quinta-feira, 4 de julho de 2013

Cap. 14 - Você é...



Capítulo 14 –Você é...

– Então quer dizer que o segredo do seu charme são esses seus cachinhos encaracolados? – Perguntou, rindo, Taylor a Harry.
            – Mas é claro que sim... – Respondeu Harry, todo metido. Depois, acrescentou – Mas não apenas os cachos... Há algo mais...
            – O quê? – Perguntou, entusiasmada, Taylor.
            – Nã-não... Esse só descobrem as mais íntimas...
            Taylor sorriu maliciosamente para Harry. Do cavalo de trás, Louis quase vomitou.
            Eles estavam assim. Taylor melhorara em questão de minutos, e flertava com Harry desde que começara a raciocinar direito. Harry correspondia, lançando o que julgava ser seu “charme” para cima de Taylor.
            “Por Deus...”, pensava Louis, desolado. No fundo, realmente, ele estava se sentindo magoado. Os olhares que trocavam os dois no cavalo da frente o faziam lembrar-se de Eleanor.
            Oh! Eleanor... Que destino deveria ela estar enfrentando agora?
...
Taylor ficou sonolenta e dormiu o resto do caminho. Alguns minutos depois, os viajantes chegaram ao sítio de Liam. Liam os recebeu muito bem, feliz por vê-los novamente, e acomodou Taylor em um dos quartos com janela cuja vista dava para a frente da casa.
À noite, Ruth e Nicola fizeram um jantar especial, com arroz, feijão, ervilhas e bife mal passado recém-cortado de um boi que haviam abatido ainda aquela tarde.
– Huuummmm!!! Mas isto aqui está uma delícia! – Exclamou Louis.
– Você gostou? – Perguntou Nicola com a voz toda melosa.
– Mas é claro!
– Eu também gostei! – Disse Harry.
– Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Ninguém te perguntou nada! – Brigou Nicola.
Harry emburrou, mas continuou comendo.
Liam perguntou:
– Taylor, você não está com fome? Nem mexeu na comida.
Taylor pareceu embaraçada. Sua comida estava toda no prato, com exceção do bife.
– Obrigada pela hospitalidade... – disse – Mas não estou me sentindo muito... disposta...
– Deve estar um pouco traumatizada, ainda. O mundo anda cada vez mais perigoso – Deduziu Liam.
– Por que não vai descansar um pouco, querida? – Falou Nicola.
– Talvez seja uma boa ideia. – Concluiu Taylor, levantando-se. – Com licença. – E subiu em direção ao quarto que lhe havia sido dado.
Todos continuaram o jantar alegremente. Liam e Louis conversaram bastante, e Nicola tentou jogar todo o seu charme para Louis, sem sucesso, claro.
Em certo ponto, Liam perguntou:
– Então Louis, já deu alguma olhada no diário de meu bisavô?
– Sim, claro! Ele tem sido bastante útil.  Já apreendi várias informações valiosas. – Quando falou isso, algo na mente de Louis ficou inquieta. Alguma coisa o incomodou, mas ele não conseguiu perceber o que era. Deixou a sensação de lado.
Depois do jantar, Louis saiu para o estábulo, na tentativa de clarear seus pensamentos e tentar descobrir o que o estava deixando aborrecido. Liam foi pegar algumas roupas que Ruth estendera para secar nos fundos da casa. Nicola ficou a lavar a louça com Ruth e Harry subiu, a pedido de Louis, para ver se Taylor estava se sentindo melhor.
Harry passou pelos corredores e se dirigiu ao quarto de Taylor. Parou um instante à porta, ouvindo a voz da bela moça. Com quem estaria falando? Ele não conseguia entender o que ela dizia, pois sua voz estava abafada dentro do quarto. Depois de hesitar um instante, bateu de leve na porta.
– Entre! – A voz saiu mais alta, porém após alguns segundos de silêncio. Harry empurrou a porta de leve e espiou por uma fresta. Taylor estava em frente a um toucador com um espelho enorme. A luz de várias velas deixava o ambiente perfeitamente bem iluminado.
– Oh, Harry! – Ela disse, virando-se para vê-lo. – Pode entrar.
– Com licença. – Harry, apesar de mulherengo, tinha respeito com as mulheres.
– Venha cá. – Ela disse. – Ajude-me a pentear meus cabelos.
Harry foi até Taylor, que permanecia sentada em frente ao espelho. Pegou uma escova de cabelos que ela lhe estendia e, atrapalhado, começou a passa-la pelos cabelos de Taylor.
– Desculpe! – Ele disse, ao puxar um pouco uma mecha que estava embaraçada. – Nunca fiz isso antes.
– Não tem problema. – Ela falou. – Está se saindo muito bem para mim.
– Er... – Harry não estava se sentindo muito à vontade, então foi logo ao assunto que desejava conversar. – Está se sentindo melhor?
– Ah, um pouquinho melhor... – Taylor falou, fixando seus olhos no rosto de Harry através do espelho.
Eles ficaram em silêncio por um tempo, Harry empenhado em escovar os sedosos cabelos de Taylor.
“Olhe para mim”.
Harry olhou para o espelho assustado. A voz que ouviu era de Taylor, mas não parecia ter saído dos lábios dela... Parecia... Ter ecoado na mente dele...
 Taylor o encarava, e sorriu para ele.
– Você disse alguma coisa? – perguntou Harry.
Taylor fez cara de desentendida.
– Eu? Não abri a boca, para ser sincera. Estava admirando você pelo espelho
Harry teria sorrido em circunstâncias normais, mas estava um pouco aturdido. Que coisa esquisita...
“Pare.”
A voz novamente. Harry se assustou tanto que deixou cair a escova de cabelos no chão.
– Oh! Por que parou? – Perguntou Swift.
– Você mandou parar...
– Não mandei não... – Ela sorriu. – Mas já estava bom. Não precisava escovar mais mesmo, Harry. Obrigada.
– Er... De nada... – Harry levou as mãos aos cabelos, ainda atordoado.Algo lhe dizia que era melhor sair dali imediatamente – Bom, já que você está bem, acho que já posso ir...
– Não, querido Harry! Tão cedo! Não se vá ainda. Demore-se mais um pouco, sim?
– Obrigado, mas...  – Harry caminhou até a porta, mas ela se fechou bruscamente de repente, impedindo sua passagem.
– Nossa! Mas... – Ele olhou para Taylor, desconfiado, medindo-a da cabeça aos pés. Ela tinha um olhar inocente no rosto, e usava uma camisola que a deixava com um ar infantil e ingênuo. Os instintos de Harry, porém, diziam o oposto do que lhe diziam seus olhos: ali havia perigo. – Como... Isso aconteceu?
– Deve ter sido o vento... – Taylor balbuciou. Se Harry não estivesse tão apavorado, perceberia que não havia brisa nenhuma soprando do lado de fora, tampouco poderia haver dentro de um quarto cuja janela estava fechada.
E por falar em janela... Ao mesmo tempo em que tudo acontecia dentro do quarto, pousava calmamente na janela de Taylor um pombo-correio que estivera dando um pequeno passeio noturno para caçar: Kevin.
Veja bem, nesta história, pombos-correios e cavalos fazem mais do que apenas seu papel irracional. Eles compreendem o que se passa à sua volta e ajudam quando possível.
Pois foi isso que aconteceu: Kevin observou pela janela naquele momento a cena que se passava do lado de dentro.
Harry levou a mão à maçaneta da porta, mas, quando fez isso, a chave na fechadura virou-se sozinha. Pálido de medo, ele voltou seu olhar para Taylor.
Tentou dar um passo à frente, mas não conseguiu sair de sua posição. Era como se seus pés estivessem colados no chão.
– Você... Você está fazendo isso? – Seus olhos estavam arregalados e irradiavam pavor.
Taylor se aproximou dele e colou seu corpo ao de Harry.
– Ah, querido Harry... Mas é claro que não... – e sorriu maliciosamente.
O coração de Harry estava prestes a sair de sua boca.
– Você é...!
“Esqueça”.
...
Kevin voou desesperadamente até o estábulo, à procura de Louis.
– Ah, oi Kevin, você está aí. Andou caçando amiguinho?! – Louis sorriu brevemente para o companheiro alado, mas logo em seguida virou-se para o que estivera fazendo antes. Penteava os pelos de Cenoura com uma escova velha que achara no estábulo.
Kevin começou a guinchar no seu ouvido.
– O que é isso Kevin?! – Louis estranhou o comportamento do pombo, mas ignorou-o.
Kevin começou a bater seu bico na cabeça de Louis.
– Ai Kevin! Pare! O que você quer? – De repente Cenoura, como se compreendesse o que Kevin estava dizendo, também ficou agitado.
– Mas o que está acontecendo aqui?! – Louis começou a ficar nervoso. Kevin bicou-o mais algumas vezes até ver o caderninho do bisavô de Liam que estava preso no cinto do cavaleiro.
Com sua garras, ele agarrou o caderno, alçou voo, e fê-lo despencar na cabeça de Louis.
– Ai, Kevin! Endoidou, foi? – E abaixou-se para pegar o caderno, que estava caído no chão agora, aberto na metade.
A página era aquela que Louis estivera estudando naquela manhã. A página que falava algumas características de... bruxas...
Louis então compreendeu o que seu amigo animal estava tentando lhe dizer, e também descobriu o que o estava incomodando desde o jantar.
“Sono durante a manhã.”
“Fraqueza.”
“Inocência aparente.”
“Gosta de comer apenas carne.”
“Travessuras com homens indefesos e fracos.”
– Oh, meu Deus! Harry!
Louis saiu correndo do estábulo. Ao entrar no sítio de Liam, sua espada já estava desembainhada.
...


Nenhum comentário:

Postar um comentário