Eu on.
Reparei que
meu vestido já havia quase secado enquanto contornava os corredores baixos da
tubulação agachada, sentindo uma forte sensação de claustrofobia à medida que
me embrenhava cada vez mais em seu interior. Um pensamento me ocorreu: Será que
eu estava andando em círculos? Ou pior... Poderia estar indo a lugar nenhum?
Quem me garantiria que haveria uma passagem para outras áreas?
Não, tinha de
haver! O ar circulava por algum lugar nas salas, então tinham que ter aberturas
para ele passar. Devo ter ficado uns dez minutos ziguezagueando pelos inúmeros
corredores até chegar finalmente a uma outra tampa de metal, que desta vez era
gradeada e estava no mesmo nível que meus joelhos, ou seja, no chão.
Espiei pelos
orifícios quadrados para baixo, e o que vi... Bom, o que vi não deveria ter
sido visto por mais ninguém nesta terra...
Era o banheiro
de Eusébio. Era todo branco e bem limpinho, e exatamente abaixo de minha cabeça
se encontrava sua banheira, onde, você já deve ter imaginado, ele estava
tomando banho.
Fiquei
aliviada pela água estar repleta de uma espessa espuma. À frente de Eusébio,
estava seu patinho de borracha, aquele ao qual ele se referira como Sr. Quack.
– Ah, Sr.
Quack, este banho estava ótimo, não é? – Ele disse se levantando da banheira.
Quando fez isso, imediatamente virei o rosto. Eu com certeza não iria querer ver
aquilo.
Meus ouvidos,
contudo, continuaram aguçados, e eu ouvi Eusébio pegar uma toalha, falar mais
uma vez com Sr. Quack e bater uma porta enquanto cantava uma música mais ou
menos assim:
“Eu tava na
cozinha, fritando ovo de galinha...”...
Tá, se esse
homem por algum milagre fosse preso um dia e eu estivesse viva, mandaria para a
polícia uma recomendação urgente de tratamento em um psicólogo para ele, ou
melhor, em um hospício. Ele, inegavelmente, tinha problemas...
Esperei por
volta de um minuto para espiar o banheiro novamente. Eu ainda ouvia a voz dele,
mas era um ruído abafado que vinha de outro cômodo além de uma porta.
Ele provavelmente
tinha ido de seu banheiro a seu quarto.
Pensei um
pouco. Eu não queria ter de passar pelo quarto do próprio Eusébio, mas aquela
me parecia a saída mais rápida para tentar ajudar Harry. Eu não sabia quanto
tempo ele e os outros artistas ainda teriam antes de terem seus talentos
tirados de si para sempre.
Por isso,
forcei a tampa para cima – o que foi bem fácil, pois ela estava apenas
encaixada, para minha sorte, e me pendurei no teto, me balançando até conseguir
ângulo para saltar ao lado da banheira.
Fiz isso, mas
meu coração saiu da boca quando eu encostei os pés no chão, pois a voz de
Eusébio se aproximava.
A porta ficava
bem à frente da banheira, por isso não tive opção senão encolher meu corpo
junto à parte oposta a ela.
E fiz isso bem
a tempo.
Dois segundos
depois a porta se abriu e Eusébio entrou, passando pela frente da banheira até
a pia. De onde eu estava, conseguia ver suas costas nuas e a toalha presa em
sua cintura. Ele entrou cantando outra música, algo como:
“Eu tenho
chifre de mulher, mas eu sou homem...” – Sem brincadeira, ele precisava
urgentemente de um médico.
Aproveitei sua
distração para ir me afastando pela lateral da banheira. Por sorte ele não me
viu, e virou de costas para a porta, rumo ao mictório (para quem não sabe,
mictório é o nome daquela privada especial feita apenas para homens fazerem xixi,
ok?)
Aproveitei
imediatamente a deixa e, sem fazer nenhum ruído, corri para o outro cômodo,
passando pela porta que ele deixara aberta.
O outro cômodo
era o quarto dele. Havia no centro da parede à minha esquerda uma cama de casal
fenomenal e arrumadíssima, e a roupa de cama era em cetim roxo. Também à minha
esquerda, um guarda roupa embutido muito grande, entalhado em mogno.
À minha
direita, uma TV de tela plana extraordinariamente gigantesca, uma poltrona e
uma porta, que imaginei que fosse a saída do aposento. Para além da cama, na
parede oposta a da porta do banheiro, havia um balcão que dividia o quarto de
uma cozinha e sala também bastante amplas.
Eu não
conseguiria me esconder na sala ou na cozinha a tempo, por isso, corri para baixo
da cama quando ouvi o barulho da descarga.
Rolei para
debaixo do colchão, e ouvi e senti os passos de Eusébio logo em seguida. Ele
passou pela cama em direção à cozinha, e então eu respirei um pouco, percebendo
que prendera o fôlego de tanta tensão.
Mas meu alívio
durou muito pouco, porque logo ouvi um barulho à minha esquerda, bem próximo de
mim, que fez congelarem todas as fibras de meu ser, da cabeça aos pés.
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