sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 34 - Gato e rato



Eu on.
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...
O barulho que me fez congelar eccou novamente em meus ouvidos.
Virei muito lentamente minha cabeça e constatei a presença de um gato. Era um gato muito branco, por isso consegui enxerga-lo no escuro. Ele arreganhava os dentes e mostrava as afiadas unhas para mim, seu pelos e rabo eriçados.
Continuou fazendo o barulho.
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr...
Mordi a língua e cruzei os dedos, enquanto ele rosnava mais uma vez para mim. E, como se não bastasse a ameaça do gato, ouvi muito próxima a voz de Eusébio.
– Napoleão, é você rapaz? Que está havendo? Por que está rosnando? Onde você está? Embaixo da cama de novo?
Vi por baixo da colcha que cobria a cama a sombra dos pés de Eusébio, se abaixando para erguer a barra da colcha e verificar o que estava acontecendo. Ele estava levantando a barra do outro lado, do lado onde estava o gato, e automaticamente eu rolei para fora de meu esconderijo e corri muito silenciosamente para trás da poltrona na parede à direita.
Escutei o roçar de seus braços no carpete e os ganidos do gato em seu colo, que se debatia.
– Napoleão, sei que está tentando dominar a Europa, mas não precisa fingir que o inimigo está embaixo da cama, espreitando o tempo todo, seu gato maluco...
Pensei se era o gato o mais maluco naquele quarto. Eu com certeza não concordava com aquela opinião.
- Venha, deite na poltrona, eu sei que você gosta muito dela, e trate de sossegar. Amanhã teremos muito o que comemorar meu amigo.
Me encolhi ainda mais enquanto sentia sua aproximação à poltrona, e prendi a respiração quando ele colocou o gato em cima dela, a centímetros de minha cabeça.
Depois ele saiu e apagou a luz do aposento, retornando à cozinha. Ouvi o barulho da geladeira e depois seus passos indo para a sala.
Napoleão levantou-se da cadeira e pulou no chão. Ouvi seu nariz roçando no carpete. Ele voltou até a cama e depois começou a se encaminhar de volta para a poltrona, mas eu sentia que não era para voltar a se deitar nela.
Precisava pensar, e rápido. Não tinha nada que eu pudesse fazer para escapar.
No escuro, virei-me e senti uma coisa redonda e dura bater em minha perna. Tateei por ela no chão e a encontrei. Era uma bolinha, e deveria pertencer a Napoleão.
Se pensar duas vezes, empurrei a poltrona com violência para frente com meus pés e joguei a bolinha para o corredor que dava passagem do quarto à cozinha e à sala.
Consegui o efeito esperado.
O gato seguiu a bolinha, com seu instinto predador. Devido ao empurrão que eu dera na poltrona, o que aguçou sua mente, ele seguiu o primeiro movimento que viu.
Levantei-me num ímpeto e, ainda no escuro, abri uma das portas do guarda-roupa e a fechei, me aninhando em seu interior o mais encolhida que pude. Senti vários casacos cobrindo quase totalmente o meu corpo, o que me deixou com uma maior sensação de segurança. Para melhorar, estava sentada sobre algo alto e macio. Eram cobertores. Para me sentir ainda mais segura, levantei o primeiro e me encolhi embaixo dele. Estava frio e eu me senti tanto mais segura como mais quente.
Ouvi, dentro de instantes, Eusébio nervoso, acendendo a luz do quarto, brigando com Napoleão:
– Gato mau, muito mau! Ora! O que você fez na poltrona seu animal?! Como conseguiu isso? Ah, não importa, você já fez muita arte por hoje! Devolve essa bolinha agora. Isso, trate mesmo de subir nesta cama, seu gato maluco, estúpido e ignóbil! Hunf!
Ouvi Eusébio colocar alguma coisa na cama, que pensei ser o gato. Depois, congelei novamente. Ouvi Eusébio abrir uma porta do armário, muito perto de mim.
– Onde está meu pijama? – Ouvi a voz abafada dele.
Mais uma vez o barulho de porta se abrindo e se fechando. E mais uma. Percebi que a minha porta era a próxima.
Havia cruzado os dedos e já estava sentindo o vento do lado de fora do armário entrar no interior do guarda-roupa quando...
– É mesmo! Os pijamas estão na sexta porta! – escutei-o dizer, enquanto ele fechava a porta e, a duas portas de mim, calculei, ele encontrou os pijamas.
Respirei aliviada.
Ele já devia ter colocado o pijama, e deduzi que seus passos estavam indo em direção ao interruptor de luz, o que concluí ser verdade, pois logo elas se apagaram.
Escutei com uma sensação de felicidade imensa ele levantar sua colcha de cetim e recostar-se nos travesseiros.
– Vamos ver TV Napoleão? – Ele disse, mas eu não ouvi o barulho de aparelho algum sendo ligado.
Em vez disso...
– Nossa, como está frio! Vou pegar uma coberta para nós rapaz! – Ele se levantou da cama e seus passos caminharam em direção ao guarda-roupa novamente.
Ah, não! Agora não haveria escapatória. Eu sabia que ele estava indo até a porta onde eu estava escondida, e quando pegasse o primeiro cobertor, aquele sob o qual eu me encontrava, eu seria desmascarada.
Tentava desesperadamente pensar em alguma coisa quando senti o frio inundar o interior do armário novamente, e uma mão segurar a borda da coberta, a centímetros de meu braço.
Mas, o que veio em seguida, nem eu nem Eusébio esperávamos.
Um som alto e ensurdecedor irrompeu pelo quarto, fazendo meus tímpanos vibrarem fortemente.
Senti Eusébio soltar a colcha e sair correndo porta afora, seguido por Napoleão.
Ouvi vários passos pelo mesmo corredor e, quando eles pareceram silenciar, uns dois minutos depois, tirei o cobertor e vi pela porta do armário aberta a porta do quarto, também aberta, que dava para um corredor.
Não hesitei e saí correndo para ela.
Antes de sair para o corredor, espiei. Tudo estava muito quieto e o corredor estava vazio.
Pelo som dos passos, eles, Eusébio e provavelmente seus guardas, haviam ido para a direita.
Por isso, eu fui pela esquerda.

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