sábado, 15 de dezembro de 2012

Capítulo 23 -- Tudo começa a piorar...



Senti meu corpo cair no chão duro, levantando água suja pra todos os lados, e pensei que talvez tivesse fraturado algum osso, tamanho o estrondo que se fez. Ouvi, um pouco desnorteada, outros corpos caindo, mas os sons pareciam distantes.
Levantei meu corpo com muita dificuldade, constatando que eu felizmente não quebrara nada e, recuperando um pouco a consciência, processei o que havia acontecido.
O esgoto realmente ficava suspenso no alto, pelo menos no cômodo em que havíamos caído, sem nenhuma estrutura que o sustentasse devidamente. Lembrava uma tubulação, um grande e oco retângulo de alumínio que saía de algum lugar na parede e desaparecia na outra parede. Nosso peso havia feito a fina camada de alumínio se curvar até rachar. Despois nosso peso rasgara a rachadura.
De repente, senti alguém me segurando pelos dois braços e voltei minha atenção para a situação em que estávamos.
Muitos homens grandes e fortes haviam aparecido do nada e prendido não apenas os meus, mas os braços de meus companheiros.
Procurei por Brutus: ele estava estirado no chão, sendo acudido por outros brutamontes e Tvailler. Parecia estar desmaiado.
A sala em que caíramos era enorme e totalmente branca, com um piso branco tão limpo que eu podia ver meu próprio reflexo nele. Ao fundo, um equipamento estranhíssimo, com muitos fios e pedaços de metal interligados a pelo menos 20 cabines, nas quais cabia, pelo tamanho, uma pessoa de estatura mediana. Será que aquela seria a invenção de Eusébio? A que sugava os talentos dos artistas?
Harry, Taylor, Adele, Barry, Steven, os cinco sul-coreanos e Pitbull estavam assustados, presos como estavam. De repente, percebi a gravidade da situação: Nós havíamos perdido a nossa única esperança, que era escapar pelo esgoto. Agora estaríamos perdidos, nas mãos de um furiosíssimo Eusébio “Maluco” Mattoso.
E, pensando no diabo, ele realmente apareceu. Um elevador contrário à parede da estranha máquina se abriu, e Eusébio apareceu, usando... um traje não muito apropriado. Estava de roupão e chinelos, e seu cabelo estava cheio de sabão. Pela aparência e expressão de fúria, eu diria que havíamos interrompido seu banho.
– Mas o que está acontecendo aqui! – Ele bradou, sua voz muito desafinada e esganiçada alcançando um timbre que fazia doer os ouvidos. –  Será que eu não posso tomar banho em paz, sem que ele seja interrompido?! O Sr. Quack ficou muito, muito chateado com a minha saída tão grosseira do banheiro!
– Quem é senhor Quack? – Perguntou o brutamontes que segurava Adele.
– É meu patinho de borracha, idiota! – E ao som de risos do brutamontes, o rosto de Eusébio ficou vermelho de raiva e ele gritou – Calem a boca! Calem-se todos vocês! O Sr. Quack é muito sentimental, e eu também, de forma que eu posso demitir qualquer um de vocês se me deixarem bolado! E por que eles – e ele apontou para cada um de nós – estão aqui?! Robim!
Eu não percebera a presença de Robim na sala até aquele momento. Ele apareceu com sua mini altura, um tanto receoso diante do olhar de hostilidade que Eusébio lhe fazia.
– Sim, mestre?
– Por que eles estão aqui!?
– Eles tentaram fugir, mestre...
– Tentaram fugir?... – Eusébio cerrou os dentes. – E como eles fizeram isso, exatamente? – Sua voz estava cheia de cinismo. Era óbvio que ele achava que Robim era o culpado por nossa tentativa de fuga.
– Eles arrancaram o vaso sanitário do lugar e entraram no sistema de esgoto bem abaixo, aí nosso sistema de vigilância achou muito estranho todos eles estarem entrando no banheiro e quando fomos ver...
– O QUÊ?!
– Ah, desculpa, mas não foi culpa minha, eu disse pro senhor que aqueles modelos de privada eram exageradamente grandes, mas o senhor não meu deu ouvid...
– Cale-se! – E dessa vez Eusébio voltou seu rosto furioso para nós. – Quem foi o responsável pelo “plano genial”?! Eu quero saber!
Todos engolimos em seco. Eu sabia que não iria ser nada bom para mim se revelasse que tinha sido minha ideia.
Como ninguém respondeu, Eusébio ficou mais vermelho do que antes, pegou uma arma de um brutamontes ao seu lado, andou até Adele e apontou o cano do revólver na lateral de sua barriga de grávida.
– Eu quero um nome! Senão eu aponto e atiro no bebê desta mulher! Não se preocupem, eu garanto que meus médicos não deixarão ela morrer, mas o bebê certamente morrerá! E nem venham com aquela história de todos assumirem a culpa. Eu não acredito nisso. Alguém é que se achou espertinho o suficiente pra tentar passar a perna em Eusébio. Vamos, não me ouviram? Eu quero um nome!
Oh, não! Eu estava perdida! Não havia o que fazer. Eu não poderia sacrificar o bebezinho de Adele, fora o risco de ela mesma acabar morrendo! O que ele fazia era desumano. Um pesar e uma gigantesca culpa pairaram por meus ombros, pois tudo aquilo estava acontecendo por minha causa. Se não tivesse arrancado aquela privada, os artistas teriam tido seus talentos retirados, mas voltariam sãos e salvos para casa. Agora, uma vida estava em jogo!
– Um... – Eusébio começou a contar, impaciente.
Hesitei um momento. Eu não queria morrer e, se me entregasse, seria morte certa!
– Dois... – Ele puxou o gatilho, e Adele começou a chorar e a se debater. Eu também comecei a chorar...
– Trê...!
– Fui eu! – Dei um passo à frente, me desvencilhando do brutamontes que me segurava, que estava momentaneamente distraído. – Pare! Não mate o bebê! Ele não merece pagar por MEUS atos!
Ao ouvir minha resposta, seu rosto se virou para mim cheio de cólera. Ele estava possesso.
Eusébio largou a arma no chão e se encaminhou para mim. Respirei fundo enquanto ele levantava o braço e...
PLAFT!
O tapa em meu rosto foi tão forte que me derrubou no chão. Em seguida, mal tive tempo de me virar, Eusébio pulou em cima de mim, tirando o meu fôlego, e comerçou a apertar gradativamente o meu pescoço.
– Sua vagabunda! Você é um problema sério! Eu vou te matar! E vou te matar AGORA!
Minha visão já estava ficando turva e eu não lutava mais para tentar sair de seu aperto, e parecia que minha morte aconteceria do mesmo jeito que teria acontecido nas mãos de Brutus caso o esgoto não tivesse cedido a nosso peso.
– Não! – ouvi duas vozes distintas gritarem ao mesmo tempo, mas não consegui identificar de quem eram.
– Mestre! Espere! Pare! – Dessa vez foi Robim, que pulou em cima de Eusébio, fazendo com que eu perdesse de vez todo o ar.
Mas, quase perdendo a consciência, o peso saiu de cima de mim. Minha respiração eufórica captou novamente ar para meus pulmões, e minha visão voltou ao normal. Um outro homem alto, forte e armado me agarrou enquanto eu via Robim se desvencilhar de Eusébio, que tentava acertá-lo desesperadamente.
– ROBIM, SEU IMBECIL! POR QUE ME INTERROMPEU?!
– Mestre, é que... – e ele se abaixou de um soco e correu para um canto. – Achei melhor que não sujasse suas mãos para fazer esse serviço! Eu só, ai, acho que seria uma boa hora para usar a sala de água!
Eusébio, que já agarrara Robim e o levantara pelo pé, parou ao ouvir as palavras.
– Perfeito! – Falou soltando o homenzinho, que caiu com um baque quase surdo no chão. – É isso! Eu sou um gênio! A sala de água! Maravilha! – Sua voz estava delirante de felicidade. Isso me fez confirmar que ele era não apenas maluco, mas total e estranhamente bipolar. – Isso, a sala de água! Tvailler, conduza-os para a sala de água, ponha a garota lá e ative o sistema. Depois, leve os outros para a sala dos vidros! E garanta que eles não tenham nem um único conforto, ouviu?!
Tvaller assentiu, e Eusébio tinha um sorriso sarcástico no rosto enquanto se dirigia de volta ao elevador.
– Ah, mas olha, você fez com que eu me sujasse todinho de água de esgoto! Sr. Quack não vai gostar nem um pouco, ele adora tudo limpinho e cheirosinho... – falou para mim – Mas ele vai gostar de saber que você será eliminada, principalmente porque esta eliminação lhe garantirá um banho... Ai, ai... Au revoir, mademoiselle... – E sorriu enquanto as portas do elevador se fechavam, omitindo sua figura.
Fui empurrada para uma porta à esquerda do elevador, e os outros foram sendo levados comigo.
O que quer que fosse acontecer em seguida, não parecia que eu iria sair bem daquilo.


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