Eu on.
A água já
chegava à minha cintura quando eu vi. Lá, no alto, próximo ao teto gradeado, na
mesma parede da porta, havia um espaço retangular tapado com uma tampa de
alumínio parafusada na parede.
Aquela era a
minha única chance. Se eu conseguisse abrir aquela tampa, eu provavelmente
poderia me esgueirar pelo buraco que ela escondia. Deveria ser algum espaço que
dava para a tubulação de ar, mas que fora tapado por alguém, para evitar que a
água vazasse da sala, permitindo assim que as vítimas respirassem enquanto
estivessem no alto, talvez segurando o teto gradeado, ou fugissem por ele, como
eu iria tentar fazer.
É, eu tentaria
sair por ali! Se não conseguisse, contudo, morreria. Foi assim que eu me
lembrei de pensar em como desparafusaria a tampa.
Seria um
grande problema, eu não tinha ferramenta alguma para desparafusar aquilo! Como
faria agora?!
A água já
estava chegando aos meus ombros e eu estava encharcada quando tive uma ideia.
Eu estava usando um pequenino e achatado par de brincos que – eu não ia querer
admitir isso para o Harry nem pra ninguém, mas... – o imbecil do Parker me
dera, um dos primeiros presentes que ele me mandara enquanto ele e Harry
competiam por mim no Hotel. Os brincos eram, segundo ele, de diamante. Bom,
diamantes reais são pedras muito duras, e o meu brinco tinha a forma perfeita
para encaixar no parafuso e conseguir girá-lo. A questão é... Será que ele
suportaria a pressão?
Bom, só me
restava esperar até que a água tivesse enchido a sala até quase o buraco no
alto. Eu sempre soube nadar, então não seria problema ficar boiando e nadando
até a sala encher.
Enchi os
pulmões de ar quando a água chegou ao meu nariz e rasguei a saia do meu vestido
que, além de imunda, só estava me atrapalhando, até seu comprimento ficar mais
ou menos no meu joelho. Depois, emergi e comecei a bater as pernas, acompanhando
o ritmo com que a água ia enchendo a sala.
Pareci nadar e
esperar por uma eternidade até chegar bem próxima da tampa. Batendo os pés
abaixo de mim e segurando na parte de cima da tampa. A água que caia pelo
gradeado batia forte em minha cabeça enquanto eu encaixava meu brinco no
parafuso de porte médio, devido à proximidade.
Forcei o
brinco para a esquerda com muita força e, para minha sorte, o parafuso não
estava tão apertado como deveria estar. Soltei-o com facilidade. Depois, fui
para o outro parafuso inferior e consegui fazer o mesmo, quando a água já
estava batendo quase em cima dele.
Passei para o
parafuso superior direito, apoiando todo o meu peso na tampa com meu braço direito,
pois meus pés estavam ficando cansados. Com o braço esquerdo, encaixei o brinco
no outro parafuso e girei, mas desta vez estava muito duro.
Forcei demais e o diamante soltou-se do
ornamento de ouro que o prendia à orelha, caindo na água e afundando.
Pus a mão na
outra orelha, mas o brinco não estava nela. Teria caído?!
Não! E agora?!
Fiquei estarrecida, mas precisava fazer alguma coisa. A água já chegava até a
metade da tampa, e eu respirei profundamente antes de mergulhar atrás do
diamante.
Abri meus
olhos, mas não enxerguei nada muito bem. Tudo estava embaçado e seria difícil
encontrar o diamante naquele meio, mas eu parei e olhei atentamente para o
chão. Nada, não conseguia ver nada, a não ser o pedaço azul da saia do meu
vestido que eu rasgara. Mas, em cima dela, havia algo...
Voltei à
superfície para respirar. A água já havia coberto a tampa para o buraco e minha
cabeça estava a mais ou menos um metro do teto gradeado.
Respirei mais
uma vez e mergulhei, na esperança de que o brilho que eu vira sobre o pedaço do
meu vestido fosse o diamante.
Desci muito
até chegar a ele, e meus olhos captaram a diferença. Sim! Era o diamante!
Subi e quando
minha cabeça saiu da água eu estava quase sem ar, e quase sem espaço também.
Minha cabeça estava tão próxima do teto gradeado que eu a bati nele. Respirei
com o nariz colado no espaço quadradinho do gradeado antes de me soltar e,
submersa, tentar desparafusar o resto da tampa.
Se eu
falhasse, não haveria mais tempo. Era agora, ou nunca.
Usei todas as
forças de meu ser para girar o parafuso e, lentamente, ele começou a ceder.
Porém, quando
cedeu, eu já havia perdido todo o meu ar, e não havia como desparafusar o
quarto.
Apoiei todo o
meu corpo na parte de cima da tampa... E esperei a morte.
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