não entendo as mulheres! Ela estava comigo em clima romântico, depois ficou com uma agitação ansiosa e agora está com raiva, mesmo admitindo que haja uma possibilidade de ela sentir algo por mim!
Minha nossa! Aquilo era igualzinho à novela das sete.
– Harry, Harry, Harry... Ingênuo Harry... Se você assistisse à novela das sete do planeta Glub Glub, que passa no canal Vaquildo, “Meu Sensível Coração de Gengibre”, saberia por que ela está assim.
– O quê? Meu Sensív... Deixa pra lá. Por que ela está assim?
– Não vê? É como Grabalhaldo e Adailda! Você tem tantas garotas a disposição e sai com tantas delas que, mesmo que ela sinta algo por você, não quer se magoar se ela for apenas mais uma da sua lista de encontros... Aquelas que você usa como lencinho de papel: pega, usa e joga fora. Nenhuma mulher quer se sentir descartável e, por ela ser inteligente, não vai permitir ser esse tipo de mulher!
Harry estava pasmo novamente. A borca aberta e a testa franzida, olhando para mim como se eu fosse um alien.
Chegamos à cobertura. O elevador se abriu e Harry saiu, pisando duro no chão e bufando. Depois deitou no sofá, gritou um grito abafado por uma almofada, choramingou, depois se jogou no chão, olhou para mim com receio e falou:
– Esse Grabalhaldo... Ele fica com a Adailda?
– Hoje ele vai armar um plano para conquista-la. – respondi.
– Que horas são?
– Cinco para as sete. Por quê?
– Vou... – ele respirou fundo antes de falar, depois soltou tudo rápido demais, como se estivesse irritado ou com vergonha... Ou com os dois. – Assistir ao capítulo de hoje.
Depois ele pegou o controle, ligou a TV, e começou a esperar que acabassem os comerciais, com um bico enorme na cara.
“Nossa! Estava errado. Isso é melhor que novela!”, pensei, sorrindo, indo me juntar a ele no sofá.
Mal sabia eu o que os próximos capítulos da vida reservavam para Harry.

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