terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O Cavaleiro e a Princesa - Capítulo 7


Capítulo 7 – As músicas

“E
u tinha, uma galinha, que se chamava Mery Loo...”
        Louis suspirou pela centésima vez, tentando acalmar os nervos. Harry vinha cantando há pelo menos uma hora. Tinha perguntado se podia cantar. Louis respondeu que sim, afinal, ele também gostava de música... Mas já estava virando tudo uma piada.
         - Era uma vez um gato xadrez que fez cocô na boca de três...
         - CHEGA! – Louis berrou.
        Harry deu um pulo em seu cavalo.
       É, tinham arranjado um cavalo para Harry. Em três horas de caminhada haviam chegado a outro vilarejo onde conseguiram comprar – com um dinheiro que Harry havia roubado do taberneiro – um belo alazão. Harry o chamou de Twix. Mas, voltando ao assunto, Harry deu um pulo em cima de Twix.
     - VOCÊ NÃO PAROU DE CANTAR MÚSICAS TERRÍVEIS COMO ESSA DESDE QUE COMEÇOU A ABRIR A BOCA!
          Harry ficou vermelho.
          - Desculpe. – respondeu.
          - De onde é que você tira essas letras?!
          - Ah, cara, quer dizer, Louis, você conhece música melhor, por acaso?!
          - Mas é claro que eu conheço!
          - E sobre o que as letras delas falam, hein? – falou Harry, cínico.
          - Ora, sobre amor, é claro. Do que mais poderia ser?
          - Então canta uma, já que são tão melhores que as minhas...
         - Tá, eu canto, sim... – Harry estreitou o olhar para Louis, que arranhou a garganta para começar a cantar.


*“Hun tal home sei eu, bem talhada
Que por vós tem a sa morte chegada;
Vides quen é e seed'en nanbrada;
Eu, mia dona.

Hun tal home sei eu que preto sente
De si morte chegada certamente;
Vêdes quem é e venha-vos en mente;
Eu, mia dona.

Hun tal home sei eu, aquest'oide:
Que por vós morr' e vo-lo en partide,
Vêdes quem é e non xe vos obride;
Eu, mia dona.”
*Cantiga de amor trovadoresca escrita por El-rei D. Dinis.
               
Harry irrompeu uma gargalhada.
- Chama isso de música?!
- Chamo sim, melhor que as suas!
- Mas não é mesmo! Olha, cara, digo, Louis, é melhor nenhum de nós cantar... Se as minhas são ridículas, as suas são... Demasiado clássicas...
Louis ficou emburrado. Ele gostava muito de cantar, e apreciava a música da época. Mas não se aborreceu por muito tempo... Enquanto seguia caminho, pôs-se a pensar em Eleanor.
Ah! Eleanor, como era bela! E como estava triste o coração de Louis. Queria ver, acima de tudo, a princesa salva. Mas ela ser salva significaria que eles estariam separados para sempre (uma vez que Louis não contava que ele conseguisse salvá-la sozinho), e pensar na sua belíssima El casada com outro homem também doía muito para ele...
Lembrou-se de um de seus encontros, quando ambos deviam ter ainda uns catorze anos.
“- Ah, Louis! Me devolve! Vai, me dá! – Eleanor gritou, tentando pegar seu sapato de volta. – Meus pés vão ficar todos sujos de lama e saberão que estive aqui com você! – Estavam naquele mesmo bosque, o da primeira vez em que tinham se falado.
- Então vai ter que me dar um beijo!!! – Louis esticou a bochecha para ela, achando que a princesa cederia para pegar o sapato de volta.
Ele esperou um beijo. Mas não foi isso que ele levou.
A palma bateu com tudo em seu rosto, e um formigamento intenso começou. Doeu.
- Mas quanta ousadia! – Ela disse, exasperada e irritada. – Nunca mais faça isso! Não sou submissa a você! Devolva-me imediatamente! – Repare como Eleanor mudou seu tom de conversa para uma forma muito mais culta. Ela costumava falar daquela maneira, mas quando estava a sós com Louis, era diferente. Era a primeira vez em muito tempo, desde que eles haviam admitido certa intimidade, que ela falava daquele jeito.
Mas, mesmo sob o “ataque” da princesa, Louis não devolveu. Eleanor então, esbanjando raiva e orgulho, ao invés de sua constante calma e delicadeza, virou-se e começou a sair do bosque.
                Louis não entendeu porque ela se afastava sem o sapatinho, a princípio.
Depois, vendo que ela estava realmente saindo do bosque, ele, com medo de que a descobrissem com ele, correu para lhe dar o sapatinho.
– Eleanor! Espere! – gritou.
Ao chegar perto dela, Eleanor lhe lançou o olhar que uma rainha lançaria em desafio a alguém, e então Louis entendeu porque ela preferia ser descoberta a beijar-lhe o rosto. Uma princesa, antes de mais nada, também é mulher, e ser desafiada daquela maneira por um ser “inferior” em todos os aspectos deixou Eleanor nervosa. Foi uma afronta à sua condição, mas mais ainda à sua pessoa. E ela preferia sair sem o sapato a deixar-se ceder às peripécias de um rapazinho abusado.
Eles ficaram assim, se olhando, por um bom tempo, até que Louis ajoelhou-se diante dela, e, delicadamente, pegou o pé da princesa. Eleanor hesitou, sem saber o que ele pretendia, mas ele insistiu, e ela compreendeu.
Louis encaixou o sapato no pé dela, e curvou a cabeça, em sinal de respeito, pedindo perdão silenciosamente com o gesto.
Quando deu por si, Eleanor estava agachada a seu lado. Ele arriscou olhar para ela, e seus rostos estavam muito próximos. Olhares fixos, ela sorriu, e beijou-lhe a face de repente.
– Esta, sim, é a atitude de um cavalheiro. Esta, sim, merece uma recompensa.
Depois, se levantou e foi embora, deixando Louis para trás.
Ele ainda ficou embasbacado com tudo o que havia acontecido, mas permaneceram várias sensações dentro dele. Naquele dia Eleanor ensinara-lhe respeito e limite, e a intimidade deles continuou, mas sem aquele tipo de ousadia.”.
Louis riu lembrando-se do rapazinho abusado que tinha sido.
– Ai, ai, Eleanor... Ninguém se compara a você.
– O que você disse? – indagou Harry.
– Hã? – Louis de repente acordou de suas lembranças.
– Eu perguntei o que você disse! Da Eleanor.
– Que ninguém se compara a ela.
– Isso sim é um bom tema para uma música.
            Louis sorriu, voltando ao contexto.
            – Concordo.
            – Você gosta mesmo dela, não é?
            – Infinitamente.
            – E vai mesmo competir pela sua mão e salvação, não é?
            – Com certeza. Ninguém no mundo poderia me impedir de ir em frente, porque mesmo que eu quisesse, ninguém se compara a ela.
            – Haha, isso dá uma bela letra de música.
            – Como?!
            – Ah, sei lá, ponha um pouco de ritmo e... No one in the world could stop me from not moving on, because even if I wanted to, nobody compares to her...”.
– Não, não! Mude o final para “Nobody compares to you”. Como uma declaração. Fica melhor e rima.
– Tem razão. Você manda bem.
– E você tem uma voz muito boa... Quando canta músicas boas...
Harry e Louis sorriram e ficaram cantando o refrão, depois de um tempo acrescentando outras partes a sua nova música.
A certa altura, o sol estava tão forte, que Louis ficou com a garganta seca.
– Ah... Minha garganta tá muito seca! Temos que economizar água, por aqui não há rios por perto. Harry, você está com os cantis...
– É... estou...
            – Por que essa hesitação?!
– É que...
– É que?
– Eu dei toda a água pro Twix há uma hora, mais ou menos... Achei que a gente fosse encontrar um rio pelo caminho...
Ao ouvir isso, Louis ficou vermelho e pareciam que iam sair fumaças de suas orelhas. Estavam agora com um problema sério: Sem água. E quase sem comida.
“HARRY!” – foi a última coisa que ele gritou, muito, muito alto.



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