sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 31 - No covil do malfeitor



Eu on.
Reparei que meu vestido já havia quase secado enquanto contornava os corredores baixos da tubulação agachada, sentindo uma forte sensação de claustrofobia à medida que me embrenhava cada vez mais em seu interior. Um pensamento me ocorreu: Será que eu estava andando em círculos? Ou pior... Poderia estar indo a lugar nenhum? Quem me garantiria que haveria uma passagem para outras áreas?
Não, tinha de haver! O ar circulava por algum lugar nas salas, então tinham que ter aberturas para ele passar. Devo ter ficado uns dez minutos ziguezagueando pelos inúmeros corredores até chegar finalmente a uma outra tampa de metal, que desta vez era gradeada e estava no mesmo nível que meus joelhos, ou seja, no chão.
Espiei pelos orifícios quadrados para baixo, e o que vi... Bom, o que vi não deveria ter sido visto por mais ninguém nesta terra...
Era o banheiro de Eusébio. Era todo branco e bem limpinho, e exatamente abaixo de minha cabeça se encontrava sua banheira, onde, você já deve ter imaginado, ele estava tomando banho.
Fiquei aliviada pela água estar repleta de uma espessa espuma. À frente de Eusébio, estava seu patinho de borracha, aquele ao qual ele se referira como Sr. Quack.
– Ah, Sr. Quack, este banho estava ótimo, não é? – Ele disse se levantando da banheira. Quando fez isso, imediatamente virei o rosto. Eu com certeza não iria querer ver aquilo.
Meus ouvidos, contudo, continuaram aguçados, e eu ouvi Eusébio pegar uma toalha, falar mais uma vez com Sr. Quack e bater uma porta enquanto cantava uma música mais ou menos assim:
“Eu tava na cozinha, fritando ovo de galinha...”...
Tá, se esse homem por algum milagre fosse preso um dia e eu estivesse viva, mandaria para a polícia uma recomendação urgente de tratamento em um psicólogo para ele, ou melhor, em um hospício. Ele, inegavelmente, tinha problemas...
Esperei por volta de um minuto para espiar o banheiro novamente. Eu ainda ouvia a voz dele, mas era um ruído abafado que vinha de outro cômodo além de uma porta.
Ele provavelmente tinha ido de seu banheiro a seu quarto.
Pensei um pouco. Eu não queria ter de passar pelo quarto do próprio Eusébio, mas aquela me parecia a saída mais rápida para tentar ajudar Harry. Eu não sabia quanto tempo ele e os outros artistas ainda teriam antes de terem seus talentos tirados de si para sempre.
Por isso, forcei a tampa para cima – o que foi bem fácil, pois ela estava apenas encaixada, para minha sorte, e me pendurei no teto, me balançando até conseguir ângulo para saltar ao lado da banheira.
Fiz isso, mas meu coração saiu da boca quando eu encostei os pés no chão, pois a voz de Eusébio se aproximava.
A porta ficava bem à frente da banheira, por isso não tive opção senão encolher meu corpo junto à parte oposta a ela.
E fiz isso bem a tempo.
Dois segundos depois a porta se abriu e Eusébio entrou, passando pela frente da banheira até a pia. De onde eu estava, conseguia ver suas costas nuas e a toalha presa em sua cintura. Ele entrou cantando outra música, algo como:
“Eu tenho chifre de mulher, mas eu sou homem...” – Sem brincadeira, ele precisava urgentemente de um médico.
Aproveitei sua distração para ir me afastando pela lateral da banheira. Por sorte ele não me viu, e virou de costas para a porta, rumo ao mictório (para quem não sabe, mictório é o nome daquela privada especial feita apenas para homens fazerem xixi, ok?)
Aproveitei imediatamente a deixa e, sem fazer nenhum ruído, corri para o outro cômodo, passando pela porta que ele deixara aberta.
O outro cômodo era o quarto dele. Havia no centro da parede à minha esquerda uma cama de casal fenomenal e arrumadíssima, e a roupa de cama era em cetim roxo. Também à minha esquerda, um guarda roupa embutido muito grande, entalhado em mogno.
À minha direita, uma TV de tela plana extraordinariamente gigantesca, uma poltrona e uma porta, que imaginei que fosse a saída do aposento. Para além da cama, na parede oposta a da porta do banheiro, havia um balcão que dividia o quarto de uma cozinha e sala também bastante amplas.
Eu não conseguiria me esconder na sala ou na cozinha a tempo, por isso, corri para baixo da cama quando ouvi o barulho da descarga.
Rolei para debaixo do colchão, e ouvi e senti os passos de Eusébio logo em seguida. Ele passou pela cama em direção à cozinha, e então eu respirei um pouco, percebendo que prendera o fôlego de tanta tensão.
Mas meu alívio durou muito pouco, porque logo ouvi um barulho à minha esquerda, bem próximo de mim, que fez congelarem todas as fibras de meu ser, da cabeça aos pés.

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