domingo, 6 de janeiro de 2013

Capítulo 44 - A invenção de Eusébio



Eu on.

                Passei por vários corredores até chegar a uma entrada aberta, que dava para um grande salão. À minha direita, havia um elevador e, à minha esquerda, algumas máquinas estranhas.
                Lembrei-me de repente que eu já estivera ali antes. Aquele era o lugar no qual nós tínhamos caído depois que o chão da fossa cedera ao nosso peso.
                As máquinas estranhas eram as máquinas que eu supunha ser a invenção de Eusébio. À minha frente, paralela à porta na qual eu estava, havia a porta pela qual eu saíra quando fui conduzida até a sala de água.
                Antes de entrar totalmente no salão, espiei para dentro. O chão com água podre da fossa já fora limpo, e estava tão branco quanto o resto do salão. Não havia ninguém lá, exceto Robim, mas ele estava sentado em uma cadeira com os pés apoiados numa mesa, sua boca estava aberta e baba escorria pelo seu queixo. Dormia, obviamente.
                Entrei na ponta dos pés. Robim continuou dormindo, e meu objetivo era sair pela outra porta, para procurar alguma saída, quando vi um vulto que me fez estremecer.
                Era Napoleão, o gato.
                Ele vinha pela porta até onde eu queria ir, e se aproximava despreocupadamente. Sei que era apenas um gato, mas se ele me visse e reconhecesse meu cheiro do quarto de Eusébio, poderia acordar Robim, que mandaria chamar os guardas.
                Por isso, corri em direção às estranhas máquinas e me escondi atrás delas, me embrenhando por uma série de fios, alguns muito finos, e outros muito grossos. E ainda bem que fiz isso, pois logo em seguida, atrás de Napoleão, eu vi entrarem vários homens.
                Espiando por uma pequena fresta entre as máquinas, pude ver por volta de noventa homens entrando e os últimos traziam consigo Harry, MinHo, Onew, Jonghyun, Taemin e Pitbull. Parecia que toda a esquadrilha de Eusébio estava naquela sala.
                Mas que droga! Eles haviam sido pegos! Fiquei realmente chateada, isso realmente complicava as coisas. Mas... Onde estariam os outros?
                Um grandalhão que reconheci como sendo Tvailler foi até a mesa onde Robim estava dormindo e chutou a cadeira dele, fazendo com que se espatifasse no chão. Ele logo acordou e, quando percebeu que havia perdido um dente na queda, começou a chorar. Tvailler, com um sorriso amarelado, riu e disse:
                – Vá chamar seu tio, inútil! – Robim se levantou, ainda chorando, correu para o elevador, chamou-o, apertou alguns botões e partiu. Então Robim era sobrinho de Eusébio?! Fiquei com pena dele, pois ninguém deveria ser tratado daquele modo pelo próprio tio.
                Os brutamontes que lá se encontravam se recostaram pelos cantos, com exceção dos que seguravam os rapazes.
                Imaginei que Eusébio não contara não contaria que eu havia fugido. Era perigoso demais dar esperanças aos também fugitivos. A minha vontade era sair dali e mostrar a Harry que eu estava viva. Queria que ele me dissesse as coisas que eu não ouvira quando estava na sala de água, presa. Queria salvar a todos, mas se as chances de salvar a todos já se reduziam com eles presos, imagine como comigo presa também. Não, eu tinha de ser forte e continuar lá, até achar uma brecha.
                 Tentava colocar os pensamentos em ordem e buscar uma resolução para nosso problema quando a porta do elevador se abriu e saíram de lá Eusébio e Robim.
                Eusébio sorriu. Ele usava um roupão de cetim roxo com um paninho vermelho num bolso à altura do peito. O roupão era, na verdade, a coisa mais elegante que ele estava usando, pois por baixo dele eu conseguia ver um pouco da estampa do que eu pensei ser seu pijama. Eram milhares de patinhos como o Sr. Quack, em cima de um pano cor-de-rosa, e as pantufas que usava também eram de patinho. Em sua cabeça, uma touca cor de rosa pontuda, com uma bolinha frufru bem branquinha na ponta, que fazia com que a touca se curvasse sob seu peso.
                Quando Eusébio percebeu as risadas dos brutamontes, perguntou enraivecido:
                – Do que estão rindo, hein?!
                Como ninguém respondeu, ele agarrou Robim pelo colarinho e ergueu-o até ficarem cara-a-cara.
                – Robim, DO QUE ELES ESTÃO RINDO?!
                Robim engoliu em seco antes de responder.
                – Da sua toquinha, senhor.
                Eusébio largou-o no chão, tirou sua toquinha e arremessou-a para longe.
                – CHEGA! ERA DISSO QUE VOCÊS ESTAVAM RINDO NA SALA DAS CÂMERAS TAMBÉM, É? – Berrou, e todos pararam de rir automaticamente. – Vamos ao que interessa! Vejo que encontraram os nossos fugitivos... – Ele sorriu, caminhando e encarando um por um. – Mas, se minhas contas estão corretas, estão faltando alguns...
                – Os outros não estavam com eles, mestre. Os encontramos sozinhos.
                – Vocês não os viram pelas câmeras de segurança?!
                – Pararam de nos transferir coordenadas, mestre. Achamos estes aqui por puro acaso.
                – Então, vocês, vão procurar o resto imediatamente! E chequem o que houve na sala de câmeras! – Ele ordenou aos brutamontes que estavam quietos nos cantos. Estes obedeceram e pelo menos setenta deles saíram, ficando por volta de vinte homens na sala.
                – O que vou fazer com vocês, hein? – Eusébio coçou o queixo e acariciou-o como se nele existisse uma enorme barba. – Bom, acho que vocês já causaram problemas demais. Acabei de decidir roubar o talento de vocês agora mesmo! Depois, vou mata-los. E aí faço o mesmo com os outros quando forem encontrados.
                – Mas o senhor disse que não ia matar a gente! – Agonizou, desesperado, Taemin.
                – É, mas eu mudei de ideia desde o momento que vocês vivos tem me causado muitos problemas. Pois é, o seguro morreu de velho, e precisamos nos garantir nos dias de hoje.
                Com um sinal de Eusébio, os brutamontes começaram a se aproximar das máquinas atrás das quais eu estava escondida.
                Meu coração quase saiu pela boca quando ele disse isso! Não! Tudo que havíamos lutado seria em vão?! Eles teriam seus talentos retirados de si?! Não, eu não podia permitir.
Parei de espiar pela fresta e me concentrei. O que eu podia fazer? Só havia uma coisa!
Milhares de fios se emaranhavam à minha volta, e eu comecei a puxar os mais finos. Depois, um ou outro mais grosso que eu conseguia arrancar de suas bases nas máquinas.
Parei quando ouvi as portas de vidro das máquinas se abrirem atrás de mim, e os rapazes serem colocados nelas.
Incapaz de me mexer, esperei, apenas escutando, rezando para que os vários fios que eu tivesse puxado fizessem a diferença.


Louis on.

Contornamos vários corredores, a maioria deserta, sem encontrar uma única porta ou sala. Aquilo parecia um labirinto, e eu estava começando a me sentir incomodado. Não era o único. Niall parecia estar com uma sensação de claustrofobia maior que a minha.
Subimos duas escadas antes de passarmos por uma porta de metal, de onde vinha um bom cheiro de comida. Parecia que alguém estava cozinhando carne assada com batatas. Iríamos ignorar a porta, para passar despercebidos, mas Niall atrapalhou tudo com seu apetite e sua obsessão por batatas. Em um segundo ele estava ao nosso lado; no outro, antes que tivéssemos chances de fazer alguma coisa, ele já estava passando pela porta, que estava destrancada.
– Não Niall! – sussurrou Liam, mas já era tarde.
Corremos ao seu socorro, C e E apontando as armas que carregavam, e eu, Zayn e Liam, as pequenas armas de choque que elas nos deram caso precisássemos nos defender.
Porém, encontramos algo totalmente inesperado. Estavam na sala duas senhoras velhinhas, uma garota bem jovem que segurava um bebê, Adele, Barry Gibb, Steven Tyler, um carinha de olhos puxados e roupas extravagantes e Taylor Swift.
– AIMEUDEUSDOCÉU! – Berrou Zayn, do meu lado. – Steven, me dá um autógrafo?!
– AIMEUDEUSDOCÉU! – Era a garota segurando o bebê. – É o Liam Payne?! Da 1D!
– Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! – Fizeram C e E ao mesmo tempo.
Elas duas se entreolharam quando Zayn e a garota se acalmaram, e E falou:
– Muito bem... Acho que vocês tem uma longa história para nos contar...
Barry Gibb se aproximou – depois de dar uma estranha olhada para Niall, que estava com a cara enfiada numa panela – e abriu a boca para começar a contar.


Narrador observador on.

Os brutamontes abriram as cabines das máquinas e colocaram os rapazes lá dentro, prendendo seus punhos em pulseiras de metal, para evitar que se mexessem. Depois, puseram um capacete com vários fios ligados a ele em suas cabeças.
O próprio Eusébio entrou em uma dessas cabines e fez o mesmo consigo, assentindo para Robim.
Ao sinal de seu mestre, Robim correu até um pequeno painel ao lado das máquinas e começou a apertar uma série de botões, programando a máquina.
Em seguida, apertou um grande botão amarelo, e um barulho forte e crescente, típico de máquinas em funcionamento ou sendo ligadas ecoou pelo salão.
As máquinas emitiram uma luz forte dentro das cabines, e o som que produziam já estava tão alto que parecia ensurdecedor.
Ninguém podia ver devido à claridade que ofuscava, mas, dentro das cabines, os verdadeiros artistas estavam chorando de tristeza e desespero. A música era TUDO para eles. Seria o fim de suas carreiras e, como Eusébio pretendia mata-los, o fim de suas vidas também.
Robim, então, repentinamente, puxou uma alavanca no painel de controle das máquinas, e a luz que elas emitiam foi sumindo gradativamente, assim como seu barulho.
Quando finalmente tudo silenciou e voltou a sua claridade normal, os brutamontes retiraram os artistas, e logo em seguida, Eusébio.
Eusébio estalou os dedos e mexeu as mãos diante de todos, inclusive diante dos artistas. Ele se sentia diferente, uma nova pessoa. Tinha confiança em si mesmo, e seu olhar era um misto de orgulho e êxtase.
Harry e os outros choravam, tristes. O salão estava mergulhado em um silêncio ensurdecedor e, mesmo assim, também parecia vibrar de expectativa.
Eusébio abriu a boca, e tudo, tudo pareceu transcorrer mais lentamente, até ele pronunciar a primeira palavra:
Somewhere over the rainbow...
O que aconteceu foi totalmente inesperado. A voz de Eusébio saiu mais horrível do que uma gralha engasgada morrendo sufocada. Era tenebroso ouvir sua voz.
Ele tentou mais uma vez:
Hallelujah, hallelujah...
Igualmente péssimo. Os ouvidos de todos pareciam estar ardendo. Ele tentou dançar, e ainda cantou mais um pedaço de outra música:
Eu tinha, uma galinha, que se chamava Mery Loo...
Não, nada, e seu modo de dançar era igualmente ruim. Ele arregalou os olhos de tanto desespero e raiva.
– NÃO FUNCIONOU! – Gritou. – NÃO FUNCIONOU! Por que não funcionou! Você! – Ele se dirigiu até Harry e segurou-o pelo colarinho. – Cante!
Como Harry não abriu a boca, apenas arregalando os olhos, assustado, como resposta, Eusébio bradou novamente:
– CANTE!
Harry engoliu em seco e começou a cantar:
Who do you think you are? Who do you think I am? You only loved to see me breaking, you only want me ‘cos I’m taken…
A voz de Harry saiu rouca, bela e melodiosa como sempre. Os olhos de Eusébio se arregalaram ainda mais, e ele começou a ficar vermelho. Estava tão nervoso que não emitia nenhum som, mas se contorcia estranhamente. Parecia que ia explodir a qualquer segundo.
– ROBIM! – Aquele grito pareceu a explosão que anuncia a erupção de um vulcão. – O QUE VOCÊ FEZ DE ERRADO?!
Robim se encolheu todo enquanto Eusébio caminhava para ele. O olhar de um louco.
Ele era um louco.


Eu on.

                Eu tive de me conter para não gritar de felicidade quando vi que as vozes dos garotos não tinham sido roubadas. Eusébio falhara.
                Fiquei contente por um momento – na medida que é possível ficar contente quando se está presa em um lugar como aquele – e orgulhei-me de ter mexido nos fios. Aparentemente, aquilo havia dado certo.
                Eu espiava Eusébio se dirigindo furioso ao pobre Robim quando senti.
                Algo frio encostou-se a meu ombro, e não me fez apenas estremecer, mas congelar até os miolos.
                Uma mão. Uma mão bem grande.
                Virei-me muito devagar para ver a quem ela pertencia. E não pude acreditar quando vi.
                – Olá... – A voz da pessoa a quem pertencia a mão ressoou em meus ouvidos.
                Fiquei com tanto medo que era incapaz de me mexer.


Louis on.

                – Não, Sr. Tomlinson, pela última vez: você vai ficar aqui com essas pessoas, enquanto eu e C vamos procurar os outros e a saída! – Falou E, categórica.
                Emburrei. Eu queria ir salvar meu melhor amigo. Não queria ficar ali esperando, impaciente, sem saber o que acontecia, enquanto elas faziam o trabalho. Eu simplesmente não aguentaria.
                – Mantenham-no aqui! – C falou para todos na cozinha. – A todo e qualquer custo. Não o deixem sair.
                Fechei a cara. Barry tinha contado a história para nós, e tudo pareceu horrível e diabólico demais. Eu estava triste, e também sentia por Harry, por que sabia que ele havia perdido a “Dama do Elevador” – não que não sentiria falta dela, mas vocês entendem, Harry sentiria BEM mais do que eu –, e queria ir vê-lo, salvá-lo, ajuda-lo, ampará-lo, oferecer um ombro amigo depois de momentos de tortura.
                Mas não. Não iam me deixar sair.
                C e E deixaram a cozinha rumo ao corredor, e ficamos sozinhos novamente.
                Bom, elas sabiam que eu não ia ficar parado, então...
                – Tchau gente, até logo... Tô indo. – Falei, acenando para todos.
                Estava já empurrando a porta quando Liam agarrou meu braço e me puxou de volta.
                – Você as ouviu Louis! Não é para você ir! Você já nos meteu em muitas confusões. Vai ficar aqui conosco. Não vamos te deixar sair.
                – Ah, é? Quem garante? – Repliquei para Liam.
                – Só por cima do meu cadáver! – Ele retrucou.
                – Tá bom. – Falei. Em seguida, com um movimento muito ninja, peguei minha arma de choque, que C e E haviam deixado para que nos defendêssemos caso alguma coisa acontecesse, e usei-a em Liam.
                Ele caiu no chão, e senti um pouco de pena no início, mas ele não estava morto, apenas desacordado.
                Eloisa – que eu descobrira que era o nome da moça que estava segurando o bebê – entregou a criança em seu colo a uma das senhoras presentes e correu a ampará-lo. Todos agora olhavam para mim, assustados.
                – Alguém vai arriscar ser o próximo? – Indaguei, em tom de ameaça.
                Ninguém respondeu, por isso, tirei a atitude como um sonoro NÃO.
                Saí pela porta em direção ao corredor, e ninguém foi atrás de mim.
                Ninguém mais poderia me impedir.
                Não naquele momento.
                Mesmo sozinho, eu não sentia medo. Apenas determinação.
                Eu estava indo salvar meu amigo.


Harry on.

                Eusébio largou meu colarinho, e eu mal respirava de tanto medo. Não havia tempo para me sentir feliz por não ter perdido a minha voz, pois meu destino era tão incerto quanto a existência de magia.
                Vi Eusébio se dirigir furioso a Robim.
                – ROBIM! O QUE VOCÊ FEZ DE ERRADO?! – Eusébio pegou Robim pelo colarinho novamente, erguendo-o até os olhos deles ficarem frente a frente.
                Porém, Robim não teve oportunidade de responder, pois aconteceu uma coisa ninguém estava esperando.
                Uma voz, saída de trás das máquinas, ribombou pelo salão, forte e potente:
                – Ele não fez nada! – Foi o que ouvimos.
                Eusébio largou Robim no chão e, com uma expressão de surpresa, fúria e loucura nos olhos, falou irritado:
                – Quem está aí atrás?! Apareça!
                Ouvimos passos e um barulho estranho, como algo sendo arrastado. De repente, pude ver uma sombra grande se projetando cada vez mais para frente, saindo pela lateral esquerda das máquinas.
                Quando ela se revelou por inteiro, meu queixo caiu.
                – Sou apenas eu, mestre! – Brutus disse, sorrindo com seus dentes amarelos e podres. Sua careca parecia resplandecer à luminosidade do salão. – Acho que encontrei uma coisinha que o senhor procurava.
                Em seus braços, presa em um forte aperto, mas ainda assim se debatendo com dificuldade, estava ela.
                Meu coração começou a bater a mil por hora quando a vi.
                Ela estava ali.
                Viva.
               

Um comentário:

  1. *__________* mais!!! Garota vc tem muita criatividade parabens!

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