Capítulo 33 - Trato Feito

Capítulo 33 – Trato Feito

- Você está sozinha, meu bem? - Mulan soltou o ar dos pulmões ao perceber que não respirava. Foi virando-se bem devagar, até encontrar o dono da voz: Era uma espécie de duende, um pouco mais baixo do que ela e com a pele de um bege-amarronzado brilhante. Ele sorria como um psicopata, e seus olhos eram grandes. Tinha orelhas levemente pontudas e cabelos até os ombros. Estava encapuzado e carregava um bastão na mão esquerda.

Ele deu uma risadinha e falou, divertindo-se:

- Não vai responder? O gato comeu a sua língua?

Mulan continuou calada, observando-o atentamente. Não estava em seus planos flar nada, entretanto...

- Ai, minha querida Mulan... Eu esperava mais entusiasmo em nosso primeiro encontro.

Os olhos de chinesa de Mulan se arregalaram.

- C-como sabe o meu nome? – Ela tentou soar corajosa, mas a voz saiu espantada e um pouco trêmula.

O duende sorriu.

- Eu sei de tudo, meu bem... Sei que você se disfarça de homem... Sei que você foi ajudada por Dumbledore depois daquela noite fatídica, quando Shang... Bem, você sabe.

- C-como... – Mulan estava perplexa. Quem era aquele sujeito diante de si?

- Eu disse... – Ele riu novamente. – Eu sei de tudo. E também sinto o cheiro do seu medo por estar perto de mim, agora... Contudo, eu não quero deixa-la assustada... Na realidade, estou aqui porque quero fazer um acordo com você.

- Acordo? – Mulan estreitou os olhos.

- Sim, sim!!! – Ele riu novamente, como uma criança entusiasmada com uma brincadeira. – Um pequenino, inocente e benéfico acordo... Para nós dois...

Mulan sentiu em seu âmago que aquilo não iria acabar bem. Escolheu as palavras seguintes com muito cuidado:

- Por que...  – Ela pronunciou as palavras lentamente – Eu faria um acordo com você...

- Ah, minha querida, por um excelente motivo.

- E qual seria?

- Bem... Digamos que eu tenha uma coisa de que você precisa... – O duende estalou os dedos e um frasco contendo um líquido cor violeta apareceu em sua mão. O líquido borbulhava e era fluorescente.

Mulan olhou desconfiada para o frasco.

- O que é isso?

A criatura riu como uma criança novamente. Ele parecia não conseguir conter-se de entusiasmo.

- Isso, minha cara... É um líquido destruidor de orcruxes. – A pronúncia da palavra e seu significado naquele contexto surpreenderam Mulan a tal ponto que ela abaixou a retaguarda sem nem sequer perceber.

A chinesa permaneceu olhando perplexa do líquido para o duende e do duende para o líquido.

- Hihihihihi! – Ele bateu meias palminhas, ainda segurando o frasco. – Tentador, não é? – Ele observou a expressão de Mulan. – Ah, queridinha, calma, eu já disse, eu sei de tudo. Mas, se te deixa mais à vontade, esta informação em particular eu consegui com... Isto! – Ele estalou os dedos novamente e a seu lado, flutuando, apareceu uma gaiola. Dentro dela, estava Kevin, se debatendo e emitindo gritinhos estridentes de desespero.

- Kevin! – Mulan exclamou.

O duende sorriu maliciosamente, o que fez um arrepio percorrer a espinha de Mulan. Mais uma vez ele estalou os dedos e dois pedaços de papel apareceram flutuando à frente de Mulan, para que ela pudesse lê-los.

O primeiro era a carta que ela escrevera a Dumbledore naquela mesma tarde. O segundo era a resposta do bom bruxo, escrita com a impecável e inconfundível caligrafia do mesmo. Ela começou a ler a carta, com o duende falando as palavras em voz alta, como se tivesse lido e relido a carta por vezes suficientes para decorá-la.

- Querida Mulan, lamento dizer que não é de meu conhecimento nenhum artifício mágico que pudesse quebrar o encanto sem quebrar a flauta e blá, blá, blá... Que chato... – A criatura fez cara de entediada. – É claro que nenhuma magia do bem seria poderosa o suficiente para destruir um feitiço maligno como uma orcrux sem também destruir o objeto que a possui. Há algumas exceções, como a de seu amiguinho Harry, a espada Excalibur. Entretanto, ainda assim ela não consegue deixar de destruir a matéria envolta pelo feitiço. – Ele sorriu maquiavélico. – Mas quando se trata de magia escura... Qualquer magia negra pode quebrar magia negra, contanto que seja bem elaborada por um ser mais poderoso que aquele que lançou o feitiço... Nesse caso... Eu.

Mulan se arrepiou. O duende prosseguiu:

- Estou disposto a dar este frasco a você. Bastam algumas gotas em qualquer objeto enfeitiçado por algo de origem maligna, e o feitiço será quebrado, invariavelmente...

Ele estendeu a mão com o frasco para Mulan. Ela hesitou por um momento: aquilo era tudo o que ela desejava, tudo de que precisavam para destruir a o feitiço sem destruir a flauta de PSY.

Todavia, a fonte da qual vinha a solução não era muito confiável. Não lhe agradava o fato de estar próxima a um ser que se dizia mais poderoso que Flack, que havia sido até mesmo alvo de uma profecia de uma mãe-natureza temente. A chinesa desejou que Dumbledore estivesse lá para auxiliá-la.

Resolveu tomar uma decisão: estendeu a mão para pegar o frasco. Porém, antes que ela o alcançasse, o duende afastou a mão.

- Nem tão rápido, fofinha. Está certo que estou disposto a entregar-lhe minha poção, mas tenho de advertir-lhe de que toda magia tem um preço.

Mulan resignou-se. Aquilo estava ficando cada vez pior. Mas, ainda assim...

- Que... preço? – Ela pronunciou com a voz cortante.

- Hummmm... – o duende riu – Agora sim parece a Mulan que eu conheço. Parece que está se recuperando bem do trauma...

- Não falemos disso. Vá direto ao assunto. – Ela disse, cortante, ríspida e corajosa. O fato de ele dizer que a conhecia deixava-a profundamente incomodada.

- Ok. Sempre que as pessoas fecham um acordo, é porque ambas as partes são beneficiadas por ele...

- Diga, o que você quer?

- Garota esperta... – Ele riu. – Mas, por enquanto, por incrível que pareça, eu não preciso de nada. Hihihi. Você fica me devendo um favor.

- Não gosto de dever favores que eu não faço ideia de quais são.

- Hummmm... A escolha do risco é sua. Fa Mulan, você seria realmente capaz de deixar um homem morrer, sem ter com o que trabalhar, e milhares de cidades serem afetadas por epidemias? Não é do seu feitio.

Mulan encarou-o. Ambos ficaram assim por um bom tempo. Não havia mais opções: era pegar ou largar.

- Feito. – Mulan falou, pesarosa e um tanto apreensiva.

- Excelente!!! – Ele riu e estalou os dedos. Os papéis de Dumbledore sumiram da frente de Mulan, aparecendo em seu lugar um grande pergaminho escrito com letras miúdas, e ao lado dele, uma pena. – Agora, só basta assinar o contrato, hihihi.

Aquela risada estridente de criancinha era macabra para a chinesa. Antes, porém, se assinar o contrato, ela perguntou:

- Desculpe, mas, se estou assinando um contrato, pelo menos deveria saber o nome daquele com quem estou negociando.

O sorriso no rosto do duende diminuiu. Ele ficou parcialmente sério.

- Infelizmente, não posso lhe dizer meu nome. Por ora, trate-me apenas por “O Sombrio”.

Mulan olhou a pena ao seu lado e pegou-a vagarosamente, como em câmera lenta. Com a mesma lentidão assinou o contrato, que desapareceu quando ela assinou a última letra de seu nome.

O rosto do duende iluminou-se.

- Hihihihihihi. Fez um excelente negócio!!! Não vai se arrepender, eu garanto. – Ele estalou os dedos, e a gaiola desapareceu, deixando Kevin livre. O pássaro voou depressa para o ombro de Mulan. – Agora, onde estávamos? Ah, sim... – Mais uma vez o sorriso malicioso. – Você ia ser atacada por... bruxas!

Antes que Mulan pudesse sequer expressar seu espanto, ele desapareceu, tão repentinamente quanto aparecera.

Acima da linha de árvores do bosque, se aproximando depressa dela, Mulan pôde ver, sobre vassouras, algumas amigáveis... Bruxas.