sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Cavaleiro e a Princesa - Capítulo 4



Capítulo 4 – O rapaz da taberna

L
ouis passara quase a madrugada e o dia inteiros correndo no lombo de Cenoura. Kevin sobrevoava o local, vigiando para ver se não havia ninguém próximo que o estivesse procurando.
                Só pararam por dez minutos para fazer uma pequena refeição com alguns cogumelos inofensivos que Louis encontrara, e logo retomaram a viagem.
                Ao final da tarde, nem Louis nem Cenoura, nem Kevin, aguentavam mais continuar na estrada, e Louis, por fim, resolveu parar, se aproximando de um pequeno vilarejo em meio à grande área de campos, florestas e bosques que havia percorrido.
                Já anoitecia quando os três viajantes – ou fugitivos, como preferir – entraram na pequena vila, iluminada apenas pelas luzes que emanavam das janelas das casas.
                Bem na entrada do local, havia uma taberna, e Louis achou-a adequada para seu descanso e o de seus companheiros. Levou Cenoura até um bebedouro de cavalos que ficava em frente a um corrimão para que fossem amarradas as rédeas dos animais, e acariciou sua crina enquanto o animal bebia a água, exasperado, tamanho seu cansaço.
                – Me desculpe rapaz... – falou. – A partir de agora vamos reduzir o ritmo.
                Louis trouxera consigo também um mapa. De acordo com as suas observações, eles deveriam estar em Holmes Chapel agora.
                Um forte estrondo de pratos caindo no chão e se quebrando ecoou de dentro da taberna, ao mesmo tempo em que vozes abafadas surgiam irritadas:
                – Seu canalha! Volte aqui!
                Louis percebeu que a taberna se agitava por dentro, e resolveu entrar para conferir o que acontecia. Porém, nem chegara ainda ao pé da porta, ela foi aberta violentamente e um corpo foi jogado para fora da mesma.
                A criatura jogada bateu com tudo a cara na lama, se afundando ainda mais nela, enquanto o dono da voz aparecia, gritando, bravo, passando por Louis sem nem mesmo percebê-lo.
                – SEU INDECENTE! CÃO VIRA-LATA! GATO FUGIDIO! REPITA: VOCÊ DORMIU COM A MINHA MULHER?!
                Ao que o rapaz não respondeu, ainda estirado no chão, o homem foi lá e chutou-lhe a barriga. Deduzi que aquele era o próprio taberneiro. Usava um avental longo e sujo e tinha a pele oleosa e vermelha como de quem cozinha e bebe o dia inteiro. Chutou ainda uma outra vez a barriga do jovem antes que este tivesse alguma reação.
                – Eu... – Começou o rapaz, levantando vagarosamente o corpo, e com dificuldade, até se encontrar frente a frente com o taberneiro. – Dormi.
                Sinceramente, Louis não esperava a confirmação da resposta. O rosto do taberneiro passou de vermelho a roxo, e ele deu um gigantesco soco no rosto do jovem.
                – SEU CRETINO! VEADO! VOCÊ DORMIU COM A MINHA MULHER... DEPOIS DE FICAR NOIVO DA MINHA FILHA!
                O rapazola estava quase perdendo a consciência. Via-se que estava deveras bêbado.
                – EU VOU TE MATAR VAGABUNDO! – Anunciou o marido traído, tirando do bolso de seu avental, um gigantesco facão de cortar carne.
                Louis sabia que a ira do homem tinha motivo para existir – e bom motivo. No entanto, como cavaleiro do rei, que procura a justiça, sempre, Louis não via na morte justiça alguma – apesar de seu pensamento em relação à pena de morte ser considerado atrasado e infantil para a época.
                Bem, sabe-se lá por que, Louis não consentiu que o homem atacasse o rapaz, ainda mais com o despeito de este último estar incapaz de se defender.
                Por isso, enquanto o taberneiro abaixava já o facão para o estômago de seu “simpatizante”, Louis desembainhou sua espada e impediu com ela o ataque, bem a tempo.
                – O que está havendo?! Quem é você?! – Perguntou o dono da taberna.
                – Sou Louis Tomlinson, cavaleiro do rei Simon, em missão especial à coroa, e não admito a morte deste rapaz!
                O taberneiro bufou. Todos que estavam na taberna assistiam ao espetáculo.
                – E quem se importa em quem seja você! Dê licença, que preciso terminar algo.
                – Não! Não é certo matar...! – O dono da taberna riu amarelo, bem como os homens dentro de sua taberna. Louis acrescentou então – Não quando o oponente não tem chance de defesa... É DESONROSO para você!
                Desta vez o taberneiro fechou a cara. Louis estava certo. Era questão de desonra matar alguém em condições desiguais de lutar e se defender.
                – Está bem... – Disse. – Ponha-o em pé.
                – Mas de jeito nenhum! Está bêbado! Inválido!
                – Então que fazemos?! Estou me cansando de você! Afaste-se! Saia da minha frente, e deixe-me terminar este serviço que já comecei!
                – Só por cima do meu cadáver... – Falou Louis numa voz cortante como a lâmina de sua espada.
                O homem a princípio ameaçou realmente atacar Louis. Depois, porém, ao ver o estandarte do reino de Simon costurado na camisa do jovem, e a maneira confiante com que este segurava sua espada, desistiu.
                Estava possesso, era verdade, mas voltou a fortes pisadas até a entrada de sua taberna e, antes de fechá-la, berrou:
                – E NÃO VOLTEM MAIS AQUI! – A porta se fechando fez um sonoro “BLAM”.
                Louis se abaixou até o jovem bêbado atrás de si. Este murmurava algumas poucas palavras, que Louis custou a enterder:
                – Er... Obri... Obrigado! – Era incrível o que o álcool podia fazer a alguém. O rapaz ergueu metade do corpo com muito esforço, sentando-se. Louis reparou então em sua cabeleira encaracolada e revolta, e seus olhos verdes, muito lacrimosos, talvez por causa do efeito da bebida. – Quem é você? – Ele perguntou, enrolando um pouco as palavras.
                – Meu nome é Louis Tomlinson, e eu sou cavaleiro do rei Simon. E tu, como chamas?
                – Styles. Harry Styles.
                – Pois bem Harry Styles... Você estava numa encrenca danada...
                – A... – Ele deu um giro com a cabeça, e seu olhar era de confusão. – A culpa não é minha se aquele troglodita não sabe cuidar da mulher dele...
                Dito isso, Harry Styles tentou se levantar, mas caiu de cabeça logo em seguida. Ainda levou o braço até ela, antes de começar a chorar e soluçar como um bêbado...
                – Ah... Snif, Snif...
                Louis revirou os olhos, mas sentiu pena do jovem Styles. Por isso, pegou-o da lama e colocou-o em cima do lombo de Cenoura, de barriga para baixo, de modo que seus pés caiam de um lado do animal, e seus braços, de outro.
                – Bem, deve haver boas estalagens por aqui... – E, dizendo isso, Louis pegou nas rédeas de Cenoura e se pôs a caminhar pela vila, até encontrar uma pequena hospedaria.
                – Mamãe... Por que seu colo é tão duro?... – Falava Harry Styles, delirando.
                Louis cuidou de arranjar quarto e refeição para ele e Harry, e um punhado de ração para Cenoura e Kevin.
                Depois de comer, foi deitar-se. Harry não comeu, desmaiou por horas e no quarto permaneceu. Como não haviam dois quartos disponíveis, foi Louis dividir um com o estranho. Talvez fosse até melhor ficar de olho naquele garoto... Claro, eram camas separadas, e foi só dentro destas condições que Louis aceitou o quarto.
                Quando finalmente deitou – enquanto Harry estava esparramado na cama, um filete de baba escorrendo em seu travesseiro – Louis pensou em Eleanor.
                Onde ela estaria? Será que esta bem? Pobre Eleanor... E foi se recordando da beleza da amada, que ele adormeceu, o rosto corado e um esboço de sorriso nos lábios.
               

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