Capítulo 9 – O Sitiante
L
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ouis acordou sentindo um forte
cheiro de madeira e ambiente fechado. A boca estava seca, e isso lhe fez
lembrar-se dos últimos instantes passados antes que ele desmaiasse.
Porém,
apesar da boca seca, Louis não estava com muita sede. “O que será que aconteceu?”,
pensou, abrindo os olhos logo em seguida. Logo o cheiro que sentia combinava
com a paisagem. Louis estava deitado numa cama, num quarto não muito grande,
revestido de madeira do chão ao teto. À sua frente, uma penteadeira velha e
também de madeira maciça, com apenas um pente, uma bacia com água, um pequeno
espelho de mão e uma toalha desgastada e encardida.
“Onde
estou?”, ele se perguntava em seu subconsciente. “Será que eu e Harry fomos
sequestrados por saqueadores?”
Foi
só aí que ele se lembrou de Harry, e uma enxurrada de perguntas invadiu sua
mente. Onde estaria? Passaria bem? Morrera? Fora deixado para trás? Onde o
próprio Louis estava? Aquele lugar era seguro?
As
perguntas, todas sem resposta, morreram quando Louis ouviu um grito feminino
vindo de algum lugar mais baixo. Supôs estar no segundo andar do local, seja lá
qual fosse esse local, e seu instinto, ao ouvir o grito, levou-o a procurar sua
espada.
Reparou
apenas neste momento que não estava com a armadura, e sua espada também não estava
no aposento. Perguntou-se ainda de Cenoura, Twix e Kevin, mas não se demorou
muito com isso. Pegou, então, o pente que estava sobre a penteadeira, e foi até
a porta.
Abrindo
a porta, ela dava de frente para um pequeno e estreito corredor com corrimão,
com vista para o andar de baixo. Neste último, via-se a sombra de uma mulher e
de um homem muito próximos, que se confundiam, enquanto ela novamente gritava:
–
Solta! Solta! – Oh, não! Estavam sequestrando uma dama... Ou coisa pior!
Louis
desceu as escadas correndo, enquanto a moça continuava a gritar, e ele ouvia
barulho de tapas. Ele jamais deixaria tratarem uma dama daquela maneira. Ergueu
o pente que trazia na mão direita, pronto para bater no agressor da milady que
estava berrando.
Pulou
o último degrau da escada – que esqueci de mencionar – também era de madeira, e
automaticamente virou seu corpo na direção dos gritos.
Mas
a cena que ele encontrou foi um tanto inesperada.
Na
verdade, a dama é que estava batendo no rapaz. E o rapaz era Harry, que estava
com a boca lambuzada de chocolate, e a mão segurando uma travessa com...
Bolinhos?
É.
Sim. Eram bolinhos. A situação logo pôde ser deduzida: Harry não estava sendo
atacado, mas atacando, na verdade, uma bandeja de bolinhos. A moça tentava
desesperadamente afastá-lo dos quitutes.
— Solta isso,
seu guloso! Eles são a sobremesa! Solta! Solta!
Ao verem
Louis, tanto a moça quanto Harry pararam. Ela correu para o cavaleiro.
— Faça seu
amigo parar, por favor! Ele já comeu toda a reserva de bolachas, e agora está
acabando com meus bolinhos! — Ela estava aflita.
Louis saltou
para Harry e arrancou a bandeja de suas mãos. Em seguida, deu um tapinha na
cabeça do companheiro de cabelos encaracolados.
–Ai, isso
doeu! – Harry emburrou.
– Por que
estava desobedecendo esta jovem e adorável dama? – falou Louis, devolvendo a
bandeja à moça. – Não viu que ela estava lhe pedindo educadamente que
devolvesse a bandeja a ela?
–
Educadamente?
– Perdoe o meu
amigo, senhora. - Ela corou quando ele pegou-lhe a mão e beijou cordialmente a
mesma.
– Ora... Mas
que amigo? – Ela já até se esquecera de Harry e os bolinhos, acabrunhada com o
cavalheirismo de Louis.
– Como a
senhora se chama?
– Eu? Ah, eu –
“ai caramba, como é que eu me chamo mesmo?” – Ah, sim, sou Nicola.
– Nicola! É um
imenso prazer conhecê-la. Sou Louis Willian Tomlinson, cavaleiro real de
Cowell.
– UAU! Um
cavaleiro! Minha nossa! Ruth vai adorar saber disso!
– Ruth? –
Perguntou Louis.
– Sim, minha
irmã! Ô RUTH, VEM CÁ!
Passos foram
ouvidos pelo andar de cima. Logo, outra mulher estava descendo as escadas.
– Oh, já
acordaram! – Ela disse. – Olá, sou Ruth! Quem são vocês?
– Este é Louis
Tomlinson, cavaleiro do rei! – Nicola fez as honras da apresentação, enquanto
se agarrava ao braço de Louis. – E aquele ali é... pois é, né?
Harry fez uma
careta.
– Eu sou Harry
Styl...
– SHHHHHH! –
Fez Nicola.
– Mas..
– SHHHHHH!
– O que, mas
eu...
–
SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
– Calei. –
Harry ergueu as mãos para o alto, revoltado.
– Um
cavaleiro, hein! Bem que o Liam falou que vocês não eram andarilhos comuns!
– Liam? – quis
saber Louis.
– Sim, nosso
irmão mais novo. Ele encontrou vocês desmaiados, e os trouxe em sua carroça.
Seus cavalos e seu estranho pássaro de estimação também estão aqui. – Louis
sorriu ao ouvir Ruth terminar a frase. Então Twix, Cenoura e Kevin estavam em
segurança. – Aliás, Liam deve estar chegando em poucos minutos. Ele foi pegar
água para nós.
– Há quanto
tempo eu estava apagado? – Perguntou Louis.
– Há dois
dias. Seu amigo acordou um pouco antes que você, e eu o peguei comendo os
bolinhos... – Falou Nicola, se colando ainda mais no corpo de Louis.
– Mas,
então... O que um cavaleiro estava fazendo quase morto à beira de uma estrada?
Harry quis
responder:
– Ah, isso é
uma longa histó...
– SHHHHHHHHHHH!
– Fez novamente Nicola.
– Ah, isso é
uma longa história... – Falou Louis.
– Oh, conte-a,
eu ADORO longas histórias!
– Eu também
gosto! Aliás, estou curioso para saber um pouco a respeito dos dois rapazes que
resgatei há duas tardes! – A voz masculina assustou a Louis e Harry, mas Nicola
largou o braço do cavaleiro e correu para abraçar o novo rosto que entrava.
– Liam! – Ela
beijou-lhe as bochechas. Liam era um rapaz que beirava a idade de Harry, tinha olhos
castanho-claros muito chamativos, e um cabelo loiro escuro bem ralo. – Que bom
que chegou! Esse – Nicola apontou para Louis – é o cavaleiro Louis Tomlinson!
Ouviu, ele é um cavaleiro!
Ao dar-se
conta da agitação da irmã, Liam disse:
– Controle-se
Nicola. Não vai me apresentar o companheiro do cavaleiro?
– Ah, pois é,
né?...
– Prazer, eu
sou Harry Styl...
–
SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! – Berrou Nicola.
– Mas MEU
DEUS!
–
SHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
– Nicola, vá
preparar o jantar, por favor. – Liam falou à irmã.
Nicola e Ruth
foram até o fogão, e Liam chamou Louis e Harry para uma pequena salinha
adiante, onde um fogo crepitava numa lareira.
– Acho que
aqui teremos privacidade. Prazer, sou Liam Payne, atual proprietário deste
sítio em que se encontram, e acho que vocês já conheceram minhas irmãs mais
velhas, Nicola e Ruth.
– Oh, sim,
moças adoráveis! – Exclamou Louis.
– É...
Adoráveis... – Acrescentou Harry em tom irônico.
– Mas então...
Vocês são cavaleiros?! Eu logo percebi pela roupa.
– Sou Louis
Tomlinson – Eles apertaram as mãos. – Cavaleiro do reino Cowell.
– E eu sou
Harry Styles, romântico incorrigível do vilarejo de Holmes Chapel.
Louis olhou
estranho para Harry, pela sua apresentação. Mas... Fazer o quê...
– Gostaria de
agradecer por ter nos resgatado. – Falou Louis.
– Não há de
quê. Vocês estavam desidratados e à beira da morte quando os encontrei. Estava
voltando da capital de Cowell, onde havia ido vender a lã das minhas ovelhas,
quando os encontrei. Imediatamente os trouxe para cá, e Ruth esteve cuidando de
vocês esse tempo todo.
– Muito
obrigado mesmo, de coração. – disse novamente Louis.
– Já disse que
não há de quê... Mas estou curioso, o que vocês dois faziam sozinhos, sem água,
no meio de uma estrada rumo ao interior?
– Estamos em
missão. – Falou Harry.
– Harry, deixa
que eu falo. – disse Louis. – Estamos em uma missão.
Harry revirou
os olhos. “Até ele!”, pensou.
– Ah, que
legal! Sabe, eu sempre quis ser um cavaleiro, entrar em uma missão, empunhar
uma espada, salvar donzelas, proteger o reino e o rei e defender os inocentes e
indefesos! Mas, depois que meus pais morreram, eu tive, como único filho, que
assumir o sítio e tomar conta de Ruth e Nicola.
– Bem, não é
tão fácil como parece.
– Será que
vocês poderiam me contar em que tipo de missão estão?
Louis
ponderou. Não sabia se era bom ficar espalhando por aí sobre a missão em que
estava, ainda mais para outro rapaz que queria ser cavaleiro. Porém, acabou
cedendo diante do olhar de Liam, como o de uma criança ansiosa para saber as
aventuras do pai bucaneiro.
– Bom... Eu...
Estou viajando para resgatar a princesa Eleanor Calder.
– Ah, sim, só
se fala disso em Cowell! Dos príncipes que partiram há dois dias atrás da
princesa. Mas você estava viajando sozinho com ele... – falou Liam, se
referindo a Harry com “ele”.
– Eu formei
uma expedição à parte. Quero eu mesmo resgatar a princesa.
– Então você
vai enfrentar uma bruxa pela mão da moça?!
– Eu não estou
indo resgatar a princesa Eleanor apenas porque quero me casar com ela. Ela...
Ela é tudo para mim. – O peito de Liam se apertou novamente com a lembrança de
Eleanor.
– Oh, mas que
lindo! – Liam compreendeu. – Você a ama de verdade! Meu Deus, você tem um
motivo duplo para salvá-la! Porque a ama e para não deixar que outro se case
com ela no seu lugar!
– Tenho
dúvidas de que, por não ser príncipe, mesmo resgatando a princesa, não me case
com ela. Mas eu simplesmente não podia ficar em Cowell esperando dias, meses,
anos... Eu não suportaria.
Uma lágrima
escorreu pelos olhos de Harry.
– Harry, você
está chorando? – perguntou Louis.
– Não, só
estou com um cisco no olho...
– E onde está
a sua expedição? – perguntou Liam.
– É... Bem...
– Louis apontou Harry com a cabeça.
– São apenas
vocês?
– Sim.
– Mas é
impossível apenas vocês dois lutarem contra uma bruxa!
Louis quis
protestar diante da má fé de Liam, mas sabia que ele estava certo.
– Tenho que
tentar! O reino não me forneceu nenhum homem... Eu fugi e estou indo por conta
própria.
Liam admirou a
coragem do cavaleiro e de seu companheiro, que já havia deduzido ser um rapaz
comum.
– Se houver
alguma coisa que eu possa fazer para ajudar...
– Você já
ajudou muito Liam... Salvou nossas vidas.
Liam sorriu, e
nesse momento a voz de Nicola chamou-os para jantar.
Eles foram
rumo à pequena mesa onde o jantar estava sendo servido. Várias velas haviam
sido acesas, pois a noite estava começando a cair.
– HUMMM!
NHUMI-NHUMI! – exclamou Harry estendendo a mão para uma bandeja cheia de
cozido.
Nicola saltou
sobre ele e acertou-o com uma garfo de pau.
– Afaste-se do
meu cozido! – ela disse batendo com o garfo em sua mão.
– AI! POR QUE
VOCÊ ESTÁ BATENDO EM MIM COM UM... Hã? Garfo de pau?
– O Liam tem
medo de colheres. E não encoste no meu cozido!
Já todos
sentados à mesa, Nicola serviu os pratos e os copos, com exceção os de Harry.
– Nicola... –
Advertiu Liam, em tom sério.
A contragosto,
ela pôs um pouco de cozido fumegante no prato de Harry. Quando foi servir o chá
quente para acompanhar, porém, acabou derramando um pouco em sua calça.
– Ai, tá
quente!
– Ah,
desculpa, eu te machuquei? – fez em um tom cínico.
– Esquisita.
– Baleio.
– O quê?
Baleio não existe!
– Baleio!
– Mas...
– SHHHHHHHH!
O jantar
prosseguiu alegre, com Louis contando algumas de suas aventuras e até algumas
piadas.
– Então, aí o
escudeiro falou pro rei: Cara, se toca, você se acha o rei por acaso?
Hahahahahahaha.
–
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! – Todos riram muito, principalmente Nicola. – Louis, você
é tão engraçado! – Ela disse.
– Eu também
tenho uma. – Falou Harry. – Um dia, a colher viu seu reflexo na espada e falou:
Gente, o que aconteceu comigo? Hahahahahaha...haha...ha...ha?
Ninguém estava
rindo.
– Você não
sabe contar piada. – Disse Nicola, encarando-o de cara feia.
– Eu desisto.
– Falou Harry.
– Mas, e
então, Louis, onde é que fica a fortaleza da bruxa Flack? – perguntou Liam.
– Ah, bem...
Hã... – Louis, então, percebeu pela primeira vez algo importante. Ele não fazia
ideia para onde estava indo.
Simplesmente
não acreditou. Esse tempo todo estivera rumando para algum lugar que ele nem
sabia onde estava. Louis não sabia onde procurar! Não sabia por onde começar!
Não sabia nem absolutamente nada sobre a bruxa.
Ficou com esse
pensamento o resto do jantar, até subir para seu quarto e ir lavar o rosto,
escondendo-se um pouco de Nicola.
Mais ou menos
uma hora depois, resolveu ir ao celeiro, onde Liam dissera que estavam os
cavalos e Kevin, para ver como eles estavam.
Desceu as
escadas e viu Harry tentando assaltar mais um pote em cima de um armário, mas
ignorou o fato. Saiu da casa e se deparou com um pequeno lugar descampado, logo
em frente a uma estrada. À sua direita, um pequeno lago, de onde imaginou que
Liam pegasse água. Ao longe, um conjunto de carneiros, dos quais Liam vendia a
lã.
Logo atrás da
casa, ficava o celeiro. Enquanto se aproximava, Louis ouvia gradativamente o
barulho de alguma coisa metálica, e gemidos.
Encontrou Liam
manejando sem habilidade sua espada, de um lado para o outro, desajeitado. Uma
luz forte vinha de dentro do celeiro, e iluminava o jovem sitiante.
– Ah, eis o
paradeiro de minha espada! – Exclamou Louis.
Liam se
assustou tanto que virou a espada e ela acabou fincando numa viga que
sustentava uma das paredes de fora do celeiro.
– Ah, me
desculpe! – Ele ficou vermelho, sem saber onde se esconder de tanta vergonha.
– Não tem
problema! – Louis riu do embaraço do novo colega. – Se me permitir, gostaria de
te ensinar a mexer melhor com a espada.
O rosto de
Liam se iluminou.
– Eu adoraria!
Liam tentou
fazer alguns movimentos que Louis ensinava. Não obteve sucesso, infelizmente.
– Acho que
vida de cavaleiro não é mesmo pra mim...
– Jura? Eu
acho que estava se saindo muito bem! Na verdade... – Louis hesitou, mas acabou
prosseguindo. – Eu ia pedir que se juntasse a mim e a Harry em nossa missão.
A expressão de
Liam foi de surpresa, êxtase e felicidade. Contudo, todas as boas sensações
apagaram-se de suas feições, dando lugar à tristeza.
– Eu... Eu não
posso... Tenho muito trabalho aqui. Tenho que cuidar de minhas irmãs...
– Então, sinto
muito... Mas, pense. Tem até amanhã para me dar a resposta, antes de partirmos.
Liam não
respondeu, apenas ficou calado, em seus pensamentos. De repente, exclamou:
– Ah, sim!
Acabo de lembrar-me! Tenho algo que talvez possa ser útil para você!
Liam conduziu
Louis até o interior da casa novamente. Não havia mais sinal de Harry, Nicola
ou Ruth.
Passaram pela
lareira até uma pequena prateleira embutida, com alguns livros. Liam pegou um
com a capa preta e desbotada, cheio de papéis soltos e velhos.
– Este é um
dos diários de meu bisavô. Ele participou há muitos anos daquela campanha contra
aquele grupo de bruxos, você já ouviu falar?
– Sim, aquele
que se autodenominava “Comensais da Morte”.
– Exato! Aqui,
ele relata tudo o que descobriu sobre bruxos e bruxas. Suas fraquezas e o que
aumenta seu poder, sua aparência, e até supostamente onde poderiam viver. Eu já
li tudo várias vezes, e sei de trás para frente. Como está lidando com bruxas,
pode lhe ser útil. Apesar de saber quase tudo, não consigo me lembrar
especificamente de alguma anotação que tenha lido sobre o lugar onde Flack
morava... Você pode ficar procurando. Quero que leve-o com você.
Louis ficou
emocionado. Emocionado por um rapaz que acabara de conhecer, e que já havia
feito a ele tanto, mas tanto, que ele não tinha como retribuir.
– Obrigado.
Muito obrigado mesmo! Tem certeza de que não quer se juntar a mim e a meu
companheiro em nossa aventura?
– Eu... – Liam
hesitou. Seus olhos se enchiam de esperança, mas logo se entristeciam. Isso
aconteceu várias vezes em questão de segundos, antes de ele dar a resposta. –
Eu não posso, sinto muito.
Louis
assentiu, pegou o diário, e começou a subir as escadas, ansioso para folheá-lo.
Liam ficou para trás, afundado em pensamentos.
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