Capítulo 46 – A Orcrux Submersa

Capítulo 46 – A Orcrux Submersa

Poseidon se aconchegou melhor em seu assento.

- Lembra-se de que eu disse que, há cerca de uns cem anos, sua sobrinha Ariel causou um grande problema para nós?

- Sim. – respondeu-lhe Logan. – Mas o que isso tem a ver com...?

- Espere, deixe-me terminar. – Poseidon interrompeu o filho. – Em certo ponto dessa história, nós tivemos de enfrentar a bruxa com quem Ariel fez o pacto para conseguir ficar com o príncipe da superfície.

                “Tritão reuniu um exército e foi à batalha logo que percebeu que as coisas estavam erradas para sua filha. Mas Úrsula, a bruxa, não se renderia facilmente. Ela estava esperando por um momento como aquele por muito tempo. Ela sempre quis dominar os mares.

                Úrsula reunira forças extraordinárias também, e o pacto que fizera com Ariel a fortalecera. A terrível bruxa dera pernas à minha sobrinha e, em troca, roubara um pouco de seu sangue e sua voz.

                O sangue de Ariel corria pelas veias de Úrsula, e qualquer ferimento que causássemos nela, Ariel também sentiria. Ainda, tendo em suas veias o sangue de uma híbrida de semi-deus e sereia, os poderes da bruxa se intensificaram.

                Tritão ia ser derrotado, e medidas tinham de ser tomadas. Caso contrário, Úrsula dominaria o mundo do mar.

                Foi aí que eu entrei em ação.

                Eu saí deste palácio para investir contra Úrsula pessoalmente, enquanto guardas traziam seu irmão gravemente ferido de volta para cá. Tritão foi levado para a enfermaria. E exatamente na chegada de Tritão e na minha saída estavam os maiores erros que alguém poderia cometer.”

                - Erros? Por que ir batalhar e cuidar de um ferido seriam erros?

                - Porque aquilo havia sido planejado por alguém além de Úrsula. Tudo havia sido friamente calculado desde o início: o naufrágio do navio de Érick, o antigo amado de Ariel, a indução de minha neta até Úrsula, e até a derrota de Tritão.

                - Mas planejado por quem? E para quê?

                - Planejado por Caroline Flack, uma bruxa que abalou o mundo por um certo tempo, para que ela pudesse descer ao mundo marítimo e nos lançar a mais terrível de todas as maldições.

                Logan levou a mão à boca. Ele não podia acreditar. Os caprichos e malefícios de Flack se estendiam até o mundo submerso! Mas o que ela queria ali embaixo? Poseidon continuou contando:

                - Quando eu saí deste palácio, e com Tritão gravemente ferido, e com meu exército lutando e morrendo com Úrsula, deixei meu lar e minha cidade desprotegidos. Ela então veio, usando o feitiço da bolha de ar para respirar, e encontrou a coisa que ela desejava.

                - E o que era que ela tanto queria?

                - Ela precisava de um objeto importante e poderoso, e o escolheu muito bem. Quando Tritão estava sendo levado à enfermaria, deixou cair de sua mão seu tridente. Veja bem: o tridente de seu irmão é a fonte de todo o seu poder. Só pode ser tocado por um membro legítimo da realeza submarina. Ninguém mais pode pegá-lo, senão vira pedra. Mas Flack não precisou encostar um único dedo nele para realizar uma magia terrivelmente tenebrosa. Ela colocou uma parte de sua alma no tridente.

                Logan arregalou os olhos.

                - Uma orcrux... – De repente, o príncipe vislumbrou uma lembrança: Liam lhe mostrava o mapa que continha a localização de todas as orcruxes. E uma delas estava bem no meio do mar. O tridente.

                - Sim, meu filho. Mas como sabe disso?

                - Meu pai, eu também tenho muito a lhe contar, e o farei, eu prometo. Mas, primeiro, o senhor precisa terminar de me contar essa história.

                Poseidon, curioso, apressou-se em seu relato dos fatos.

                - Fazer uma orcrux em um objeto não requer que ele seja tocado, e Flack foi vitoriosa em seu objetivo. Uma vez contendo a alma da horrenda bruxa, o tridente não era mais um objeto puro. Era parte dela também, e por isso ela pôde tocá-lo sem sofrer consequências. Na verdade, ainda mais do que isso, ela manuseou o tridente.

                - Como assim, manuseou o tridente?

                - Ela enfeitiçou este mar com um objeto que outrora o defendera. Fez daqui uma gaiola. Qualquer ser inteiramente marinho não pode se deslocar de Atlântida por mais de seis quilômetros. Caso isso aconteça, viram pedra.

                Logan não podia acreditar no que estava ouvindo.

                - Quando retornei vitorioso da batalha, descobri que meu premio era a desgraça de um reino. Flack fez minha neta mais velha assistir a tudo e contou a ela o que havia feito. A bruxa contou, inclusive, onde esconderia o tridente. Mas ela não contou que havia lançado o feitiço da gaiola. Por isso, mandei meus melhores guerreiros para irem atrás do tridente. E foi assim que descobrimos o que ela havia feito de pior para nós. E é por isso que estou aqui, meu filho. Por isso o guiei para cá apenas por telepatia. Por isso jamais retornei a ver sua mãe, nem sequer pude vê-lo de longe ou reclamar sua paternidade. Eu viveria ao seu lado e ao de sua mãe para sempre se pudesse. Mas... Não posso sair. Eu sou do mar. Eu viraria pedra.

                Logan levantou-se da cadeira. O ódio o invadiu. Flack! Flack! FLACK! Tudo girava em torno daquela horrenda madilta. Quantas vidas ela já não destruíra? Quantas famílias ela não privara de pais, mães, e\ou filhos? Quantos homens e outros seres ainda não padeceriam por suas mãos?

                Foi a primeira vez que Logan percebeu a extensão dos poderes de Flack. Ele compreendeu, finalmente, a confusa história que Louis lhe havia contado. Sim, agora era possível para ele que uma bruxa com tamanha força tivesse sido temida pela própria mãe-natureza.

                Agora, também, era ainda mais importante que Caroline fosse destruída. Não era simplesmente uma princesa a ser resgatada. Uma guerra estava próxima. Uma guerra que destruiria tudo o que era bom, a não ser que...

                - A não ser que Louis sobreviva para mata-la.... – Logan pensou alto.

                Poseidon franziu a sobrancelha.

                - Quem é Louis?

                Logan acordou de seu devaneio com a pergunta de Poseidon. Ele percebeu que arfava. Sentou-se, recompondo-se.

                - Pai, é hora de eu lhe contar tudo o que passei nas últimas semanas.

...

                Alguns minutos depois, Logan terminou sua explicação dos fatos. Poseidon estava em um misto de fúria, surpresa, desespero e preocupação.

                - E COMO NÃO CHEGOU A MIM ESSA HISTÓRIA DE PROFECIA? COMO EU NUNCA SOUBE DELA? – Ele se levantou, possesso, e bateu com o punho em uma das paredes com prateleiras. Alguns livros caíram, enquanto o chão tremeu com a fúria do deus dos mares.

                - Acalme-se, pai! Como você poderia saber dessa profecia?

                Poseidon acalmou-se. Voltou a se sentar.

                - Tens razão, meu filho. Eu não tenho muito contato com os seres da superfície.

                - Além disso, estava tão ocupado cuidando de minha sobrinha, que não havia tempo para que você pudesse prestar atenção a outras coisas.

                - Sim, sim... Agora faz sentido o porquê de Caroline ter feito tamanha maldade. Eu sempre pensei que fosse algum plano para ajudar Úrsula a dominar as águas quando esta se recuperasse do terrível embate de cem anos atrás, o que, julgo eu, não demorará muito. Tenho tido medo desde então.  Mas ela estava tentando proteger a si mesma, para ser indestrutível. E que melhor objeto, senão o tridente, para escolher? Agora vejo a inteligência desta mulher. Como um objeto do mar, o acesso ao tridente ficaria restrito apenas a seres do mar, o que diminuiria as chances de ser destruído. Depois disso, com o próprio poder do tridente, ela impossibilitou qualquer um de nossa cidade de se aproximar dele, com o feitiço da pedra. Como se não fosse o bastante, nenhum outro ser que não da linhagem real, com a exceção de Flack, pode tocar o tridente, pois também viraria pedra, e todos da realeza estão presos aqui. E, ainda, para piorar, ela o manteve seguro sob a guarda da única criatura que eu, o deus dos mares, não posso controlar em meus reinados. Mas que praga!

                Logan estreitou as sobrancelhas. Que criatura seria capaz de estar acima do comando de Poseidon? Subitamente, ele se lembrou do que o pai dissera: antes de descobrir o feitiço Da limitação dos seis quilômetros, ele mandara seus melhores guerreiros para tentar recuperar seu tridente.

                - E que criatura seria essa, pai? Por que você disse que mandou seus melhores guerreiros atrás do tridente?

                - Veja bem, meu filho, que eu não mandei meus guerreiros atrás do tridente, afinal, eles morreriam se o pegassem. O que eu fiz foi manda-los para combater aquele de quem todos aqui têm medo. Eu poderia ter ido, mas não queria deixar o reino desprotegido naquele momento. Com Tritão fraco, eu temia um ataque de Flack, afinal não sabia o motivo de ela ter pego o tridente, como só descobri agora.

                - Sim, pai, mas onde está a arma de meu irmão?

                - Na toca do Kraken.

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E aí, gente, tudo bem?

Sei que andei sumida, mas, sabe, essa correria de fim de ano acaba obrigando todos nós a fazermos muitas tarefas. O importante é que agora eu voltei da minha breve pausa.

E então, como passaram de Natal? O meu foi maravilhoso.

Continuo com cinco comments...

Bjs

Elissa