Quando
acordei, estava deitada novamente na cama. Automaticamente, os últimos
acontecimentos antes de eu apagar vieram à tona. Ao ouvir as palavras da
enfermeira (de que Harry estava morto), eu não me conformei, e armei um
escândalo em frente à porta do meu quarto. Eu esperneava, gritava e me
desvencilhava da enfermeira como uma criancinha mimada. Alguns enfermeiros
vieram por trás de mim, e eu levei três injeções de sabe-se lá o que, que me
fizeram desmaiar na horinha.
Agora,
eu enxergava o ambiente à minha volta com dificuldade, como se um nevoeiro
espesso estivesse inundando o quarto. Meus pensamentos pareciam correr muito
devagar. Senti alguém segurando meu braço com delicadeza, e também ouvi uma
voz. Não entendi o que a voz dizia, por isso virei meu rosto em sua direção.
Havia um homem ali, sentado a meu lado. Eu não conseguia enxergar o seu rosto,
contudo.
Fechei
os olhos novamente e respirei profundamente, tudo correndo em ritmo de câmera
lenta.
Abri
os olhos e nada. Continuava tudo igual. Tentei novamente.
Dessa
vez, porém, antes de abrir os olhos de novo, a voz falou algo mais uma vez, e
eu entendi tudo com muita clareza.
–
Ah, que bom que você está acordando! Estava começando a ficar muito preocupado!
–
Preocupado? Por que Harry? – falei.
Peraí?
Harry? Harry. Harry!!!
–
Harry! – De repente eu enxergava tudo muitíssimo bem. Harry estava na minha
frente, seus cabelos encaracolados um pouco desgrenhados, como de costume, e
seus olhos verdes mais límpidos do que o mais belo e resplandecente rio.
Naquele
momento, eu só enxerguei Harry, e me esqueci do resto. Meu corpo pareceu estar
muito leve, e eu pulei da cama em cima dele, agarrando seu pescoço em um
apertado abraço de urso. Caímos os dois no chão ao lado da maca.
–
Harry, você está vivo! – Gritei, sem conter a minha alegria.
–
É claro que estou! – Ele pareceu surpreso. – Por que não estaria?
–
Porque você levou um tiro, e estava perdendo muito sangue, e a enfermeira disse
que você tinha morrido e...
–
A enfermeira falou que eu tinha morrido?!
–
Sim, ela disse que você tinha morrido recentemente na UTI!
–
Ah, isso... Na verdade, eu realmente estava na UTI, mas tinha um outro homem
chamado Harry, um velhinho em estado grave. Foi ele quem morreu.
Meu
coração estava tão aliviado que eu nem me importei. Só agarrei ainda mais o
pescoço de Harry.
–
Você... Está... Me... Sufocando... E... Tá... Com... O... Cotovelo... No...
Meu... Ferimento...
Ao
ouvir essas palavras, soltei-o imediatamente.
–
Desculpe. – Eu disse, sentando-me e estendendo a mão para que ele se sentasse
também.
–
Não tem problema. – Ele disse. E sorriu para mim.
–
Ah, Harry, estou tão aliviada que você esteja vivo! Eu jamais conseguiria
imaginar a minha vida sem você e...
–
Peraí?! O quê? Você jamais conseguiria imaginar a sua vida... sem mim? – Ele sorriu maliciosamente para mim, e isso
me fez lembrar dos velhos tempos, antes que fossemos raptados.
–
Quer dizer, quem conseguiria imaginar a vida das directioners sem você, não é
Harry? – Sorri tentando disfarçar e soltei uma risada meio esganiçada, desviando
o meu rosto.
–
Que eu saiba... – Ele virou o meu rosto de volta, e nós nos encaramos
profundamente. – Você disse que a sua
vida não seria nada sem mim... – Ele foi puxando o meu rosto para cada vez mais
perto do dele.
Bom,
se tudo aquilo estivesse acontecendo antes do sequestro, eu provavelmente teria
fugido, ou desviado, ou encontrado um desculpa para não beijar Harry. Mas, a
vida tinha me mostrado que nem tudo acontece como se planeja, e que em um momento
você está brigando com Harry Styles em uma sacada, e no outro está com ele
dentro de um avião, indo para uma fortaleza comandada por um louco obcecado com
sérios problemas de controle de raiva e bipolaridade.
Por
isso, se Harry estava indo me beijar agora, eu não estava nem aí. Que se
danassem as garotas do passado dele, que se danassem seus joguinhos de sedução,
sua fama de pegador e mulherengo, o lance com a Taylor Swift e todo o resto!
Tudo o que eu sabia era que eu estava perdidamente apaixonada por Harry Styles,
e que viveria o presente, sem me preocupar com as incertezas do futuro ou as
mágoas e dificuldades do passado.
“[...]
e o hoje é uma dádiva, por isso é que se chama presente...” – A frase mais
linda que eu já lembrara ter ouvido (no filme Kung Fu Panda) ribombou em minha
cabeça.
E
eu estava vivendo o meu presente. Porque estar vivo depois de tudo o que
aconteceu era realmente uma dádiva. Estar vivo todos os dias é uma dádiva.
Os
lábios de Harry estavam a centímetros dos meus quando a porta se abriu.
Harry on.
Era Louis.
–
OIÊ GALERA, QUE É QUE TÁ PEGANDO?! – Pra variar ele estava gritando.
Não
acreditei! Justo naquele momento que eu esperava já havia tanto tempo ele tinha
de aparecer! É lógico que tinha, era o Louis!
–
Louis... – Falei em tom ameaçador.
–
Opa, acho que vim na hora errada... – Ele ficou vermelho de repente de
vergonha.
–
É, veio mesmo... – Continuei no mesmo tom frio e ameaçador. Eu sabia que Louis
sabia que iríamos ter uma boa conversa quando voltássemos a nos encontrar.
–
TCHAU! TÔ INDO! – Ele foi se virando e pegando a maçaneta da porta. – Podem
continuar o que estavam... hã... fazendo...
Eu já estava
dando graças a Deus que ele ia embora e virei meu rosto para encontrar o dela.
– Então, onde estavámos...
– Falei, mas não tive resposta. Ela tinha sumido! Quando olhei para o lado, ela
corria até Louis.
– Louis! – Ela
gritou bem alto, pulando no pescoço dele. Fiquei irritado. Pensei que aquele
tratamento se aplicava somente a mim... Ah, mas o Louis me pagava.
– Olha só quem
está acordada, hein?! – Ele abraçou-a também e a afastou um pouco, para poder
ver seu rosto, antes de continuar. – É, você tá meio pálida, e tem alguns
arranhõezinhos no seu rosto, mas fora isso você parece ótima! E vejo que a sua
perna também está melhor!
– Nossa! É
verdade! – ela disse. – Eu nem me lembrava mais do machucado! – ela olhou para
a ferida, que estava enfaixada.
– Você causou
um susto danado na gente! – Louis continuou. – O Harry chegou aqui com
ferimento de bala e estava novinho em folha em dois dias. Você, por outro lado,
ficou desacordada por cinco dias! Aí, Harry foi liberado e, quando viemos fazer
uma visita a você, disseram que não podíamos entrar, que você havia tido uma
crise e estava sob efeito de entorpecentes. Então tentamos hoje, e deixaram a
gente entrar, mas você ainda estava dormindo e...
– Peraí?!
Quando tempo faz desde que me deram entorpecentes? – Ela perguntou.
– Ah, uns três
dias... – Eu respondi pelo traidor do Louis.
– O quê?! Eu
estive desacordada por praticamente uma semana?!
– É. –
continuei falando, antes que o Louis traíra começasse a abrir o bico novamente.
– Ficamos com medo. Disseram que iam imputar a sua perna... Disseram que você
estava morrendo... Foi tenso.
E realmente
fora. Eu nunca sentira tanta angústia como nos dias seguintes à minha entrada
no hospital. Eu tinha de ficar deitado, sem me mexer muito, e ninguém queria me
dar notícias dela para não causar choque.
Eu perdera
muito sangue, mas os médicos haviam dito que não o suficiente para matar, por
sorte. Alguém – que Louis depois me contou que havia sido ela – amarrara uma
faixa em volta do ferimento da bala para estancar o sangue, e isso havia me
salvado, ela tinha me salvado.
Então os dias
passaram e eu fui dispensado do hospital no quinto dia. Estava novinho em
folha. Não que o ferimento não doesse, mas ia cicatrizar. Por fora, eu estava
ótimo.
Mas, por
dentro, eu estava destruído.
Por cinco dias
ela ficara no hospital também, e ainda não havia acordado. Quando acordou, teve
uma crise...
E eu fiquei
esperando mais três dias, sem saber se ela iria sobreviver, agonizando...
Mas ela estava
viva, e era tudo o que importava.
Levantei-me e
fui até ela e Louis. Passei meu braço em torno dos ombros dela, e ela não
pareceu se importar. Inclusive, também enlaçou minha cintura com os braços
dela. Sem dúvida, estava diferente. Mais segura, mais ousada, de um jeito bom,
é claro.
– Vamos. –
Falei a ela e Louis. – Vamos ver se a enfermeira te deixa ir tomar um lanchinho
na lanchonete com a gente. Você estava
se alimentando por sonda, mas tinha comida no seu quarto até que o Niall veio
te visitar há umas duas horas... E não sei se você reparou, mas Louis te deu
cenouras de presente... Mas acabou comendo tudo junto com Niall também.
Ela olhou
estranhamente para Louis.
– Desculpe –
ele disse, envergonhado.
Ela riu, e sua
risada era música para meus ouvidos, mesmo que fosse uma risada um pouco rouca
pela fraqueza dela (não que ela estivesse exatamente fraca, mas estava se
recuperando ainda).
Saímos os três
pelo corredor em busca da enfermeira.
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