sábado, 16 de março de 2013

Capítulo 9 - O Sitiante



Capítulo 9 – O Sitiante



L

ouis acordou sentindo um forte cheiro de madeira e ambiente fechado. A boca estava seca, e isso lhe fez lembrar-se dos últimos instantes passados antes que ele desmaiasse.
                Porém, apesar da boca seca, Louis não estava com muita sede. “O que será que aconteceu?”, pensou, abrindo os olhos logo em seguida. Logo o cheiro que sentia combinava com a paisagem. Louis estava deitado numa cama, num quarto não muito grande, revestido de madeira do chão ao teto. À sua frente, uma penteadeira velha e também de madeira maciça, com apenas um pente, uma bacia com água, um pequeno espelho de mão e uma toalha desgastada e encardida.
                “Onde estou?”, ele se perguntava em seu subconsciente. “Será que eu e Harry fomos sequestrados por saqueadores?”
                Foi só aí que ele se lembrou de Harry, e uma enxurrada de perguntas invadiu sua mente. Onde estaria? Passaria bem? Morrera? Fora deixado para trás? Onde o próprio Louis estava? Aquele lugar era seguro?
                As perguntas, todas sem resposta, morreram quando Louis ouviu um grito feminino vindo de algum lugar mais baixo. Supôs estar no segundo andar do local, seja lá qual fosse esse local, e seu instinto, ao ouvir o grito, levou-o a procurar sua espada.
                Reparou apenas neste momento que não estava com a armadura, e sua espada também não estava no aposento. Perguntou-se ainda de Cenoura, Twix e Kevin, mas não se demorou muito com isso. Pegou, então, o pente que estava sobre a penteadeira, e foi até a porta.
                Abrindo a porta, ela dava de frente para um pequeno e estreito corredor com corrimão, com vista para o andar de baixo. Neste último, via-se a sombra de uma mulher e de um homem muito próximos, que se confundiam, enquanto ela novamente gritava:
                – Solta! Solta! – Oh, não! Estavam sequestrando uma dama... Ou coisa pior!
                Louis desceu as escadas correndo, enquanto a moça continuava a gritar, e ele ouvia barulho de tapas. Ele jamais deixaria tratarem uma dama daquela maneira. Ergueu o pente que trazia na mão direita, pronto para bater no agressor da milady que estava berrando.
                Pulou o último degrau da escada – que esqueci de mencionar – também era de madeira, e automaticamente virou seu corpo na direção dos gritos.
                Mas a cena que ele encontrou foi um tanto inesperada.
                Na verdade, a dama é que estava batendo no rapaz. E o rapaz era Harry, que estava com a boca lambuzada de chocolate, e a mão segurando uma travessa com... Bolinhos?
                É. Sim. Eram bolinhos. A situação logo pôde ser deduzida: Harry não estava sendo atacado, mas atacando, na verdade, uma bandeja de bolinhos. A moça tentava desesperadamente afastá-lo dos quitutes.
— Solta isso, seu guloso! Eles são a sobremesa! Solta! Solta!
Ao verem Louis, tanto a moça quanto Harry pararam. Ela correu para o cavaleiro.
— Faça seu amigo parar, por favor! Ele já comeu toda a reserva de bolachas, e agora está acabando com meus bolinhos! — Ela estava aflita.
Louis saltou para Harry e arrancou a bandeja de suas mãos. Em seguida, deu um tapinha na cabeça do companheiro de cabelos encaracolados.
–Ai, isso doeu! – Harry emburrou.
– Por que estava desobedecendo esta jovem e adorável dama? – falou Louis, devolvendo a bandeja à moça. – Não viu que ela estava lhe pedindo educadamente que devolvesse a bandeja a ela?
– Educadamente?
– Perdoe o meu amigo, senhora. - Ela corou quando ele pegou-lhe a mão e beijou cordialmente a mesma.
– Ora... Mas que amigo? – Ela já até se esquecera de Harry e os bolinhos, acabrunhada com o cavalheirismo de Louis.
– Como a senhora se chama?
– Eu? Ah, eu – “ai caramba, como é que eu me chamo mesmo?” – Ah, sim, sou Nicola.
– Nicola! É um imenso prazer conhecê-la. Sou Louis Willian Tomlinson, cavaleiro real de Cowell.
– UAU! Um cavaleiro! Minha nossa! Ruth vai adorar saber disso!
– Ruth? – Perguntou Louis.
– Sim, minha irmã! Ô RUTH, VEM CÁ!
Passos foram ouvidos pelo andar de cima. Logo, outra mulher estava descendo as escadas.
– Oh, já acordaram! – Ela disse. – Olá, sou Ruth! Quem são vocês?
– Este é Louis Tomlinson, cavaleiro do rei! – Nicola fez as honras da apresentação, enquanto se agarrava ao braço de Louis. – E aquele ali é... pois é, né?
Harry fez uma careta.
– Eu sou Harry Styl...
– SHHHHHH! – Fez Nicola.
– Mas..
– SHHHHHH!
– O que, mas eu...
– SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
– Calei. – Harry ergueu as mãos para o alto, revoltado.
– Um cavaleiro, hein! Bem que o Liam falou que vocês não eram andarilhos comuns!
– Liam? – quis saber Louis.
– Sim, nosso irmão mais novo. Ele encontrou vocês desmaiados, e os trouxe em sua carroça. Seus cavalos e seu estranho pássaro de estimação também estão aqui. – Louis sorriu ao ouvir Ruth terminar a frase. Então Twix, Cenoura e Kevin estavam em segurança. – Aliás, Liam deve estar chegando em poucos minutos. Ele foi pegar água para nós.
– Há quanto tempo eu estava apagado? – Perguntou Louis.
– Há dois dias. Seu amigo acordou um pouco antes que você, e eu o peguei comendo os bolinhos... – Falou Nicola, se colando ainda mais no corpo de Louis.
– Mas, então... O que um cavaleiro estava fazendo quase morto à beira de uma estrada?
Harry quis responder:
– Ah, isso é uma longa histó...
– SHHHHHHHHHHH! – Fez novamente Nicola.
– Ah, isso é uma longa história... – Falou Louis.
– Oh, conte-a, eu ADORO longas histórias!
– Eu também gosto! Aliás, estou curioso para saber um pouco a respeito dos dois rapazes que resgatei há duas tardes! – A voz masculina assustou a Louis e Harry, mas Nicola largou o braço do cavaleiro e correu para abraçar o novo rosto que entrava.
– Liam! – Ela beijou-lhe as bochechas. Liam era um rapaz que beirava a idade de Harry, tinha olhos castanho-claros muito chamativos, e um cabelo loiro escuro bem ralo. – Que bom que chegou! Esse – Nicola apontou para Louis – é o cavaleiro Louis Tomlinson! Ouviu, ele é um cavaleiro!
Ao dar-se conta da agitação da irmã, Liam disse:
– Controle-se Nicola. Não vai me apresentar o companheiro do cavaleiro?
– Ah, pois é, né?...
– Prazer, eu sou Harry Styl...
– SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Berrou Nicola.
– Mas MEU DEUS!
– SHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
– Nicola, vá preparar o jantar, por favor. – Liam falou à irmã.
Nicola e Ruth foram até o fogão, e Liam chamou Louis e Harry para uma pequena salinha adiante, onde um fogo crepitava numa lareira.
– Acho que aqui teremos privacidade. Prazer, sou Liam Payne, atual proprietário deste sítio em que se encontram, e acho que vocês já conheceram minhas irmãs mais velhas, Nicola e Ruth.
– Oh, sim, moças adoráveis! – Exclamou Louis.
– É... Adoráveis... – Acrescentou Harry em tom irônico.
– Mas então... Vocês são cavaleiros?! Eu logo percebi pela roupa.
– Sou Louis Tomlinson – Eles apertaram as mãos. – Cavaleiro do reino Cowell.
– E eu sou Harry Styles, romântico incorrigível do vilarejo de Holmes Chapel.
Louis olhou estranho para Harry, pela sua apresentação. Mas... Fazer o quê...
– Gostaria de agradecer por ter nos resgatado. – Falou Louis.
– Não há de quê. Vocês estavam desidratados e à beira da morte quando os encontrei. Estava voltando da capital de Cowell, onde havia ido vender a lã das minhas ovelhas, quando os encontrei. Imediatamente os trouxe para cá, e Ruth esteve cuidando de vocês esse tempo todo.  
– Muito obrigado mesmo, de coração. – disse novamente Louis.
– Já disse que não há de quê... Mas estou curioso, o que vocês dois faziam sozinhos, sem água, no meio de uma estrada rumo ao interior?
– Estamos em missão. – Falou Harry.
– Harry, deixa que eu falo. – disse Louis. – Estamos em uma missão.
Harry revirou os olhos. “Até ele!”, pensou.
– Ah, que legal! Sabe, eu sempre quis ser um cavaleiro, entrar em uma missão, empunhar uma espada, salvar donzelas, proteger o reino e o rei e defender os inocentes e indefesos! Mas, depois que meus pais morreram, eu tive, como único filho, que assumir o sítio e tomar conta de Ruth e Nicola.
– Bem, não é tão fácil como parece.
– Será que vocês poderiam me contar em que tipo de missão estão?
Louis ponderou. Não sabia se era bom ficar espalhando por aí sobre a missão em que estava, ainda mais para outro rapaz que queria ser cavaleiro. Porém, acabou cedendo diante do olhar de Liam, como o de uma criança ansiosa para saber as aventuras do pai bucaneiro.
– Bom... Eu... Estou viajando para resgatar a princesa Eleanor Calder.
– Ah, sim, só se fala disso em Cowell! Dos príncipes que partiram há dois dias atrás da princesa. Mas você estava viajando sozinho com ele... – falou Liam, se referindo a Harry com “ele”.
– Eu formei uma expedição à parte. Quero eu mesmo resgatar a princesa.
– Então você vai enfrentar uma bruxa pela mão da moça?!
– Eu não estou indo resgatar a princesa Eleanor apenas porque quero me casar com ela. Ela... Ela é tudo para mim. – O peito de Liam se apertou novamente com a lembrança de Eleanor.
– Oh, mas que lindo! – Liam compreendeu. – Você a ama de verdade! Meu Deus, você tem um motivo duplo para salvá-la! Porque a ama e para não deixar que outro se case com ela no seu lugar!
– Tenho dúvidas de que, por não ser príncipe, mesmo resgatando a princesa, não me case com ela. Mas eu simplesmente não podia ficar em Cowell esperando dias, meses, anos... Eu não suportaria.
Uma lágrima escorreu pelos olhos de Harry.
– Harry, você está chorando? – perguntou Louis.
– Não, só estou com um cisco no olho...
– E onde está a sua expedição? – perguntou Liam.
– É... Bem... – Louis apontou Harry com a cabeça.
– São apenas vocês?
– Sim.
– Mas é impossível apenas vocês dois lutarem contra uma bruxa!
Louis quis protestar diante da má fé de Liam, mas sabia que ele estava certo.
– Tenho que tentar! O reino não me forneceu nenhum homem... Eu fugi e estou indo por conta própria.
Liam admirou a coragem do cavaleiro e de seu companheiro, que já havia deduzido ser um rapaz comum.
– Se houver alguma coisa que eu possa fazer para ajudar...
– Você já ajudou muito Liam... Salvou nossas vidas.
Liam sorriu, e nesse momento a voz de Nicola chamou-os para jantar.
Eles foram rumo à pequena mesa onde o jantar estava sendo servido. Várias velas haviam sido acesas, pois a noite estava começando a cair.
– HUMMM! NHUMI-NHUMI! – exclamou Harry estendendo a mão para uma bandeja cheia de cozido.
Nicola saltou sobre ele e acertou-o com uma garfo de pau.
– Afaste-se do meu cozido! – ela disse batendo com o garfo em sua mão.
– AI! POR QUE VOCÊ ESTÁ BATENDO EM MIM COM UM... Hã? Garfo de pau?
– O Liam tem medo de colheres. E não encoste no meu cozido!
Já todos sentados à mesa, Nicola serviu os pratos e os copos, com exceção os de Harry.
– Nicola... – Advertiu Liam, em tom sério.
A contragosto, ela pôs um pouco de cozido fumegante no prato de Harry. Quando foi servir o chá quente para acompanhar, porém, acabou derramando um pouco em sua calça.
– Ai, tá quente!
– Ah, desculpa, eu te machuquei? – fez em um tom cínico.
– Esquisita.
– Baleio.
– O quê? Baleio não existe!
– Baleio!
– Mas...
– SHHHHHHHH!
O jantar prosseguiu alegre, com Louis contando algumas de suas aventuras e até algumas piadas.
– Então, aí o escudeiro falou pro rei: Cara, se toca, você se acha o rei por acaso? Hahahahahahaha.
– HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! – Todos riram muito, principalmente Nicola. – Louis, você é tão engraçado! – Ela disse.
– Eu também tenho uma. – Falou Harry. – Um dia, a colher viu seu reflexo na espada e falou: Gente, o que aconteceu comigo? Hahahahahaha...haha...ha...ha?
Ninguém estava rindo.
– Você não sabe contar piada. – Disse Nicola, encarando-o de cara feia.
– Eu desisto. – Falou Harry.
– Mas, e então, Louis, onde é que fica a fortaleza da bruxa Flack? – perguntou Liam.
– Ah, bem... Hã... – Louis, então, percebeu pela primeira vez algo importante. Ele não fazia ideia para onde estava indo.
Simplesmente não acreditou. Esse tempo todo estivera rumando para algum lugar que ele nem sabia onde estava. Louis não sabia onde procurar! Não sabia por onde começar! Não sabia nem absolutamente nada sobre a bruxa.
Ficou com esse pensamento o resto do jantar, até subir para seu quarto e ir lavar o rosto, escondendo-se um pouco de Nicola.
Mais ou menos uma hora depois, resolveu ir ao celeiro, onde Liam dissera que estavam os cavalos e Kevin, para ver como eles estavam.
Desceu as escadas e viu Harry tentando assaltar mais um pote em cima de um armário, mas ignorou o fato. Saiu da casa e se deparou com um pequeno lugar descampado, logo em frente a uma estrada. À sua direita, um pequeno lago, de onde imaginou que Liam pegasse água. Ao longe, um conjunto de carneiros, dos quais Liam vendia a lã.
Logo atrás da casa, ficava o celeiro. Enquanto se aproximava, Louis ouvia gradativamente o barulho de alguma coisa metálica, e gemidos.
Encontrou Liam manejando sem habilidade sua espada, de um lado para o outro, desajeitado. Uma luz forte vinha de dentro do celeiro, e iluminava o jovem sitiante.
– Ah, eis o paradeiro de minha espada! – Exclamou Louis.
Liam se assustou tanto que virou a espada e ela acabou fincando numa viga que sustentava uma das paredes de fora do celeiro.
– Ah, me desculpe! – Ele ficou vermelho, sem saber onde se esconder de tanta vergonha.
– Não tem problema! – Louis riu do embaraço do novo colega. – Se me permitir, gostaria de te ensinar a mexer melhor com a espada.
O rosto de Liam se iluminou.
– Eu adoraria!
Liam tentou fazer alguns movimentos que Louis ensinava. Não obteve sucesso, infelizmente.
– Acho que vida de cavaleiro não é mesmo pra mim...
– Jura? Eu acho que estava se saindo muito bem! Na verdade... – Louis hesitou, mas acabou prosseguindo. – Eu ia pedir que se juntasse a mim e a Harry em nossa missão.
A expressão de Liam foi de surpresa, êxtase e felicidade. Contudo, todas as boas sensações apagaram-se de suas feições, dando lugar à tristeza.
– Eu... Eu não posso... Tenho muito trabalho aqui. Tenho que cuidar de minhas irmãs...
– Então, sinto muito... Mas, pense. Tem até amanhã para me dar a resposta, antes de partirmos.
Liam não respondeu, apenas ficou calado, em seus pensamentos. De repente, exclamou:
– Ah, sim! Acabo de lembrar-me! Tenho algo que talvez possa ser útil para você!
Liam conduziu Louis até o interior da casa novamente. Não havia mais sinal de Harry, Nicola ou Ruth.
Passaram pela lareira até uma pequena prateleira embutida, com alguns livros. Liam pegou um com a capa preta e desbotada, cheio de papéis soltos e velhos.
– Este é um dos diários de meu bisavô. Ele participou há muitos anos daquela campanha contra aquele grupo de bruxos, você já ouviu falar?
– Sim, aquele que se autodenominava “Comensais da Morte”.
– Exato! Aqui, ele relata tudo o que descobriu sobre bruxos e bruxas. Suas fraquezas e o que aumenta seu poder, sua aparência, e até supostamente onde poderiam viver. Eu já li tudo várias vezes, e sei de trás para frente. Como está lidando com bruxas, pode lhe ser útil. Apesar de saber quase tudo, não consigo me lembrar especificamente de alguma anotação que tenha lido sobre o lugar onde Flack morava... Você pode ficar procurando. Quero que leve-o com você.
Louis ficou emocionado. Emocionado por um rapaz que acabara de conhecer, e que já havia feito a ele tanto, mas tanto, que ele não tinha como retribuir.
– Obrigado. Muito obrigado mesmo! Tem certeza de que não quer se juntar a mim e a meu companheiro em nossa aventura?
– Eu... – Liam hesitou. Seus olhos se enchiam de esperança, mas logo se entristeciam. Isso aconteceu várias vezes em questão de segundos, antes de ele dar a resposta. – Eu não posso, sinto muito.
Louis assentiu, pegou o diário, e começou a subir as escadas, ansioso para folheá-lo. Liam ficou para trás, afundado em pensamentos.
 

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