Capítulo 3 – A Jornada Começa
L
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ouis estava no estábulo junto com
vários outros cavaleiros do rei, preparando Cenoura, com Kevin no ombro, quando
seu pai apareceu ao seu lado:
–
O que está fazendo, filho?
–
Preparando Cenoura, pai. Devia estar fazendo o mesmo. Vamos acompanhar os
príncipes. Partiremos assim que colherem o relato do moribundo.
–
Eu já colhi, e passei tudo ao rei...
–
Mesmo! E como foi que tudo aconteceu, pai?!
–
Bom... Eles estavam chegando perto da Estrada da Luz, quando o céu escureceu e
ela surgiu dentre um redemoinho de nuvens. O resto, você já imagina.
–
Minha nossa!
–
Sim, e o rei acredita veemente nele. Não há razão para duvidar. Afinal, você o
viu...
–
Temos que ir o mais rápido possível!
–
Ei! Não! Nós não vamos com eles. O rei nos quer por aqui. Diz que somos
cavaleiros bons demais para sermos jogados fora com uma caçada incerta.
–
Mas são necessários bons cavaleiros para que o serviço seja bem executado pai!
– Louis estava perplexo.
–
Filho, eu já disse que não.
–
Mas, pai!
–
Escute-me, Louis Willian Tomlinson! – Louis estremeceu ao ouvir ser pronunciado
seu nome completo, em um tom como aquele. Kevin voou de seu ombro para longe.
Cenoura virou-se. – É demasiado perigoso, e temos que ficar aqui! Alguém também
tem que cuidar da segurança do rei! Não sabemos o que a bruxa quer! E se quiser
o rei também?! Não se sabe onde a bruxa mora exatamente, há apenas rumores
sobre sua localização. Não se sabe se a princesa sequer está viva!
Louis
olhou friamente para seu pai. Apesar da expressão fria, por dentro ele sabia de
todas aquelas possibilidades, por mais que não quisesse acreditar. Por dentro,
ele fervia.
–
Pai... – Ele disse lentamente. – Eu... Vou... Atrás... da... Princesa...
Eleanor...
–
Como ousa afrontar-me desta maneira? Ei, onde vai, não dê as costas para mim
desse jeito mocinho! O que é que há? Por que está tão interessado em salvar a
princesa?! Ela não significa nada para nós!
–
O quê?! – Louis havia se afastado, mas agora voltava, enfurecido. Suas narinas
inflavam-se e seus olhos claros pareciam arder em chamas, por mais azuis
esverdeados que fossem. – Não significa nada? Não significa nada?! Ela é a
sobrinha de seu melhor amigo! É sobrinha do rei, que a ama e trata como se fosse a
própria filha dele! É antes seu dever como amigo do que como servidor de rei
Simon prezar pelas pessoas que ele também ama! É ISSO QUE AMIGOS FAZEM! A
princesa deveria significar MUITO para você também!
–
Mas o quê... Ah... – Mark entendeu de repente, ao olhar mais além das chamas
dos olhos de Louis. – Isso é amor não é? Eu devia ter imaginado... Faz quanto
tempo?
Louis
não respondeu. Seu nariz se contorcia de raiva.
–
Bom, meu filho, se amas e ages por amor, então vai me perdoar... – Falou Mark,
muito calmo.
–
Sim, meu pai, eu perdoo.
–
Não, filho, não é por querer resgatar a princesa... É POR ISTO!
Mark
acertou a cabeça de Louis com a ponta da espada, que ele desembainhara sem que
o filho percebesse, diante do ataque de cólera que estava tendo.
A
última coisa que Louis ouviu o pai dizer antes de apagar totalmente no chão
foi:
–
Não deixe a raiva dominá-lo filho... O instinto e a emoção podem aparecer mais
fortes, mas é a razão que deve permanecer sempre, em qualquer circunstância...
Por
ter ficado com raiva, Louis não percebera o ataque que o pai preparava, e era
isso que Mark queria dizer com controlar seus instintos. As emoções sempre
atrapalhavam nos momentos decisivos.
Já
desmaiado, Louis não ouviu o que o pai lhe disse em seguida.
–
Desculpe filho, mas assim como amas a princesa, eu também te amo.
E
Mark saiu carregando o filho nos ombros.
...
Quando
Louis acordou, ele estava em seu quarto, no alto do castelo do feudo de seu
pai. Eles haviam retornado do castelo de Simon e ele perdera a viagem toda.
Deveria
ser madrugada. Estava muito escuro do lado de fora, mas uma vela bruxuleava ao
lado da cama de Louis, e em um segundo ele recordou o que acontecera.
Revoltado
com seu pai, ele ficou deitado por um tempo, entristecido, pensando em Eleanor.
Doía vê-la cativa nas garras da bruxa, em seu pensamento. Ela deveria ser uma
bruxa horrenda, feíssima... Talvez tivesse sequestrado Eleanor para apoderar-se
de seu belo corpo de beleza rara... Não... Ver o corpo de Eleanor com alma de
uma bruxa? Ele não conseguia pensar nisso. Tampouco conseguia suportar a ideia
de Eleanor estar morta.
Foi
nesse vai e vem de seu pensamento, deitado entristecido na sua cama, que um
jorro de adrenalina correu por suas veias, e ele se decidiu.
Ninguém
percebeu os passos silenciosos pelo corredor do castelo.
“Humm...
Eles devem ter trancado o celeiro por dentro”, pensou Louis. Então optou por um
outro caminho. Depois que sua família se mudara para o castelo, Louis
descobrira uma passagem secreta para o estábulo, e jamais contara a ninguém.
Aquilo agora vinha muito bem a calhar.
Quando
Louis acariciou os pelos de Cenoura, já no estábulo, o cavalo relinchou de
susto.
–
Shhhhh! – falou. – Sou eu, Louis!
Cenoura
se acalmou, e Louis, às escuras, já vestido com uma meia armadura, preparou-o.
Não arriscou ir à cozinha, mas pegou com um cantil a própria água que os
cavalos tomavam no celeiro. Não era das mais limpas, mas caso ele não
conseguisse encontrar água, seria sua única opção.
Louis
abriu o celeiro por dentro e, silenciosamente, ele e cenoura partiram pelo
caminho principal do feudo, rumo ao portão de entrada.
Os
vigias estavam acordados, mas isso não foi problema para ele. Não estavam
vigiando dentro do feudo, e sim fora dele. Isso sem considerar o breu
que estava, com apenas a luz da lua iluminando alguns pontos com sua luz fraca
de fim da madrugada.
Correu
para um local bem escondido em que ele mesmo abrira um grande buraco no muro,
disfarçando-o, é claro, para que invasores não suspeitassem. Ele inventara um
sistema com as pedras. O buraco só poderia ser reaberto por dentro,
retirando-se algumas pedras chaves.
Ele
o abriu e, como este não era muito alto, teve de passar Cenoura primeiro, e
depois passar a si próprio. Recolocou as pedras no lugar, desta vez pelo lado
de fora, e chirriou como uma coruja. Em um minuto, Kevin apareceu e pousou em
seu ombro.
Louis
montou em Cenoura novamente, mas, antes de começar sua jornada, olhou para o
alto do castelo, avistando a torre na qual ficava o quarto de seus pais.
Achara
estranho, mas uma frase correra continuamente em sua cabeça durante a
preparação da fuga, e ele resolveu adaptá-la à situação:
–
Desculpe pai, mas como tu me amas, e eu amo-te, também amo a princesa Eleanor.
E,
dizendo isso, Cenoura começou a trotar, seus passos bem disfarçados pela grossa
camada de folhas.
Eram
cavalo, pombo e cavaleiro.
Louis
estava sozinho.
Sem
exército.
Sem
ajuda.
Sem
informação.
Mas
ele não iria abrir mão da princesa. Não de Eleanor.
Porque
ele a amava mais que tudo naquele mundo.
E
estava disposto a vagar por anos a sua procura, e lutar por ela, nem que fosse
sozinho.
Ou
morrer tentando.
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