segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Capítulo 49 - A felicidade



                Quando acordei, estava deitada novamente na cama. Automaticamente, os últimos acontecimentos antes de eu apagar vieram à tona. Ao ouvir as palavras da enfermeira (de que Harry estava morto), eu não me conformei, e armei um escândalo em frente à porta do meu quarto. Eu esperneava, gritava e me desvencilhava da enfermeira como uma criancinha mimada. Alguns enfermeiros vieram por trás de mim, e eu levei três injeções de sabe-se lá o que, que me fizeram desmaiar na horinha.
                Agora, eu enxergava o ambiente à minha volta com dificuldade, como se um nevoeiro espesso estivesse inundando o quarto. Meus pensamentos pareciam correr muito devagar. Senti alguém segurando meu braço com delicadeza, e também ouvi uma voz. Não entendi o que a voz dizia, por isso virei meu rosto em sua direção. Havia um homem ali, sentado a meu lado. Eu não conseguia enxergar o seu rosto, contudo.
                Fechei os olhos novamente e respirei profundamente, tudo correndo em ritmo de câmera lenta.
                Abri os olhos e nada. Continuava tudo igual. Tentei novamente.
                Dessa vez, porém, antes de abrir os olhos de novo, a voz falou algo mais uma vez, e eu entendi tudo com muita clareza.
                – Ah, que bom que você está acordando! Estava começando a ficar muito preocupado!
                – Preocupado? Por que Harry? – falei.
                Peraí? Harry? Harry. Harry!!!
                – Harry! – De repente eu enxergava tudo muitíssimo bem. Harry estava na minha frente, seus cabelos encaracolados um pouco desgrenhados, como de costume, e seus olhos verdes mais límpidos do que o mais belo e resplandecente rio.
                Naquele momento, eu só enxerguei Harry, e me esqueci do resto. Meu corpo pareceu estar muito leve, e eu pulei da cama em cima dele, agarrando seu pescoço em um apertado abraço de urso. Caímos os dois no chão ao lado da maca.
                – Harry, você está vivo! – Gritei, sem conter a minha alegria.
                – É claro que estou! – Ele pareceu surpreso. – Por que não estaria?
                – Porque você levou um tiro, e estava perdendo muito sangue, e a enfermeira disse que você tinha morrido e...
                – A enfermeira falou que eu tinha morrido?!
                – Sim, ela disse que você tinha morrido recentemente na UTI!
                – Ah, isso... Na verdade, eu realmente estava na UTI, mas tinha um outro homem chamado Harry, um velhinho em estado grave. Foi ele quem morreu.
                Meu coração estava tão aliviado que eu nem me importei. Só agarrei ainda mais o pescoço de Harry.
                – Você... Está... Me... Sufocando... E... Tá... Com... O... Cotovelo... No... Meu... Ferimento...
                Ao ouvir essas palavras, soltei-o imediatamente.
                – Desculpe. – Eu disse, sentando-me e estendendo a mão para que ele se sentasse também.
                – Não tem problema. – Ele disse. E sorriu para mim.
                – Ah, Harry, estou tão aliviada que você esteja vivo! Eu jamais conseguiria imaginar a minha vida sem você e...
                – Peraí?! O quê? Você jamais conseguiria imaginar a sua vida... sem mim? – Ele sorriu maliciosamente para mim, e isso me fez lembrar dos velhos tempos, antes que fossemos raptados.
                – Quer dizer, quem conseguiria imaginar a vida das directioners sem você, não é Harry? – Sorri tentando disfarçar e soltei uma risada meio esganiçada, desviando o meu rosto.
                – Que eu saiba... – Ele virou o meu rosto de volta, e nós nos encaramos profundamente. – Você disse que a sua vida não seria nada sem mim... – Ele foi puxando o meu rosto para cada vez mais perto do dele.
                Bom, se tudo aquilo estivesse acontecendo antes do sequestro, eu provavelmente teria fugido, ou desviado, ou encontrado um desculpa para não beijar Harry. Mas, a vida tinha me mostrado que nem tudo acontece como se planeja, e que em um momento você está brigando com Harry Styles em uma sacada, e no outro está com ele dentro de um avião, indo para uma fortaleza comandada por um louco obcecado com sérios problemas de controle de raiva e bipolaridade.
                Por isso, se Harry estava indo me beijar agora, eu não estava nem aí. Que se danassem as garotas do passado dele, que se danassem seus joguinhos de sedução, sua fama de pegador e mulherengo, o lance com a Taylor Swift e todo o resto! Tudo o que eu sabia era que eu estava perdidamente apaixonada por Harry Styles, e que viveria o presente, sem me preocupar com as incertezas do futuro ou as mágoas e dificuldades do passado.
                “[...] e o hoje é uma dádiva, por isso é que se chama presente...” – A frase mais linda que eu já lembrara ter ouvido (no filme Kung Fu Panda) ribombou em minha cabeça.
                E eu estava vivendo o meu presente. Porque estar vivo depois de tudo o que aconteceu era realmente uma dádiva. Estar vivo todos os dias é uma dádiva.
                Os lábios de Harry estavam a centímetros dos meus quando a porta se abriu.
               
Harry on.
Era Louis.
                – OIÊ GALERA, QUE É QUE TÁ PEGANDO?! – Pra variar ele estava gritando.
                Não acreditei! Justo naquele momento que eu esperava já havia tanto tempo ele tinha de aparecer! É lógico que tinha, era o Louis!
                – Louis... – Falei em tom ameaçador.
                – Opa, acho que vim na hora errada... – Ele ficou vermelho de repente de vergonha.
                – É, veio mesmo... – Continuei no mesmo tom frio e ameaçador. Eu sabia que Louis sabia que iríamos ter uma boa conversa quando voltássemos a nos encontrar.
                – TCHAU! TÔ INDO! – Ele foi se virando e pegando a maçaneta da porta. – Podem continuar o que estavam... hã... fazendo...
Eu já estava dando graças a Deus que ele ia embora e virei meu rosto para encontrar o dela.
– Então, onde estavámos... – Falei, mas não tive resposta. Ela tinha sumido! Quando olhei para o lado, ela corria até Louis.
– Louis! – Ela gritou bem alto, pulando no pescoço dele. Fiquei irritado. Pensei que aquele tratamento se aplicava somente a mim... Ah, mas o Louis me pagava.
– Olha só quem está acordada, hein?! – Ele abraçou-a também e a afastou um pouco, para poder ver seu rosto, antes de continuar. – É, você tá meio pálida, e tem alguns arranhõezinhos no seu rosto, mas fora isso você parece ótima! E vejo que a sua perna também está melhor!
– Nossa! É verdade! – ela disse. – Eu nem me lembrava mais do machucado! – ela olhou para a ferida, que estava enfaixada.
– Você causou um susto danado na gente! – Louis continuou. – O Harry chegou aqui com ferimento de bala e estava novinho em folha em dois dias. Você, por outro lado, ficou desacordada por cinco dias! Aí, Harry foi liberado e, quando viemos fazer uma visita a você, disseram que não podíamos entrar, que você havia tido uma crise e estava sob efeito de entorpecentes. Então tentamos hoje, e deixaram a gente entrar, mas você ainda estava dormindo e...
– Peraí?! Quando tempo faz desde que me deram entorpecentes? – Ela perguntou.
– Ah, uns três dias... – Eu respondi pelo traidor do Louis.
– O quê?! Eu estive desacordada por praticamente uma semana?!
– É. – continuei falando, antes que o Louis traíra começasse a abrir o bico novamente. – Ficamos com medo. Disseram que iam imputar a sua perna... Disseram que você estava morrendo... Foi tenso.

E realmente fora. Eu nunca sentira tanta angústia como nos dias seguintes à minha entrada no hospital. Eu tinha de ficar deitado, sem me mexer muito, e ninguém queria me dar notícias dela para não causar choque.
Eu perdera muito sangue, mas os médicos haviam dito que não o suficiente para matar, por sorte. Alguém – que Louis depois me contou que havia sido ela – amarrara uma faixa em volta do ferimento da bala para estancar o sangue, e isso havia me salvado, ela tinha me salvado.
Então os dias passaram e eu fui dispensado do hospital no quinto dia. Estava novinho em folha. Não que o ferimento não doesse, mas ia cicatrizar. Por fora, eu estava ótimo.
Mas, por dentro, eu estava destruído.
Por cinco dias ela ficara no hospital também, e ainda não havia acordado. Quando acordou, teve uma crise...
E eu fiquei esperando mais três dias, sem saber se ela iria sobreviver, agonizando...
Mas ela estava viva, e era tudo o que importava.
Levantei-me e fui até ela e Louis. Passei meu braço em torno dos ombros dela, e ela não pareceu se importar. Inclusive, também enlaçou minha cintura com os braços dela. Sem dúvida, estava diferente. Mais segura, mais ousada, de um jeito bom, é claro.
– Vamos. – Falei a ela e Louis. – Vamos ver se a enfermeira te deixa ir tomar um lanchinho na lanchonete com a gente.  Você estava se alimentando por sonda, mas tinha comida no seu quarto até que o Niall veio te visitar há umas duas horas... E não sei se você reparou, mas Louis te deu cenouras de presente... Mas acabou comendo tudo junto com Niall também.
Ela olhou estranhamente para Louis.
– Desculpe – ele disse, envergonhado.
Ela riu, e sua risada era música para meus ouvidos, mesmo que fosse uma risada um pouco rouca pela fraqueza dela (não que ela estivesse exatamente fraca, mas estava se recuperando ainda).
Saímos os três pelo corredor em busca da enfermeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário