Eu on.
Passei
por vários corredores até chegar a uma entrada aberta, que dava para um grande
salão. À minha direita, havia um elevador e, à minha esquerda, algumas máquinas
estranhas.
Lembrei-me
de repente que eu já estivera ali antes. Aquele era o lugar no qual nós
tínhamos caído depois que o chão da fossa cedera ao nosso peso.
As
máquinas estranhas eram as máquinas que eu supunha ser a invenção de Eusébio. À
minha frente, paralela à porta na qual eu estava, havia a porta pela qual eu
saíra quando fui conduzida até a sala de água.
Antes
de entrar totalmente no salão, espiei para dentro. O chão com água podre da
fossa já fora limpo, e estava tão branco quanto o resto do salão. Não havia
ninguém lá, exceto Robim, mas ele estava sentado em uma cadeira com os pés
apoiados numa mesa, sua boca estava aberta e baba escorria pelo seu queixo.
Dormia, obviamente.
Entrei
na ponta dos pés. Robim continuou dormindo, e meu objetivo era sair pela outra
porta, para procurar alguma saída, quando vi um vulto que me fez estremecer.
Era
Napoleão, o gato.
Ele
vinha pela porta até onde eu queria ir, e se aproximava despreocupadamente. Sei
que era apenas um gato, mas se ele me visse e reconhecesse meu cheiro do quarto
de Eusébio, poderia acordar Robim, que mandaria chamar os guardas.
Por
isso, corri em direção às estranhas máquinas e me escondi atrás delas, me
embrenhando por uma série de fios, alguns muito finos, e outros muito grossos.
E ainda bem que fiz isso, pois logo em seguida, atrás de Napoleão, eu vi
entrarem vários homens.
Espiando
por uma pequena fresta entre as máquinas, pude ver por volta de noventa homens
entrando e os últimos traziam consigo Harry, MinHo, Onew, Jonghyun, Taemin e
Pitbull. Parecia que toda a esquadrilha de Eusébio estava naquela sala.
Mas
que droga! Eles haviam sido pegos! Fiquei realmente chateada, isso realmente
complicava as coisas. Mas... Onde estariam os outros?
Um
grandalhão que reconheci como sendo Tvailler foi até a mesa onde Robim estava
dormindo e chutou a cadeira dele, fazendo com que se espatifasse no chão. Ele
logo acordou e, quando percebeu que havia perdido um dente na queda, começou a
chorar. Tvailler, com um sorriso amarelado, riu e disse:
–
Vá chamar seu tio, inútil! – Robim se levantou, ainda chorando, correu para o
elevador, chamou-o, apertou alguns botões e partiu. Então Robim era sobrinho de
Eusébio?! Fiquei com pena dele, pois ninguém deveria ser tratado daquele modo
pelo próprio tio.
Os
brutamontes que lá se encontravam se recostaram pelos cantos, com exceção dos que
seguravam os rapazes.
Imaginei
que Eusébio não contara não contaria que eu havia fugido. Era perigoso demais
dar esperanças aos também fugitivos. A minha vontade era sair dali e mostrar a
Harry que eu estava viva. Queria que ele me dissesse as coisas que eu não
ouvira quando estava na sala de água, presa. Queria salvar a todos, mas se as
chances de salvar a todos já se reduziam com eles presos, imagine como comigo
presa também. Não, eu tinha de ser forte e continuar lá, até achar uma brecha.
Tentava colocar os pensamentos em ordem e
buscar uma resolução para nosso problema quando a porta do elevador se abriu e
saíram de lá Eusébio e Robim.
Eusébio
sorriu. Ele usava um roupão de cetim roxo com um paninho vermelho num bolso à
altura do peito. O roupão era, na verdade, a coisa mais elegante que ele estava
usando, pois por baixo dele eu conseguia ver um pouco da estampa do que eu
pensei ser seu pijama. Eram milhares de patinhos como o Sr. Quack, em cima de
um pano cor-de-rosa, e as pantufas que usava também eram de patinho. Em sua
cabeça, uma touca cor de rosa pontuda, com uma bolinha frufru bem branquinha na
ponta, que fazia com que a touca se curvasse sob seu peso.
Quando
Eusébio percebeu as risadas dos brutamontes, perguntou enraivecido:
–
Do que estão rindo, hein?!
Como
ninguém respondeu, ele agarrou Robim pelo colarinho e ergueu-o até ficarem
cara-a-cara.
–
Robim, DO QUE ELES ESTÃO RINDO?!
Robim
engoliu em seco antes de responder.
–
Da sua toquinha, senhor.
Eusébio
largou-o no chão, tirou sua toquinha e arremessou-a para longe.
–
CHEGA! ERA DISSO QUE VOCÊS ESTAVAM RINDO NA SALA DAS CÂMERAS TAMBÉM, É? –
Berrou, e todos pararam de rir automaticamente. – Vamos ao que interessa! Vejo
que encontraram os nossos fugitivos... – Ele sorriu, caminhando e encarando um
por um. – Mas, se minhas contas estão corretas, estão faltando alguns...
–
Os outros não estavam com eles, mestre. Os encontramos sozinhos.
–
Vocês não os viram pelas câmeras de segurança?!
–
Pararam de nos transferir coordenadas, mestre. Achamos estes aqui por puro
acaso.
–
Então, vocês, vão procurar o resto imediatamente! E chequem o que houve na sala
de câmeras! – Ele ordenou aos brutamontes que estavam quietos nos cantos. Estes
obedeceram e pelo menos setenta deles saíram, ficando por volta de vinte homens
na sala.
–
O que vou fazer com vocês, hein? – Eusébio coçou o queixo e acariciou-o como se
nele existisse uma enorme barba. – Bom, acho que vocês já causaram problemas
demais. Acabei de decidir roubar o talento de vocês agora mesmo! Depois, vou
mata-los. E aí faço o mesmo com os outros quando forem encontrados.
–
Mas o senhor disse que não ia matar a gente! – Agonizou, desesperado, Taemin.
–
É, mas eu mudei de ideia desde o momento que vocês vivos tem me causado muitos
problemas. Pois é, o seguro morreu de velho, e precisamos nos garantir nos dias
de hoje.
Com
um sinal de Eusébio, os brutamontes começaram a se aproximar das máquinas atrás
das quais eu estava escondida.
Meu
coração quase saiu pela boca quando ele disse isso! Não! Tudo que havíamos
lutado seria em vão?! Eles teriam seus talentos retirados de si?! Não, eu não
podia permitir.
Parei de
espiar pela fresta e me concentrei. O que eu podia fazer? Só havia uma coisa!
Milhares de
fios se emaranhavam à minha volta, e eu comecei a puxar os mais finos. Depois,
um ou outro mais grosso que eu conseguia arrancar de suas bases nas máquinas.
Parei quando
ouvi as portas de vidro das máquinas se abrirem atrás de mim, e os rapazes
serem colocados nelas.
Incapaz de me
mexer, esperei, apenas escutando, rezando para que os vários fios que eu
tivesse puxado fizessem a diferença.
Louis on.
Contornamos
vários corredores, a maioria deserta, sem encontrar uma única porta ou sala.
Aquilo parecia um labirinto, e eu estava começando a me sentir incomodado. Não
era o único. Niall parecia estar com uma sensação de claustrofobia maior que a
minha.
Subimos duas
escadas antes de passarmos por uma porta de metal, de onde vinha um bom cheiro
de comida. Parecia que alguém estava cozinhando carne assada com batatas.
Iríamos ignorar a porta, para passar despercebidos, mas Niall atrapalhou tudo
com seu apetite e sua obsessão por batatas. Em um segundo ele estava ao nosso
lado; no outro, antes que tivéssemos chances de fazer alguma coisa, ele já
estava passando pela porta, que estava destrancada.
– Não Niall! –
sussurrou Liam, mas já era tarde.
Corremos ao
seu socorro, C e E apontando as armas que carregavam, e eu, Zayn e Liam, as
pequenas armas de choque que elas nos deram caso precisássemos nos defender.
Porém,
encontramos algo totalmente inesperado. Estavam na sala duas senhoras
velhinhas, uma garota bem jovem que segurava um bebê, Adele, Barry Gibb, Steven
Tyler, um carinha de olhos puxados e roupas extravagantes e Taylor Swift.
–
AIMEUDEUSDOCÉU! – Berrou Zayn, do meu lado. – Steven, me dá um autógrafo?!
–
AIMEUDEUSDOCÉU! – Era a garota segurando o bebê. – É o Liam Payne?! Da 1D!
–
Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! – Fizeram C e E ao mesmo tempo.
Elas duas se
entreolharam quando Zayn e a garota se acalmaram, e E falou:
– Muito bem...
Acho que vocês tem uma longa história para nos contar...
Barry Gibb se
aproximou – depois de dar uma estranha olhada para Niall, que estava com a cara
enfiada numa panela – e abriu a boca para começar a contar.
Narrador
observador on.
Os brutamontes
abriram as cabines das máquinas e colocaram os rapazes lá dentro, prendendo
seus punhos em pulseiras de metal, para evitar que se mexessem. Depois, puseram
um capacete com vários fios ligados a ele em suas cabeças.
O próprio
Eusébio entrou em uma dessas cabines e fez o mesmo consigo, assentindo para
Robim.
Ao sinal de
seu mestre, Robim correu até um pequeno painel ao lado das máquinas e começou a
apertar uma série de botões, programando a máquina.
Em seguida,
apertou um grande botão amarelo, e um barulho forte e crescente, típico de
máquinas em funcionamento ou sendo ligadas ecoou pelo salão.
As máquinas
emitiram uma luz forte dentro das cabines, e o som que produziam já estava tão
alto que parecia ensurdecedor.
Ninguém podia
ver devido à claridade que ofuscava, mas, dentro das cabines, os verdadeiros
artistas estavam chorando de tristeza e desespero. A música era TUDO para eles.
Seria o fim de suas carreiras e, como Eusébio pretendia mata-los, o fim de suas
vidas também.
Robim, então,
repentinamente, puxou uma alavanca no painel de controle das máquinas, e a luz
que elas emitiam foi sumindo gradativamente, assim como seu barulho.
Quando
finalmente tudo silenciou e voltou a sua claridade normal, os brutamontes
retiraram os artistas, e logo em seguida, Eusébio.
Eusébio
estalou os dedos e mexeu as mãos diante de todos, inclusive diante dos
artistas. Ele se sentia diferente, uma nova pessoa. Tinha confiança em si
mesmo, e seu olhar era um misto de orgulho e êxtase.
Harry e os
outros choravam, tristes. O salão estava mergulhado em um silêncio ensurdecedor
e, mesmo assim, também parecia vibrar de expectativa.
Eusébio abriu
a boca, e tudo, tudo pareceu transcorrer mais lentamente, até ele pronunciar a
primeira palavra:
Somewhere over the rainbow...
O que
aconteceu foi totalmente inesperado. A voz de Eusébio saiu mais horrível do que
uma gralha engasgada morrendo sufocada. Era tenebroso ouvir sua voz.
Ele tentou
mais uma vez:
Hallelujah,
hallelujah...
Igualmente
péssimo. Os ouvidos de todos pareciam estar ardendo. Ele tentou dançar, e ainda
cantou mais um pedaço de outra música:
Eu tinha,
uma galinha, que se chamava Mery Loo...
Não, nada,
e seu modo de dançar era igualmente ruim. Ele arregalou os olhos de tanto
desespero e raiva.
– NÃO
FUNCIONOU! – Gritou. – NÃO FUNCIONOU! Por que não funcionou! Você! – Ele se
dirigiu até Harry e segurou-o pelo colarinho. – Cante!
Como Harry
não abriu a boca, apenas arregalando os olhos, assustado, como resposta, Eusébio
bradou novamente:
– CANTE!
Harry
engoliu em seco e começou a cantar:
Who do you think you
are? Who do you think I am? You only loved to see me breaking, you only want me
‘cos I’m taken…
A voz de
Harry saiu rouca, bela e melodiosa como sempre. Os olhos de Eusébio se
arregalaram ainda mais, e ele começou a ficar vermelho. Estava tão nervoso que
não emitia nenhum som, mas se contorcia estranhamente. Parecia que ia explodir
a qualquer segundo.
– ROBIM! –
Aquele grito pareceu a explosão que anuncia a erupção de um vulcão. – O QUE
VOCÊ FEZ DE ERRADO?!
Robim se
encolheu todo enquanto Eusébio caminhava para ele. O olhar de um louco.
Ele era um
louco.
Eu on.
Eu
tive de me conter para não gritar de felicidade quando vi que as vozes dos
garotos não tinham sido roubadas. Eusébio falhara.
Fiquei
contente por um momento – na medida que é possível ficar contente quando se
está presa em um lugar como aquele – e orgulhei-me de ter mexido nos fios.
Aparentemente, aquilo havia dado certo.
Eu
espiava Eusébio se dirigindo furioso ao pobre Robim quando senti.
Algo
frio encostou-se a meu ombro, e não me fez apenas estremecer, mas congelar até
os miolos.
Uma
mão. Uma mão bem grande.
Virei-me
muito devagar para ver a quem ela pertencia. E não pude acreditar quando vi.
–
Olá... – A voz da pessoa a quem pertencia a mão ressoou em meus ouvidos.
Fiquei
com tanto medo que era incapaz de me mexer.
Louis on.
–
Não, Sr. Tomlinson, pela última vez: você vai ficar aqui com essas pessoas,
enquanto eu e C vamos procurar os outros e a saída! – Falou E, categórica.
Emburrei.
Eu queria ir salvar meu melhor amigo. Não queria ficar ali esperando, impaciente,
sem saber o que acontecia, enquanto elas faziam o trabalho. Eu simplesmente não
aguentaria.
–
Mantenham-no aqui! – C falou para todos na cozinha. – A todo e qualquer custo.
Não o deixem sair.
Fechei
a cara. Barry tinha contado a história para nós, e tudo pareceu horrível e
diabólico demais. Eu estava triste, e também sentia por Harry, por que sabia
que ele havia perdido a “Dama do Elevador” – não que não sentiria falta dela,
mas vocês entendem, Harry sentiria BEM mais do que eu –, e queria ir vê-lo,
salvá-lo, ajuda-lo, ampará-lo, oferecer um ombro amigo depois de momentos de
tortura.
Mas
não. Não iam me deixar sair.
C
e E deixaram a cozinha rumo ao corredor, e ficamos sozinhos novamente.
Bom,
elas sabiam que eu não ia ficar parado, então...
–
Tchau gente, até logo... Tô indo. – Falei, acenando para todos.
Estava
já empurrando a porta quando Liam agarrou meu braço e me puxou de volta.
–
Você as ouviu Louis! Não é para você ir! Você já nos meteu em muitas confusões.
Vai ficar aqui conosco. Não vamos te deixar sair.
–
Ah, é? Quem garante? – Repliquei para Liam.
–
Só por cima do meu cadáver! – Ele retrucou.
–
Tá bom. – Falei. Em seguida, com um movimento muito ninja, peguei minha arma de
choque, que C e E haviam deixado para que nos defendêssemos caso alguma coisa
acontecesse, e usei-a em Liam.
Ele
caiu no chão, e senti um pouco de pena no início, mas ele não estava morto,
apenas desacordado.
Eloisa
– que eu descobrira que era o nome da moça que estava segurando o bebê –
entregou a criança em seu colo a uma das senhoras presentes e correu a
ampará-lo. Todos agora olhavam para mim, assustados.
–
Alguém vai arriscar ser o próximo? – Indaguei, em tom de ameaça.
Ninguém
respondeu, por isso, tirei a atitude como um sonoro NÃO.
Saí
pela porta em direção ao corredor, e ninguém foi atrás de mim.
Ninguém
mais poderia me impedir.
Não
naquele momento.
Mesmo
sozinho, eu não sentia medo. Apenas determinação.
Eu
estava indo salvar meu amigo.
Harry on.
Eusébio
largou meu colarinho, e eu mal respirava de tanto medo. Não havia tempo para me
sentir feliz por não ter perdido a minha voz, pois meu destino era tão incerto
quanto a existência de magia.
Vi
Eusébio se dirigir furioso a Robim.
–
ROBIM! O QUE VOCÊ FEZ DE ERRADO?! – Eusébio pegou Robim pelo colarinho
novamente, erguendo-o até os olhos deles ficarem frente a frente.
Porém,
Robim não teve oportunidade de responder, pois aconteceu uma coisa ninguém
estava esperando.
Uma
voz, saída de trás das máquinas, ribombou pelo salão, forte e potente:
–
Ele não fez nada! – Foi o que ouvimos.
Eusébio
largou Robim no chão e, com uma expressão de surpresa, fúria e loucura nos
olhos, falou irritado:
–
Quem está aí atrás?! Apareça!
Ouvimos
passos e um barulho estranho, como algo sendo arrastado. De repente, pude ver
uma sombra grande se projetando cada vez mais para frente, saindo pela lateral
esquerda das máquinas.
Quando
ela se revelou por inteiro, meu queixo caiu.
–
Sou apenas eu, mestre! – Brutus disse, sorrindo com seus dentes amarelos e
podres. Sua careca parecia resplandecer à luminosidade do salão. – Acho que
encontrei uma coisinha que o senhor procurava.
Em
seus braços, presa em um forte aperto, mas ainda assim se debatendo com
dificuldade, estava ela.
Meu
coração começou a bater a mil por hora quando a vi.
Ela
estava ali.
Viva.
*__________* mais!!! Garota vc tem muita criatividade parabens!
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