Capítulo 6 – Um indício de amizade
L
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ouis já estava na estrada com
Cenoura e Kevin, e o dia era ensolarado e muito, muito bonito. Já saíra de
Holmes Chapel há pelo menos uma hora, e seu belo alazão alaranjado estava
trotando tranquilamente.
Pensava
simplesmente em Eleanor quando ouviu um pequeno ruído entre as árvores que
circundavam a estrada.
Parou Cenoura
e olhou em volta.
“Hum... Deve
ter sido apenas o vento.”, pensou. Puxou as rédeas e o cavalo já andava
novamente com seu passo calmo.
Porém, Louis
ouviu mais um farfalhar. Parou Cenoura novamente e obrigou-o a se virar. Olhou
mais atentamente para as árvores e arbustos dos dois lados da estrada. Estava
já convencido de que estava imaginando coisas, de que era apenas o vento,
quando outro pensamento lhe ocorreu:
“Não há vento
hoje... O ar está quente e parado.”.
Continuou
observando ao redor, mas não viu nada, então girou Cenoura para frente e
recomeçou a cavalgada.
...
Harry
continuou abaixado até ouvir os trotes do cavalo novamente. Depois disto, se
arrastou um pouco pela vegetação, temeroso de que o cavaleiro estivesse ainda
observando os arredores.
Harry tentava
ser o mais cuidadoso possível, mas, pelo jeito, ele não era muito bom nisso...
Ou Louis era realmente um excelentíssimo e bem treinado cavaleiro.
Styles ficara
admirado da figura de Louis. Mas não se engane, não é aquela admiração que
remete ao homossexualismo. É como um irmão mais novo admira o mais velho, e
sonha em se parecer com ele um dia; como um filho mais velho admira o pai, e
almeja ser tudo o que ele foi.
Talvez por
essa admiração, quando Harry achou que já havia despistado a atenção de Louis,
ele olhou para cima, erguendo um pouco a cabeça dos arbustos.
Lá estava o
cavalo de pelo alaranjado, trotando magnificamente, com... Ei! Espere aí? Mas
estava faltando o próprio cavaleiro! O cavalo estava trotando sozinh...
...
–
Ai! – Harry gritou quando sentiu um dos cachos de seu volumoso cabelo ser
puxado para cima.
Louis
descera de Cenoura estrategicamente, apenas esperando que seu seguidor espiasse
minimamente de seu esconderijo. Ele pegou sua espada e pôs na garganta do
atrevido, falando:
–
Mas quem diabos ousas me seguir?! – contudo, após olhar bem para o rosto de seu
mais novo refém, ele reconheceu Styles. – O que você está fazendo aqui?!
–
Eu, é... Bem... Eu... – Tentou explicar Harry, mas a proximidade da lâmina com
a sua garganta o deixava nervoso. Seus olhos esbugalhados não conseguiam
desviar a atenção de seu reflexo no metal bem polido.
Louis
suspirou profundamente e soltou Harry, que estava com as pernas tão bambas que
caiu no chão.
–
Ai, cara, será que você tinha mesmo que me segurar pelo cabelo, hein? – Harry
começou a se levantar. – Ei, espere, onde você está indo?! – Perguntou enquanto
Louis começava a montar Cenoura.
–
Embora. – respondeu o cavaleiro, sem sequer se virar para ele.
–
Ei, espere! Você não pode me deixar aqui!
–
Adeus.
–
Por favor, não se vá! Eu preciso...
–
Do svidaniya.
–
Calma aí! – Harry começou a correr atrás dele.
–
Sayonara.
–
É sério!
–
Au revoir.
–
EU IMPLORO!
–
MAS MEU DEUS! Em quantas línguas diferentes eu vou ter que dizer tchau pra
você? – Louis parou o cavalo. Harry correu e ficou de frente para Louis, que
tinha um porte extremamente imponente de cima de Cenoura.
–
Eu quero ir junto com você. – Falou humildemente Harry.
–
O quê? Você está maluco?!
–
Não, eu não estou maluco.
–
O que é que te faz querer seguir viagem comigo?! Por acaso sabe sequer o que
estou fazendo ou para onde estou indo?
–
Er... Não... Mas é que... Eu só... Bem, a verdade é que, quando te vi pondo o
uniforme de cavaleiro, lá na hospedaria, eu... Eu senti alguma coisa. – Ao que Louis fez uma cara de nojo, Harry
acrescentou, irritado – Não por você, idiota! Foi pelo que você faz. Ser um
cavaleiro! Foi como se eu me enxergasse numa armadura, carregando uma espada,
montado em um cavalo, como você está agora. Sabe, eu passei quase dezenove anos
da minha vida vagabundeando e vivendo do dinheiro das mulheres que eu achava
bonitas (infelizmente elas são minha fraqueza), quando não fazia alguns
pequenos bicos. Mas nunca tive um emprego fixo. Nunca dormi em um mesmo lugar
por mais de dois dias. E é por isso que eu estou te falando essas coisas,
porque eu me espelhei na sua imagem hoje de manhã, e algo na minha cabeça me
disse que eu tinha achado meu caminho. É isso que eu quero. Eu quero ser um
cavaleiro! – Harry começara o discurso de forma um tanto atrapalhada, mas, ao
longo de seu desenvolvimento, ele assumiu uma característica quase heroica, e,
se estivéssemos em um filme, aquelas musiquinhas épicas estariam tocando no
fundo.
Louis,
porém, irrompeu gargalhadas:
–
HAHAHAHAHAHA! Ouviu isso Kevin?! Ele tá achando que ser cavaleiro é fácil!
Harry
não gostou e fechou a cara.
–
Isso é sério, cara!
–
Já disse pra não me chamar de cara.
–
Tá, é... Qual seu nome mesm... Ah, é! Louis. Isso é sério Louis!
–
Você, por acaso, sabe manejar uma espada?
–
Não.
–
Um arco?!
–
Não.
–
Já segurou um escudo?!
–
É... Não.
–
Já cavalgou?
–
Não.
–
Já participou de alguma disputa armada?
–
Ah! Isso sim.
–
Qual?
–
Disputei uma bela donzela com um brutamonte uma vez... Eu ganhei.
–
E estava armado com o quê?
–
Ah, eu estava armado com a arma mais poderosa de todas em combate.
–
Qual?
–
Meu charme.
–
Afe... Não acredito. – Louis cutucou Cenoura e começou a andar novamente.
–
Espere, por favor! – Harry estava aflito. – Eu preciso ir com você, eu sinto
isso em minhas veias! E... Eu posso te ajudar...
–
Como assim?! Ajudar com o quê?!
–
Ah, sei lá, com a missão em que você está!
Louis,
nervoso, parou Cenoura e desceu novamente. Foi até Harry e pegou-o pelo
colarinho.
–
A missão em que estou envolve uma princesa. Uma princesa que foi sequestrada
por uma bruxa, e a mão dela em casamento, em competição com outros três
príncipes que também estão tentando resgatá-la, assim como eu. A missão em que
estou é perigosa. Requer muito mais
do que jovenzinhos charmosos que querem se achar na vida. Eu não dou a mínima
pra você!
–
Uhhhh!!! Você gosta da princesa?!
–
Gosto.
–
Ela é bonita?
–
Ela é linda e... Ei, não tente mudar de assunto!
–
Tá... É só que... Você, pelo que entendi, tá indo lutar contra uma bruxa
sozinho...
–
É, sim! E daí?!
–
Daí... – E Harry foi delicadamente tirando as mãos de Louis de seu colarinho. –
Que você é um doido.
–
Pouco me importa. – Louis já estava voltando para seu cavalo.
–
E está tentando competir a mão e o resgate de uma princesa com três
príncipes...
–
E? – Louis colocou o pé no estribo.
–
Príncipes têm recursos, têm exércitos... E você está sozinho.
–
E está me sugerindo que você seja meu exército?
–
Duas cabeças pensam melhor do que uma...
–
Você não tem treinamento. Vai ser antes um fardo do que uma ajuda.
–
Por favor...
–
Não.
–
Por favor...
–
Não. – Louis olhou para Harry, e viu um olhar de tristeza misturado com um
pedido de piedade, mais um mínimo de esperança. – Não faz essa cara que não dá
certo... Pare com esse olhar de gatinho pidão!
“Ai,
meu Deus!”. Por mais que Louis estivesse sendo frio e duro com Harry, dentro de
si, ao ver aquele olhar, ele hesitou. Lembrou-se de seu pai, que não tivera
oportunidades quando garoto, e por sorte virou cavaleiro, e adorava o que
fazia. Se não tivesse salvado Simon, talvez Louis fosse agora um pobríssimo
rapaz que passasse fome, ou talvez nem existisse. Harry também lembrou a Louis
a si próprio. Lembrou um garoto apaixonado, mas que nunca, por questões
hierárquicas, conseguiria casar-se com a mulher que amava. Pensou em quanto ele
sonhava com isso. E o quanto saber que aquilo era impossível o deixava trite.
E, agora que a oportunidade de casar-se com a princesa surgia, ela parecia
morrer com os obstáculos que teriam de ser enfrentados. Uma bruxa, três
príncipes...
Louis
de repente se sentiu terrível. Percebeu que ele estava sendo para Harry a
oportunidade e a própria desilusão ao mesmo tempo.
E
foi isso que o fez mudar de ideia.
–
Ai, eu vou me arrepender disso! – Suspirou, e o olhar de Harry se iluminou. –
Você pode vir comigo. Mas, antes, tem de prometer a mim que tem consciência de
que estamos embarcando em uma viagem da qual talvez não voltemos, ou, se
voltarmos, talvez seja de mãos vazias, com a certeza de nunca seremos os mesmos
novamente.
Harry
sorriu um sorriso determinado e tão carregado de convicção, que fez Louis se
surpreender.
–
Eu tenho absoluta consciência de tudo. E estou preparado para encarar as
consequências de meus atos.
Louis
sorriu, e fez sinal para que Harry montasse em Cenoura com ele.
–
Temos de arranjar logo um cavalo para você. – falou.
E,
com isso, os dois partiram.
Depois
de um tempo calados, Harry perguntou:
–
Acredita em destino?
–
Não.
Harry
sorriu, mesmo com a resposta mal-humorada de Louis. Ele nunca acreditara em
caminhos pré-tracejados. Mas tinha certeza de que tinha sido obra do destino
que aqueles dois se encontrassem. Aquele encontro era para ter acontecido, e Harry sentia isso em todas as fibras de
seu ser.
Nenhum
dos sois sabia, mas nascia ali um indício de uma amizade tão poderosa que seria
capaz de derrotar a mais cruel das bruxas. Uma amizade que quebraria barreiras. E
que duraria para sempre...
Tá ótimo Elissa!!
ResponderExcluirContinua quee tá perfeito!!!
Awn a amizade dos dois vai ser perfeita!
XxTatii