Senti meu corpo cair no chão duro, levantando água suja pra todos os
lados, e pensei que talvez tivesse fraturado algum osso, tamanho o estrondo que
se fez. Ouvi, um pouco desnorteada, outros corpos caindo, mas os sons pareciam
distantes.
Levantei meu corpo com muita dificuldade, constatando que eu felizmente
não quebrara nada e, recuperando um pouco a consciência, processei o que havia
acontecido.
O esgoto realmente ficava suspenso no alto, pelo menos no cômodo em que
havíamos caído, sem nenhuma estrutura que o sustentasse devidamente. Lembrava
uma tubulação, um grande e oco retângulo de alumínio que saía de algum lugar na
parede e desaparecia na outra parede. Nosso peso havia feito a fina camada de
alumínio se curvar até rachar. Despois nosso peso rasgara a rachadura.
De repente, senti alguém me segurando pelos dois braços e voltei minha
atenção para a situação em que estávamos.
Muitos homens grandes e fortes haviam aparecido do nada e prendido não
apenas os meus, mas os braços de meus companheiros.
Procurei por Brutus: ele estava estirado no chão, sendo acudido por outros
brutamontes e Tvailler. Parecia estar desmaiado.
A sala em que caíramos era enorme e totalmente branca, com um piso branco
tão limpo que eu podia ver meu próprio reflexo nele. Ao fundo, um equipamento
estranhíssimo, com muitos fios e pedaços de metal interligados a pelo menos 20
cabines, nas quais cabia, pelo tamanho, uma pessoa de estatura mediana. Será
que aquela seria a invenção de Eusébio? A que sugava os talentos dos artistas?
Harry, Taylor, Adele, Barry, Steven, os cinco sul-coreanos e Pitbull
estavam assustados, presos como estavam. De repente, percebi a gravidade da
situação: Nós havíamos perdido a nossa única esperança, que era escapar pelo
esgoto. Agora estaríamos perdidos, nas mãos de um furiosíssimo Eusébio “Maluco”
Mattoso.
E, pensando no diabo, ele realmente apareceu. Um elevador contrário à
parede da estranha máquina se abriu, e Eusébio apareceu, usando... um traje não
muito apropriado. Estava de roupão e chinelos, e seu cabelo estava cheio de
sabão. Pela aparência e expressão de fúria, eu diria que havíamos interrompido
seu banho.
– Mas o que está acontecendo aqui! – Ele bradou, sua voz muito
desafinada e esganiçada alcançando um timbre que fazia doer os ouvidos. – Será que eu não posso tomar banho em paz, sem
que ele seja interrompido?! O Sr. Quack ficou muito, muito chateado com a minha
saída tão grosseira do banheiro!
– Quem é senhor Quack? – Perguntou o brutamontes que segurava Adele.
– É meu patinho de borracha, idiota! – E ao som de risos do
brutamontes, o rosto de Eusébio ficou vermelho de raiva e ele gritou – Calem a
boca! Calem-se todos vocês! O Sr. Quack é muito sentimental, e eu também, de
forma que eu posso demitir qualquer um de vocês se me deixarem bolado! E por
que eles – e ele apontou para cada um de nós – estão aqui?! Robim!
Eu não percebera a presença de Robim na sala até aquele momento. Ele
apareceu com sua mini altura, um tanto receoso diante do olhar de hostilidade
que Eusébio lhe fazia.
– Sim, mestre?
– Por que eles estão aqui!?
– Eles tentaram fugir, mestre...
– Tentaram fugir?... – Eusébio cerrou os dentes. – E como eles fizeram
isso, exatamente? – Sua voz estava cheia de cinismo. Era óbvio que ele achava
que Robim era o culpado por nossa tentativa de fuga.
– Eles arrancaram o vaso sanitário do lugar e entraram no sistema de
esgoto bem abaixo, aí nosso sistema de vigilância achou muito estranho todos
eles estarem entrando no banheiro e quando fomos ver...
– O QUÊ?!
– Ah, desculpa, mas não foi culpa minha, eu disse pro senhor que
aqueles modelos de privada eram exageradamente grandes, mas o senhor não meu
deu ouvid...
– Cale-se! – E dessa vez Eusébio voltou seu rosto furioso para nós. –
Quem foi o responsável pelo “plano genial”?! Eu quero saber!
Todos engolimos em seco. Eu sabia que não iria ser nada bom para mim se
revelasse que tinha sido minha ideia.
Como ninguém respondeu, Eusébio ficou mais vermelho do que antes, pegou
uma arma de um brutamontes ao seu lado, andou até Adele e apontou o cano do
revólver na lateral de sua barriga de grávida.
– Eu quero um nome! Senão eu aponto e atiro no bebê desta mulher! Não
se preocupem, eu garanto que meus médicos não deixarão ela morrer, mas o bebê
certamente morrerá! E nem venham com aquela história de todos assumirem a
culpa. Eu não acredito nisso. Alguém é que se achou espertinho o suficiente pra
tentar passar a perna em Eusébio. Vamos, não me ouviram? Eu quero um nome!
Oh, não! Eu estava perdida! Não havia o que fazer. Eu não poderia sacrificar
o bebezinho de Adele, fora o risco de ela mesma acabar morrendo! O que ele
fazia era desumano. Um pesar e uma gigantesca culpa pairaram por meus ombros,
pois tudo aquilo estava acontecendo por minha causa. Se não tivesse arrancado
aquela privada, os artistas teriam tido seus talentos retirados, mas voltariam
sãos e salvos para casa. Agora, uma vida estava em jogo!
– Um... – Eusébio começou a contar, impaciente.
Hesitei um momento. Eu não queria morrer e, se me entregasse, seria
morte certa!
– Dois... – Ele puxou o gatilho, e Adele começou a chorar e a se
debater. Eu também comecei a chorar...
– Trê...!
– Fui eu! – Dei um passo à frente, me desvencilhando do brutamontes que
me segurava, que estava momentaneamente distraído. – Pare! Não mate o bebê! Ele
não merece pagar por MEUS atos!
Ao ouvir minha resposta, seu rosto se virou para mim cheio de cólera.
Ele estava possesso.
Eusébio largou a arma no chão e se encaminhou para mim. Respirei fundo
enquanto ele levantava o braço e...
PLAFT!
O tapa em meu rosto foi tão forte que me derrubou no chão. Em seguida,
mal tive tempo de me virar, Eusébio pulou em cima de mim, tirando o meu fôlego,
e comerçou a apertar gradativamente o meu pescoço.
– Sua vagabunda! Você é um problema sério! Eu vou te matar! E vou te
matar AGORA!
Minha visão já estava ficando turva e eu não lutava mais para tentar
sair de seu aperto, e parecia que minha morte aconteceria do mesmo jeito que
teria acontecido nas mãos de Brutus caso o esgoto não tivesse cedido a nosso
peso.
– Não! – ouvi duas vozes distintas gritarem ao mesmo tempo, mas não
consegui identificar de quem eram.
– Mestre! Espere! Pare! – Dessa vez foi Robim, que pulou em cima de
Eusébio, fazendo com que eu perdesse de vez todo o ar.
Mas, quase perdendo a consciência, o peso saiu de cima de mim. Minha
respiração eufórica captou novamente ar para meus pulmões, e minha visão voltou
ao normal. Um outro homem alto, forte e armado me agarrou enquanto eu via Robim
se desvencilhar de Eusébio, que tentava acertá-lo desesperadamente.
– ROBIM, SEU IMBECIL! POR QUE ME INTERROMPEU?!
– Mestre, é que... – e ele se abaixou de um soco e correu para um
canto. – Achei melhor que não sujasse suas mãos para fazer esse serviço! Eu só,
ai, acho que seria uma boa hora para usar a sala de água!
Eusébio, que já agarrara Robim e o levantara pelo pé, parou ao ouvir as
palavras.
– Perfeito! – Falou soltando o homenzinho, que caiu com um baque quase
surdo no chão. – É isso! Eu sou um gênio! A sala de água! Maravilha! – Sua voz
estava delirante de felicidade. Isso me fez confirmar que ele era não apenas
maluco, mas total e estranhamente bipolar. – Isso, a sala de água! Tvailler,
conduza-os para a sala de água, ponha a garota lá e ative o sistema. Depois,
leve os outros para a sala dos vidros! E garanta que eles não tenham nem um
único conforto, ouviu?!
Tvaller assentiu, e Eusébio tinha um sorriso sarcástico no rosto
enquanto se dirigia de volta ao elevador.
– Ah, mas olha, você fez com que eu me sujasse todinho de água de
esgoto! Sr. Quack não vai gostar nem um pouco, ele adora tudo limpinho e
cheirosinho... – falou para mim – Mas ele vai gostar de saber que você será
eliminada, principalmente porque esta eliminação lhe garantirá um banho... Ai,
ai... Au revoir, mademoiselle... – E sorriu enquanto as portas do elevador se
fechavam, omitindo sua figura.
Fui empurrada para uma porta à esquerda do elevador, e os outros foram
sendo levados comigo.
O que quer que fosse acontecer em seguida, não parecia que eu iria sair
bem daquilo.
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