Capítulo 4 – O rapaz da taberna
L
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ouis passara quase a madrugada e o dia
inteiros correndo no lombo de Cenoura. Kevin sobrevoava o local, vigiando para
ver se não havia ninguém próximo que o estivesse procurando.
Só
pararam por dez minutos para fazer uma pequena refeição com alguns cogumelos
inofensivos que Louis encontrara, e logo retomaram a viagem.
Ao
final da tarde, nem Louis nem Cenoura, nem Kevin, aguentavam mais continuar na
estrada, e Louis, por fim, resolveu parar, se aproximando de um pequeno
vilarejo em meio à grande área de campos, florestas e bosques que havia
percorrido.
Já
anoitecia quando os três viajantes – ou fugitivos, como preferir – entraram na
pequena vila, iluminada apenas pelas luzes que emanavam das janelas das casas.
Bem
na entrada do local, havia uma taberna, e Louis achou-a adequada para seu
descanso e o de seus companheiros. Levou Cenoura até um bebedouro de cavalos
que ficava em frente a um corrimão para que fossem amarradas as rédeas dos
animais, e acariciou sua crina enquanto o animal bebia a água, exasperado,
tamanho seu cansaço.
–
Me desculpe rapaz... – falou. – A partir de agora vamos reduzir o ritmo.
Louis
trouxera consigo também um mapa. De acordo com as suas observações, eles
deveriam estar em Holmes Chapel agora.
Um
forte estrondo de pratos caindo no chão e se quebrando ecoou de dentro da
taberna, ao mesmo tempo em que vozes abafadas surgiam irritadas:
–
Seu canalha! Volte aqui!
Louis
percebeu que a taberna se agitava por dentro, e resolveu entrar para conferir o
que acontecia. Porém, nem chegara ainda ao pé da porta, ela foi aberta
violentamente e um corpo foi jogado para fora da mesma.
A
criatura jogada bateu com tudo a cara na lama, se afundando ainda mais nela, enquanto
o dono da voz aparecia, gritando, bravo, passando por Louis sem nem mesmo
percebê-lo.
–
SEU INDECENTE! CÃO VIRA-LATA! GATO FUGIDIO! REPITA: VOCÊ DORMIU COM A MINHA MULHER?!
Ao
que o rapaz não respondeu, ainda estirado no chão, o homem foi lá e chutou-lhe
a barriga. Deduzi que aquele era o próprio taberneiro. Usava um avental longo e
sujo e tinha a pele oleosa e vermelha como de quem cozinha e bebe o dia inteiro.
Chutou ainda uma outra vez a barriga do jovem antes que este tivesse alguma
reação.
–
Eu... – Começou o rapaz, levantando vagarosamente o corpo, e com dificuldade,
até se encontrar frente a frente com o taberneiro. – Dormi.
Sinceramente,
Louis não esperava a confirmação da resposta. O rosto do taberneiro passou de
vermelho a roxo, e ele deu um gigantesco soco no rosto do jovem.
–
SEU CRETINO! VEADO! VOCÊ DORMIU COM A MINHA MULHER... DEPOIS DE FICAR NOIVO DA
MINHA FILHA!
O
rapazola estava quase perdendo a consciência. Via-se que estava deveras bêbado.
–
EU VOU TE MATAR VAGABUNDO! – Anunciou o marido traído, tirando do bolso de seu
avental, um gigantesco facão de cortar carne.
Louis
sabia que a ira do homem tinha motivo para existir – e bom motivo. No entanto,
como cavaleiro do rei, que procura a justiça, sempre, Louis não via na morte
justiça alguma – apesar de seu pensamento em relação à pena de morte ser
considerado atrasado e infantil para a época.
Bem,
sabe-se lá por que, Louis não consentiu que o homem atacasse o rapaz, ainda
mais com o despeito de este último estar incapaz de se defender.
Por
isso, enquanto o taberneiro abaixava já o facão para o estômago de seu “simpatizante”,
Louis desembainhou sua espada e impediu com ela o ataque, bem a tempo.
–
O que está havendo?! Quem é você?! – Perguntou o dono da taberna.
–
Sou Louis Tomlinson, cavaleiro do rei Simon, em missão especial à coroa, e não
admito a morte deste rapaz!
O
taberneiro bufou. Todos que estavam na taberna assistiam ao espetáculo.
–
E quem se importa em quem seja você! Dê licença, que preciso terminar algo.
–
Não! Não é certo matar...! – O dono da taberna riu amarelo, bem como os homens
dentro de sua taberna. Louis acrescentou então – Não quando o oponente não tem
chance de defesa... É DESONROSO para você!
Desta
vez o taberneiro fechou a cara. Louis estava certo. Era questão de desonra
matar alguém em condições desiguais de lutar e se defender.
–
Está bem... – Disse. – Ponha-o em pé.
–
Mas de jeito nenhum! Está bêbado! Inválido!
–
Então que fazemos?! Estou me cansando de você! Afaste-se! Saia da minha frente,
e deixe-me terminar este serviço que já comecei!
–
Só por cima do meu cadáver... – Falou Louis numa voz cortante como a lâmina de
sua espada.
O
homem a princípio ameaçou realmente atacar Louis. Depois, porém, ao ver o
estandarte do reino de Simon costurado na camisa do jovem, e a maneira
confiante com que este segurava sua espada, desistiu.
Estava
possesso, era verdade, mas voltou a fortes pisadas até a entrada de sua taberna
e, antes de fechá-la, berrou:
–
E NÃO VOLTEM MAIS AQUI! – A porta se fechando fez um sonoro “BLAM”.
Louis
se abaixou até o jovem bêbado atrás de si. Este murmurava algumas poucas
palavras, que Louis custou a enterder:
–
Er... Obri... Obrigado! – Era incrível o que o álcool podia fazer a alguém. O
rapaz ergueu metade do corpo com muito esforço, sentando-se. Louis reparou
então em sua cabeleira encaracolada e revolta, e seus olhos verdes, muito
lacrimosos, talvez por causa do efeito da bebida. – Quem é você? – Ele perguntou,
enrolando um pouco as palavras.
–
Meu nome é Louis Tomlinson, e eu sou cavaleiro do rei Simon. E tu, como chamas?
–
Styles. Harry Styles.
–
Pois bem Harry Styles... Você estava numa encrenca danada...
–
A... – Ele deu um giro com a cabeça, e seu olhar era de confusão. – A culpa não
é minha se aquele troglodita não sabe cuidar da mulher dele...
Dito
isso, Harry Styles tentou se levantar, mas caiu de cabeça logo em seguida.
Ainda levou o braço até ela, antes de começar a chorar e soluçar como um
bêbado...
–
Ah... Snif, Snif...
Louis
revirou os olhos, mas sentiu pena do jovem Styles. Por isso, pegou-o da lama e
colocou-o em cima do lombo de Cenoura, de barriga para baixo, de modo que seus
pés caiam de um lado do animal, e seus braços, de outro.
–
Bem, deve haver boas estalagens por aqui... – E, dizendo isso, Louis pegou nas
rédeas de Cenoura e se pôs a caminhar pela vila, até encontrar uma pequena
hospedaria.
–
Mamãe... Por que seu colo é tão duro?... – Falava Harry Styles, delirando.
Louis
cuidou de arranjar quarto e refeição para ele e Harry, e um punhado de ração
para Cenoura e Kevin.
Depois
de comer, foi deitar-se. Harry não comeu, desmaiou por horas e no quarto
permaneceu. Como não haviam dois quartos disponíveis, foi Louis dividir um com
o estranho. Talvez fosse até melhor ficar de olho naquele garoto... Claro, eram
camas separadas, e foi só dentro destas condições que Louis aceitou o quarto.
Quando
finalmente deitou – enquanto Harry estava esparramado na cama, um filete de
baba escorrendo em seu travesseiro – Louis pensou em Eleanor.
Onde
ela estaria? Será que esta bem? Pobre Eleanor... E foi se recordando da beleza
da amada, que ele adormeceu, o rosto corado e um esboço de sorriso nos lábios.
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