Fomos guiados
por um extenso corredor claro, ao qual havia, no final, uma porta dupla
espelhada.
Pude ver,
antes que ela se abrisse, como meu ferimento estava realmente feio. Sentia a
perna latejar, mas o raspão não impedia que eu pudesse andar ou... Pisar em pés
de grandalhões. Precisava fazer alguma coisa, e rápido. O risco de infecção era
iminente.
Não me detive
muito nesse pensamento, pois as belas portas foram abertas por dentro, por dois
oficiais, ao ouvirem o comando de Brutus.
Entramos,
acorrentados, um após o outro, e nos vimos diante de uma ampla sala, que
parecia a sala de um hotel de luxo. Sofás de veludo, um lustre esplendidamente
belo, revistas na detalhadamente esculpida em madeira mesa de centro, pilares
que copiavam os designs gregos, paredes alvas como a pele de Branca de Neve
jamais poderia ter sido, e um carpete amarronzado. Um bar à esquerda, e uma
parede, ou melhor, uma janela que tomava o espaço de toda uma parede. Não pude
identificar onde estávamos, pois estava escuro. À frente dessa janela, uma
escrivaninha muito bela, entalhada em mogno, extremamente grande, com uma
enorme cadeira com o encosto alto voltado para trás.
– Chefe, aqui
estão eles. Todos.
Alguém atrás
do encosto da cadeira respondeu:
– Ótimo! Perfeito!
Estão todos aí? – falou uma voz cínica, andrógina, em tom calmo e ao mesmo
tempo ameaçador, mas com um toque otimista.
– Sim, mestre!
– Respondeu aquele baixinho narigudo.
– Maravilha!
Bem-vindos, meus hóspedes! – e a cadeira se virou, revelando-nos um homem alto
e magro, de cabelo metido a Chitãozinho e Xororó nos anos 80, usando um terno
creme, com camisa e gravatas ambas alvíssimas como as paredes. Tinha um rosto
bem fino e um nariz muito grande e curvado. Olhos castanhos ostentavam acima de
si sobrancelhas grossas e ligeiramente grisalhas, como os cabelos escuros. Os
lábios finos e secos curvavam-se num meio sorriso sarcástico e simpático
simultaneamente, se isso é possível. A barba rala e também grisalha dava-lhe o
aspecto final de um suposto empreendedor. Mas, havia um detalhe: ele era, pois,
muito, mas muito feio.
– Oh, estão
todos aqui! – Ele pegou um lenço e começou a enxugar uma pequena lágrima, como
se estivesse emocionado. – Oh, meus queridos, há muito tempo os espero!
Todos
encarávamos a ele sérios, as expressões impassíveis.
– Meus
ídolos... Digam alguma coisa! – Ele sustentou um sorriso sofrido, os olhos
enrugando-se da expressão de forma aguda, mais um sinal de seus aparentes
quarenta e nove, cinquenta e poucos anos.
– Que temos a
dizer? – falou Barry. – Estamos aqui contra a nossa vontade, viemos
desconfortavelmente e com suprimentos escassos em um avião, fomos tirados de
nosso conforto e vida tranquila, para sermos trazidos a... isto!
O homem fechou
a expressão. Torceu o pescoço duas vezes, como num tique nervoso. Todos
sentimos nossos membros enrijecerem. O que atiçara tamanha fúria no homem? O
que seria de nós agora? Todos imaginávamos o que nos aconteceria em seguida,
enquanto o rosto dele ficava vermelho, irado, e poderiam sair faíscas de seus
olhos.
– ROBIM!
Mas...
– Robim... Seu
incompetente! Não alojou-os confortavelmente, como eu lhe pedi! – ele mal
conseguia falar. Atropelava suas palavras, tamanha à ira com que as cuspia na
cara do baixinho narigudo.
Um suspiro de
alívio tomou conta geral de mim e meus companheiros. O mesmo não acontecia com
o tal Robim, infelizmente para ele.
– Desculpe
mestre! – Havia um medo e um aborrecimento em seus olhos.
– Sua besta
inescrupulosa odiosamente burra! – ele apontou o dedo para Robim. – Cale-te, e
vá para o canto!
Robim abaixou
a cabeça.
– Sim...
mestre... – E, chorando, foi até o cantinho da sala.
– Ah, gente
burra me irrita! Mas – ele mudou de expressão, parecendo simpático novamente. –
Não vamos nos preocupar com esse tipo de gentalha. Ah, vocês não fazem ideia do
quanto é honrosa sua estada em minha humilde sala!
Aquela
ladainha toda estava me incomodando. Quando percebi, já tinha soltado, de
maneira nem um pouco educada, as seguintes palavras:
– E quem é
você, por acaso?!
O homem
virou-se para mim, a expressão fechando-se. Examinou-me da cabeça aos pés, e
novamente sua expressão mudou-se, dessa vez, para uma de desdém.
– Eu é que
deveria lhe perguntar quem é, senhorita, pois não a conheço. Não é famosa,
certamente.
Ele tinha
razão. Com certeza eu não era nenhum ídolo mundial.
– Gente metida
à famosa é fogo! – Ele revirou os olhos. – ROBIM!
O baixinho
narigudo reaproximou-se dele receoso.
– Quem é
essazinha? –Ele tornou a perguntar. Fiquei profundamente irritada.
– Bem
mestre... Ela estava com o garoto, e viu tudo, inclusive o helicóptero.
Tentaram eliminá-la, mas sem sucesso. A única solução foi trazê-la, segundo os
rapazes contaram, antes que a polícia aparecesse.
– E por que
ainda não deram um fim nela depois disso? – Perguntou o homem impaciente.
– Bom... é...
bem... é que... sabe... que... eu... Tá! Eu não sei! Não precisa ficar me
encarando desse jeito! – E ele soltou lágrimas, indo para o canto da sala
novamente.
– A moça já
causou estrago, chefe... – Falou o outro brutamontes, que não era Brutus.
– Como assim,
Tvailler?
Brutus deu um
passo à frente e mostrou o ferimento em seu pé.
– Oh, Meu
Deus! – O homem deixou escapar um gritinho agudo. – Vá fazer alguma coisa para
melhorar isso Brutus! – Dizendo isso, voltou-se para mim novamente, dessa vez a
alguns centímetros de meu rosto, olhos nos olhos. – Você é inútil aqui, minha
cara, pelo menos por enquanto. Escute bem, ainda está viva por sorte, e quão
sortuda você é! Até eu decidir o que vou fazer com você, é bom não me dar
motivos para não me arrepender de não mata-la agora mesmo!
Engoli em
seco, mas não ousei responder.
Ele lentamente
virou-se de costas, dando alguns passos à nossa frente.
– Mas está
certa, em um aspecto. Ainda não me apresentei oficialmente. – Ele fez uma pausa
dramática, e girou, para encarar-nos enquanto elevava o tom de voz para dizer –
Eu sou EUSÉBIO MATTOSO, o maior artista deste planeta! – Ele soltou uma
gargalhada diabólica em seguida. – HAHAHAHAHA... COF, COF! – Mas parou-a
engasgando.
Robim
rapidamente lhe trouxe uma jarra de água.
– Obrigado,
inútil. Continuando... – ele cerrou os olhos por um segundo, em um deleite
maleficamente desgostoso. – Não façam essas carinhas... Eu AINDA não sou
conhecido. Mas, vocês irão me ajudar a alcançar meu sonho.
– E como
faremos isso, meu caro? – Dessa vez Steven Tyler foi quem ousou.
– Oh, Sr.
Tyler, para isso vou fazer uma breve retrospectiva de minha vida. – Eusébio foi
até o balcão do bar, pegou um controle remoto e apertou um botão. À nossa
esquerda, uma painel desceu. Ele apertou outros dois botões, a luz se apagou, e
imagens começaram a passar na tela.
– Vejam como
eu era pequeno... Uma criança bela e saudável, recém-nascida no colinho de
minha mãe... – Ele enxugou algumas lágrimas que saíam do canto de seus olhos.
“Eu fui
crescendo uma criança feliz, mas meus pais ficaram preocupados, pois um ano e
meio passou sem que eu soltasse uma palavra... Eles foram a vários
especialistas, os melhores que o inesgotável dinheiro de meu pai podia pagar,
que disseram que eram normais algumas crianças que demoravam a falar... Mas,
depois, quando eu fiz três anos, ainda emitia apenas grunhidos, e meus pais
faziam de tudo para que eu desenvolvesse a fala... Eu me lembro de seus
esforços, mas eu simplesmente não tinha vontade nenhuma de conversar ou
falar... Até que, próximo dos meus quatro anos, eu ouvi. Ouvi uma música no
rádio que me encantou tanto, mas tanto, que... Bem, eu a cantei. Meus pais,
maravilhados, viram-me a partir daí desenvolver o hábito social primordial. A
música, a música sempre foi tudo em minha vida! E eu cresci com ela. Ali eu
estava cantando em meu quarto, aos seis anos, e ali, na cozinha para meus avós,
ao sete, e ali... ROBIM! O que uma foto sua na banheira está fazendo aqui?!
Santa ignorância! Inútil, não sabe nem montar um vídeo...
Mas,
continuando... Infelizmente, a voz infantil deu lugar à voz de um garoto, e
depois de um homem... E eu abomino essa voz pela qual sou dotado. Desafina ela,
e muito, e não tem um tom característico. Fui expulso de audições, e Simon Cowell
deu-me um veredicto que jamais poderei esquecer... Tentei algo em que eu
estivesse então, pelo menos, em contato com a música... A dança! Mas sou tão
desajeitado e desgovernado com meus movimentos como com minha voz... Sou um
desgraçado!
Assim sendo, tive
de buscar outra profissão, e segui carreira como engenheiro bioquímico e de
produção. Meus colegas zombavam de minha feiura e desajeitamento, mas eu não
ligava, pois não foi em vão que escolhi ambas as carreiras! Uma vez formado na
universidade, construí este imenso laboratório em que estão agora com a
poupança que meu pai acumulara para mim mais a sua herança, quando ele,
pobrezinho, faleceu. E com o capital restante, construí a maior, mais perfeita,
mais maléfica, mais... mais TUDO máquina de todos os tempos! A MÁQUINA DOS
TALENTOS!”.
Uma imagem da
máquina apareceu na tela. Era do tamanho de um homem, muito estranha, com uma
espécie de pistola manejável projetada para frente.
– Ela funciona
com botões e um gatilho, mais um toque de radiação alfa. Posso escolher o
talento que quero e digitar no monitor que ela tem atrás da pistola, mirar e,
acertando o alvo, a radiação emitida fica contida numa câmara especial, com o
talento desejado. Baseei-me em princípios de tecnologia nazista perdida, que
secretamente encontrei. Com esta coisinha, arrancarei todos os talentos de cada
um de vocês, e os incorporarei à minha pessoa, para me tornar, no final, o
maior artista do planeta! Uah-Hahahahaha... Cof, Cof... – Ele sorriu
maliciosamente.
– Haha, isso
nunca vai funcionar! – Exclamou Harry, até então quieto. – É impossível uma
máquina dessas existir!
Ele olhou
docemente para Harry.
– Quanto mais
jovem, mais inocente... Pois essa máquina existe, e funciona! Apliquei uma
pequena quantidade uma vez em Brutus e Robim. Brutus perdeu um pouco de sua
voz, e Robim engrossou a sua! Então está provado que ela funciona. E é isso que
vou fazer: tirar, de cada um de vocês, a parte de talento que quero. Taylor,
sua meiguice e capacidade de compor letras me inspiram, e o amor que conquista
por onde passa é invejável; Barry e Tyler, suas experiências e vozes que
alcançam dificílimos tons a muito me agradam, e me ajudarão a atingir um
público mais velho. A disposição que têm também é um prato cheio para um homem
não mais tão jovem como este que vos fala; Pitbull, não conheço artista tão bem
cotado para parcerias, e quero esse seu toque de simpatia e poder social do
qual parece gozar; Adele, minha doce Adele, não existe voz mais potente nesta
terra! Quero o poder de sua voz!; Meus caros membros do SHINee, adoro o estilo
de vocês, e, oh, como dançam bem! Com vocês serei o rei dos videoclipes e
poderei atingir público asiático! E, por fim, Harry, na falta da banda, o mais
popular serve. Quero seu encanto com as garotas, o timbre rouco da voz, seu
sotaque britânico e, quem sabe, não herdo um pouco da beleza que – apesar de
não enxerga-la em você – faz descabelarem-se milhares de garotas no mundo todo!
Taylor Swift
começou a chorar.
– Não chore,
minha bela Taylor! Você estará fazendo sua maior caridade! Não fica feliz?
– Você é um
monstro! – Falou Pitbull. – Não há pessoa mais horrenda no mundo!
– E nossos
fãs? Jamais conseguirá arcar com a ira deles! – Falou Harry.
– Ora, ora,
Harry! – Ele esboçou um sorriso. – Quando um artista que envolve todos os
talentos e capacidades de alguns dos maiores artistas do planeta surgir, você
realmente acha que sentirão falta dos antigos? – O esboço do sorriso adquiriu
caráter sarcástico.
A tensão tomou
conta de nós novamente. Eusébio encarou um por um, e sorriu novamente no final.
– Podem
leva-los rapazes! Os deixem à vontade, sim? Mas, ao primeiro sinal de revolta,
por favor, podem leva-los para o Quarto Branco.
Senti Brutus
apertar com força o meu braço, enquanto voltava-nos para a porta por onde
havíamos entrado.
Olhei
rapidamente para o rosto de meus companheiros de corrente. Medo e desespero era
o que transpassavam aqueles rostos. Estávamos lidando, sem dúvida, com um
louco. E um dos piores loucos!
Olhei para
Harry. Ele também estava com medo, mas ao perceber meu olhar, fechou a
expressão e virou a cara. Não pude acreditar! Mesmo com aquela situação louca,
a qual ELE me havia “arrastado” à ela, ele ainda achava energia e rancor para
ter raiva de mim.
Saímos da sala
e viramos à direita na primeira bifurcação do corredor. Ainda antes de sermos
postos com um empurrão em outra sala, pude ouvir o grito eufórico e raivoso de
nosso maluco raptor:
– Robim! Seu
imbecil! Sua azeitona estragada, comida de vermes! Como pôde deixar cair vinho
no meu terno novo!
CONTINUAAAA
ResponderExcluirCONTINUAAAAAAAAAAAAA
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