Capítulo 14 –Você é...
– Então quer dizer que o segredo do
seu charme são esses seus cachinhos encaracolados? – Perguntou, rindo, Taylor a
Harry.
–
Mas é claro que sim... – Respondeu Harry, todo metido. Depois, acrescentou –
Mas não apenas os cachos... Há algo mais...
–
O quê? – Perguntou, entusiasmada, Taylor.
–
Nã-não... Esse só descobrem as mais íntimas...
Taylor
sorriu maliciosamente para Harry. Do cavalo de trás, Louis quase vomitou.
Eles
estavam assim. Taylor melhorara em questão de minutos, e flertava com Harry
desde que começara a raciocinar direito. Harry correspondia, lançando o que
julgava ser seu “charme” para cima de Taylor.
“Por
Deus...”, pensava Louis, desolado. No fundo, realmente, ele estava se sentindo
magoado. Os olhares que trocavam os dois no cavalo da frente o faziam
lembrar-se de Eleanor.
Oh!
Eleanor... Que destino deveria ela estar enfrentando agora?
...
Taylor ficou
sonolenta e dormiu o resto do caminho. Alguns minutos depois, os viajantes
chegaram ao sítio de Liam. Liam os recebeu muito bem, feliz por vê-los
novamente, e acomodou Taylor em um dos quartos com janela cuja vista dava para
a frente da casa.
À noite,
Ruth e Nicola fizeram um jantar especial, com arroz, feijão, ervilhas e bife
mal passado recém-cortado de um boi que haviam abatido ainda aquela tarde.
–
Huuummmm!!! Mas isto aqui está uma delícia! – Exclamou Louis.
– Você
gostou? – Perguntou Nicola com a voz toda melosa.
– Mas é
claro!
– Eu também
gostei! – Disse Harry.
–
Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Ninguém te perguntou nada! – Brigou Nicola.
Harry
emburrou, mas continuou comendo.
Liam
perguntou:
– Taylor,
você não está com fome? Nem mexeu na comida.
Taylor
pareceu embaraçada. Sua comida estava toda no prato, com exceção do bife.
– Obrigada
pela hospitalidade... – disse – Mas não estou me sentindo muito... disposta...
– Deve
estar um pouco traumatizada, ainda. O mundo anda cada vez mais perigoso –
Deduziu Liam.
– Por que
não vai descansar um pouco, querida? – Falou Nicola.
– Talvez
seja uma boa ideia. – Concluiu Taylor, levantando-se. – Com licença. – E subiu
em direção ao quarto que lhe havia sido dado.
Todos
continuaram o jantar alegremente. Liam e Louis conversaram bastante, e Nicola
tentou jogar todo o seu charme para Louis, sem sucesso, claro.
Em certo
ponto, Liam perguntou:
– Então
Louis, já deu alguma olhada no diário de meu bisavô?
– Sim,
claro! Ele tem sido bastante útil. Já
apreendi várias informações valiosas. – Quando falou isso, algo na mente de
Louis ficou inquieta. Alguma coisa o incomodou, mas ele não conseguiu perceber
o que era. Deixou a sensação de lado.
Depois do
jantar, Louis saiu para o estábulo, na tentativa de clarear seus pensamentos e
tentar descobrir o que o estava deixando aborrecido. Liam foi pegar algumas
roupas que Ruth estendera para secar nos fundos da casa. Nicola ficou a lavar a
louça com Ruth e Harry subiu, a pedido de Louis, para ver se Taylor estava se
sentindo melhor.
Harry passou
pelos corredores e se dirigiu ao quarto de Taylor. Parou um instante à porta,
ouvindo a voz da bela moça. Com quem estaria falando? Ele não conseguia
entender o que ela dizia, pois sua voz estava abafada dentro do quarto. Depois
de hesitar um instante, bateu de leve na porta.
– Entre! –
A voz saiu mais alta, porém após alguns segundos de silêncio. Harry empurrou a
porta de leve e espiou por uma fresta. Taylor estava em frente a um toucador
com um espelho enorme. A luz de várias velas deixava o ambiente perfeitamente
bem iluminado.
– Oh,
Harry! – Ela disse, virando-se para vê-lo. – Pode entrar.
– Com
licença. – Harry, apesar de mulherengo, tinha respeito com as mulheres.
– Venha cá.
– Ela disse. – Ajude-me a pentear meus cabelos.
Harry foi
até Taylor, que permanecia sentada em frente ao espelho. Pegou uma escova de
cabelos que ela lhe estendia e, atrapalhado, começou a passa-la pelos cabelos
de Taylor.
– Desculpe!
– Ele disse, ao puxar um pouco uma mecha que estava embaraçada. – Nunca fiz
isso antes.
– Não tem
problema. – Ela falou. – Está se saindo muito bem para mim.
– Er... –
Harry não estava se sentindo muito à vontade, então foi logo ao assunto que
desejava conversar. – Está se sentindo melhor?
– Ah, um
pouquinho melhor... – Taylor falou, fixando seus olhos no rosto de Harry
através do espelho.
Eles
ficaram em silêncio por um tempo, Harry empenhado em escovar os sedosos cabelos
de Taylor.
“Olhe para
mim”.
Harry olhou
para o espelho assustado. A voz que ouviu era de Taylor, mas não parecia ter
saído dos lábios dela... Parecia... Ter ecoado na mente dele...
Taylor o encarava, e sorriu para ele.
– Você
disse alguma coisa? – perguntou Harry.
Taylor fez
cara de desentendida.
– Eu? Não
abri a boca, para ser sincera. Estava admirando você pelo espelho
Harry teria
sorrido em circunstâncias normais, mas estava um pouco aturdido. Que coisa
esquisita...
“Pare.”
A voz
novamente. Harry se assustou tanto que deixou cair a escova de cabelos no chão.
– Oh! Por
que parou? – Perguntou Swift.
– Você
mandou parar...
– Não
mandei não... – Ela sorriu. – Mas já estava bom. Não precisava escovar mais
mesmo, Harry. Obrigada.
– Er... De
nada... – Harry levou as mãos aos cabelos, ainda atordoado.Algo lhe dizia que
era melhor sair dali imediatamente – Bom, já que você está bem, acho que já
posso ir...
– Não,
querido Harry! Tão cedo! Não se vá ainda. Demore-se mais um pouco, sim?
– Obrigado,
mas... – Harry caminhou até a porta, mas
ela se fechou bruscamente de repente, impedindo sua passagem.
– Nossa!
Mas... – Ele olhou para Taylor, desconfiado, medindo-a da cabeça aos pés. Ela
tinha um olhar inocente no rosto, e usava uma camisola que a deixava com um ar
infantil e ingênuo. Os instintos de Harry, porém, diziam o oposto do que lhe
diziam seus olhos: ali havia perigo. – Como... Isso aconteceu?
– Deve ter
sido o vento... – Taylor balbuciou. Se Harry não estivesse tão apavorado, perceberia
que não havia brisa nenhuma soprando do lado de fora, tampouco poderia haver
dentro de um quarto cuja janela estava fechada.
E por falar
em janela... Ao mesmo tempo em que tudo acontecia dentro do quarto, pousava
calmamente na janela de Taylor um pombo-correio que estivera dando um pequeno
passeio noturno para caçar: Kevin.
Veja bem,
nesta história, pombos-correios e cavalos fazem mais do que apenas seu papel
irracional. Eles compreendem o que se passa à sua volta e ajudam quando
possível.
Pois foi
isso que aconteceu: Kevin observou pela janela naquele momento a cena que se
passava do lado de dentro.
Harry levou
a mão à maçaneta da porta, mas, quando fez isso, a chave na fechadura virou-se
sozinha. Pálido de medo, ele voltou seu olhar para Taylor.
Tentou dar
um passo à frente, mas não conseguiu sair de sua posição. Era como se seus pés
estivessem colados no chão.
– Você...
Você está fazendo isso? – Seus olhos estavam arregalados e irradiavam pavor.
Taylor se
aproximou dele e colou seu corpo ao de Harry.
– Ah,
querido Harry... Mas é claro que não... – e sorriu maliciosamente.
O coração
de Harry estava prestes a sair de sua boca.
– Você
é...!
“Esqueça”.
...
Kevin voou
desesperadamente até o estábulo, à procura de Louis.
– Ah, oi
Kevin, você está aí. Andou caçando amiguinho?! – Louis sorriu brevemente para o
companheiro alado, mas logo em seguida virou-se para o que estivera fazendo
antes. Penteava os pelos de Cenoura com uma escova velha que achara no
estábulo.
Kevin
começou a guinchar no seu ouvido.
– O que é
isso Kevin?! – Louis estranhou o comportamento do pombo, mas ignorou-o.
Kevin
começou a bater seu bico na cabeça de Louis.
– Ai Kevin!
Pare! O que você quer? – De repente Cenoura, como se compreendesse o que Kevin
estava dizendo, também ficou agitado.
– Mas o que
está acontecendo aqui?! – Louis começou a ficar nervoso. Kevin bicou-o mais
algumas vezes até ver o caderninho do bisavô de Liam que estava preso no cinto
do cavaleiro.
Com sua
garras, ele agarrou o caderno, alçou voo, e fê-lo despencar na cabeça de Louis.
– Ai,
Kevin! Endoidou, foi? – E abaixou-se para pegar o caderno, que estava caído no
chão agora, aberto na metade.
A página
era aquela que Louis estivera estudando naquela manhã. A página que falava
algumas características de... bruxas...
Louis então
compreendeu o que seu amigo animal estava tentando lhe dizer, e também
descobriu o que o estava incomodando desde o jantar.
“Sono
durante a manhã.”
“Fraqueza.”
“Inocência
aparente.”
“Gosta de
comer apenas carne.”
“Travessuras
com homens indefesos e fracos.”
– Oh, meu
Deus! Harry!
Louis saiu
correndo do estábulo. Ao entrar no sítio de Liam, sua espada já estava
desembainhada.
...
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