quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Capítulo 27 - A última esperança



Eu on.

A água já chegava à minha cintura quando eu vi. Lá, no alto, próximo ao teto gradeado, na mesma parede da porta, havia um espaço retangular tapado com uma tampa de alumínio parafusada na parede.
Aquela era a minha única chance. Se eu conseguisse abrir aquela tampa, eu provavelmente poderia me esgueirar pelo buraco que ela escondia. Deveria ser algum espaço que dava para a tubulação de ar, mas que fora tapado por alguém, para evitar que a água vazasse da sala, permitindo assim que as vítimas respirassem enquanto estivessem no alto, talvez segurando o teto gradeado, ou fugissem por ele, como eu iria tentar fazer.
É, eu tentaria sair por ali! Se não conseguisse, contudo, morreria. Foi assim que eu me lembrei de pensar em como desparafusaria a tampa.
Seria um grande problema, eu não tinha ferramenta alguma para desparafusar aquilo! Como faria agora?!
A água já estava chegando aos meus ombros e eu estava encharcada quando tive uma ideia. Eu estava usando um pequenino e achatado par de brincos que – eu não ia querer admitir isso para o Harry nem pra ninguém, mas... – o imbecil do Parker me dera, um dos primeiros presentes que ele me mandara enquanto ele e Harry competiam por mim no Hotel. Os brincos eram, segundo ele, de diamante. Bom, diamantes reais são pedras muito duras, e o meu brinco tinha a forma perfeita para encaixar no parafuso e conseguir girá-lo. A questão é... Será que ele suportaria a pressão?
Bom, só me restava esperar até que a água tivesse enchido a sala até quase o buraco no alto. Eu sempre soube nadar, então não seria problema ficar boiando e nadando até a sala encher.
Enchi os pulmões de ar quando a água chegou ao meu nariz e rasguei a saia do meu vestido que, além de imunda, só estava me atrapalhando, até seu comprimento ficar mais ou menos no meu joelho. Depois, emergi e comecei a bater as pernas, acompanhando o ritmo com que a água ia enchendo a sala.
Pareci nadar e esperar por uma eternidade até chegar bem próxima da tampa. Batendo os pés abaixo de mim e segurando na parte de cima da tampa. A água que caia pelo gradeado batia forte em minha cabeça enquanto eu encaixava meu brinco no parafuso de porte médio, devido à proximidade.
Forcei o brinco para a esquerda com muita força e, para minha sorte, o parafuso não estava tão apertado como deveria estar. Soltei-o com facilidade. Depois, fui para o outro parafuso inferior e consegui fazer o mesmo, quando a água já estava batendo quase em cima dele.
Passei para o parafuso superior direito, apoiando todo o meu peso na tampa com meu braço direito, pois meus pés estavam ficando cansados. Com o braço esquerdo, encaixei o brinco no outro parafuso e girei, mas desta vez estava muito duro.
 Forcei demais e o diamante soltou-se do ornamento de ouro que o prendia à orelha, caindo na água e afundando.
Pus a mão na outra orelha, mas o brinco não estava nela. Teria caído?!
Não! E agora?! Fiquei estarrecida, mas precisava fazer alguma coisa. A água já chegava até a metade da tampa, e eu respirei profundamente antes de mergulhar atrás do diamante.
Abri meus olhos, mas não enxerguei nada muito bem. Tudo estava embaçado e seria difícil encontrar o diamante naquele meio, mas eu parei e olhei atentamente para o chão. Nada, não conseguia ver nada, a não ser o pedaço azul da saia do meu vestido que eu rasgara. Mas, em cima dela, havia algo...
Voltei à superfície para respirar. A água já havia coberto a tampa para o buraco e minha cabeça estava a mais ou menos um metro do teto gradeado.
Respirei mais uma vez e mergulhei, na esperança de que o brilho que eu vira sobre o pedaço do meu vestido fosse o diamante.
Desci muito até chegar a ele, e meus olhos captaram a diferença. Sim! Era o diamante!
Subi e quando minha cabeça saiu da água eu estava quase sem ar, e quase sem espaço também. Minha cabeça estava tão próxima do teto gradeado que eu a bati nele. Respirei com o nariz colado no espaço quadradinho do gradeado antes de me soltar e, submersa, tentar desparafusar o resto da tampa.
Se eu falhasse, não haveria mais tempo. Era agora, ou nunca.
Usei todas as forças de meu ser para girar o parafuso e, lentamente, ele começou a ceder.
Porém, quando cedeu, eu já havia perdido todo o meu ar, e não havia como desparafusar o quarto.
Apoiei todo o meu corpo na parte de cima da tampa... E esperei a morte.

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