Capítulo 47 - A Filha Mais Nova

Capítulo 47 – A Filha Mais Nova

- O senhor está me dizendo que Caroline escondeu uma orcrux na toca do Kraken? O Kraken... Existe mesmo?

                - Sim e sim.

                - E como é que ela fez isso?!

                - O Kraken é uma criatura que existe desde o princípio de tudo, por isso não posso controla-lo. Entretanto, ele é mau. Os maus sempre se entendem.

                - Não é possível. – Logan, nervoso por seu pensamento, teve de admirar Flack. Ela havia sido muito inteligente. – Mas... E agora? Sem destruir a orcrux, Flack jamais poderá morrer! Tem que existir alguma maneira de...

                Nesse instante, o jovem príncipe foi interrompido pelo som de trombetas.

                - Ah, meu filho, estão anunciando o jantar! Porque não paramos para comer um pouco? Depois, podemos discutir tudo isso com Tritão. Seu irmão é um homem muito sábio.

                Logan concordou, um pouco irritado por ter perdido seu raciocínio. Contudo, fazia sentido se distrair um pouco e discutir a questão com Poseidon e Tritão, assim que este retornasse de sua busca pela filha mais nova.

                Ele se dirigiu ao que deveria ser a sala de jantar. Não era muito grande, mas possuía uma mesa feita de corais elegante e de tamanho suficiente para dez cadeiras. Lá já estavam sentadas suas seis primeiras sobrinhas.

                Parando na porta de entrada, Logan quase escancarou a boca. A beleza delas era incrível. Todas tinham traços delicados e sensuais ao mesmo tempo, que fariam com que qualquer homem caísse aos seus pés à primeira vista.

                Pensando naquilo, Logan subitamente lembrou-se de ter visto mulheres muito bonitas antes... Antes de ter caído na água. E depois, como se tivesse acordado de um sonho, estava dentro d’água, rodeado por criaturas horrendas. Aquela era uma pergunta que se esquecera de fazer a seu pai.

                - Seu barco foi provavelmente atacado por sereias negras.

                - Sereias negras?

                - Sim. Sereias negras são sereias que um dia foram como suas primas, belas criaturas. Mas, um dia, corrompidas pela vaidade, elas chegaram a se amar tanto que gostavam de se sentir cada vez mais bonitas e cobiçadas. Passaram a fazer jogos com os marinheiros que cruzavam suas águas: faziam com que eles se enfeitiçassem pelo som maravilhoso de suas vozes e seus traços estonteantes. Foi isso que fizeram com você meu, filho. Você foi enfeitiçado, e caiu na água para morrer, como elas gostavam de fazer com os bucaneiros do passado.

                - Elas... Elas atraem os homens para o mar para que eles morressem?

                - Sim, é doentio, mas vejo que você não compreende o porque deste jogo de sedução. Deve pensar como uma mulher: qualquer criatura do sexo feminino sonha em ter um homem que morra por ela, seja qual for a circunstância. A questão é que as sereias negras levavam esse desejo um pouco ao pé da letra demais. A vaidade fazia com que elas se sentissem bem quando os homens se apaixonavam tanto por elas que caiam na água apenas... bem... por elas.

                Logan estava incrédulo. Aquilo era horrível.

                - Eu puni severamente aquelas sereias e aprisionei-as em meu calabouço. Mas a mesma bruxa de quem eu falava, Úrsula, ajudou-as a fugir de lá. E, sob a proteção dela, rumaram para águas distantes e continuaram a fazer suas maldades. Aí, aconteceu algo que nenhuma delas esperava. A maldade sempre tem um preço, meu filho. A própria vaidade que as impulsionava a fazer aquilo voltou-se contra elas. Assim, aquelas belas sereias, aos poucos, se transformaram naquelas criaturas terríveis que você viu quando caiu na água. Eu as encontrei, e as bani para o mar morto, onde, já pelo nome, você pode deduzir que não existe nada vivo realmente. Lá, contando apenas com corpos quaisquer que fossem jogados pela região, elas viraram carnívoras. Isso foi há uns quinhentos anos. E elas deveriam ter estado lá até agora.

                - Elas ainda estavam presas?

                - Sim, elas estavam. E deveriam ainda estar. Mas, se tudo o que me contou é verdade, elas devem ter tido uma pequena ajudinha para escapar de lá. E você já deve imaginar de quem. Elas não podem entrar em Atlântida. Sabe, o mesmo feitiço que nos mantém aqui dentro mantém seres marinhos que não vivem neste reino para fora. Senão, eles também viram pedra.

                - Mas... Se elas viraram aquelas criaturas, porque eu via sobre a superfície mulheres tão bonitas?

                - Não se confunda, filho; o mau, em sua essência, é horrível, mas tem muitos truques na manga.

                Príncipe Logan assentiu e adentrou o salão de jantar com seu pai. As seis princesas sereias que já estavam acomodadas em seus lugares pararam o que estavam fazendo e encararam o jovem príncipe, curiosas.

                - Vovô, quem é este jovem? – Disse uma delas, uma linda loira de olhos azuis, da cor dos de Poseidon, Tritão e... Logan.

                Poseidon riu:

                - Cumprimente seu tio, Aquata: Logan Lerman de Olimpiana, príncipe da terra, e príncipe do mar.

                Os olhos de todas as moças se iluminaram.

                - Você! Você é titio Logan! – Gritou uma delas, morena, mas também de olhos azuis. Na verdade, todas elas pareciam ter olhos iguais aos do príncipe.

                - Meninas, por favor... Menos formalidade. Afinal, ele pode ser tio de vocês, mas é mais novo que todas em questão.

                - Mas ele parece ter a nossa idade!

                - Andrina, já expliquei a você que o tempo na superfície passa diferente do que aqui no mar. Logan se aproxima de você, na realidade, em maturidade e aparência, apesar de ter vivido apenas vinte e um anos, e você, mais de cento e vinte cinco.

                - Oh, fascinante! – Exclamou uma outra, e todas elas levantaram-se de seus lugares e, balançando suas caudas – uma de cada cor – aproximaram-se de Logan e o “estudaram”.

                - Meninas! – Poseidon tentava repreendê-las, mas elas não davam atenção. – Deixem seu tio em paz!

                Logan se viu cercado por todas, que cutucavam suas pernas, mexiam nos seus cabelos, apertavam suas orelhas, e uma até tateou por sua calça até chegar...

                - Ei! – Ele afastou a mão boba. – O que está fazendo?

                - Nossa! O que é que você tem aí? – Perguntou inocentemente uma de suas sobrinhas, de cabelos castanho-claro.

                Logan não soube o que responder. Olhando em volta, todos pareciam ter cauda, e até seu pai voltara à sua forma original. Ele não ficou nervoso, pois a pergunta era inocente e sincera, mas embaraçado: o que ele iria responder?

                Logan gaguejou um pouco, procurando por uma resposta, mas não precisou responder. Foi salvo pelo som de duas trombetas, que anunciaram a chegada de Tritão.

                O belo meio-irmão de Logan entrou por uma porta lateral, esbravejando:

                - Pai, o senhor não vai acreditar onde encontrei Ariel! Esta menina estava espiando um navio que estava quase no limite de nossos domínios seguros!

                - O quê? – Poseidon franziu as sobrancelhas. Dava para ver que ele também havia ficado nervoso. – Quer virar pedra Ariel? – Ele falou, num tom alto e ríspido.

                A essa altura, todas as outras sereias já estavam sentadas de volta a seus lugares, assistindo à cena, mudas e de olhos arregalados. Foi apenas quando Logan ouviu seu pai chamar por Ariel que o príncipe percebeu que uma figura com cauda verde se escondia atrás do físico de Tritão.

                - Vamos, menina! – gritou Poseidon. - Saia de trás de seu pai, agora!

                Tritão virou-se e andou para trás, ao perceber que sua filha se escondia atrás dele. Foi nesse instante que Logan, ao lado de Poseidon, teve o primeiro vislumbre de sua sobrinha mais nova. E, dessa vez, o queixo dele caiu.

                Ariel era a mulher – ou... criatura – mais linda que ele já havia visto. Começando pelo desenho espetacular de seu corpo, perfeito. Mas todas as outras também tinham curvas perfeitas. Não, o que diferenciava Ariel não eram suas curvas e, sim, dois atributos fantásticos: seus cabelos e seus olhos.

                Os cabelos de Ariel eram de uma cor que Logan nunca vira antes. Eram vermelhos da cor que apenas o fogo pode ser, e sua cor era realçada pela água. Eles flutuavam em volta dela emoldurando seu rosto perfeitamente. E no rosto estava o segundo atributo. Os olhos de Ariel eram da mesma cor que os das irmãs e, obviamente, do próprio Logan. Mas, apesar da igualdade de coloração, não se parecia com nenhum outro daquele salão.

                Você deve estar se perguntando: “Como assim, não pareciam com o de ninguém naquele salão? Não eram iguais? “.

                Na verdade, o que diferenciava os belos olhos de Ariel dos outros era um brilho incomum que Logan detectou logo de cara. Eles possuíam uma vivacidade e um frescor não característicos, além de um paradoxo que deixou Logan arrepiado: como poderia ser um olhar puro e malicioso ao mesmo tempo? Além disso, ele sentiu quando Ariel olhou para ele, a intensidade, a atenção e a curiosidade de sua observação. Arrepiou-se.

                - Explique-se, mocinha. – Ordenou Poseidon.

                - Vovô, eu estava apenas observando um barco que passava. – Ela disse, firme como uma rainha deveria ser. – Eles estavam fazendo algo que não compreendi, por isso me aproximei para...

                - Ariel, isso é muito perigoso! VOCÊ NÃO PODE SAIR DA CIDADE!

                - VOCÊS NÃO PODEM ME PROIBIR DE FAZER ISSO! JÁ ESTOU APRISIONADA NESTE REINO PARA SEMPRE, NÃO SEREI PRISIONEIRA DESTE CASTELO!

                - VOCÊ SABE O QUE DEVE FAZER, E SABE MUITO BEM, POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA! – À menção do incidente que ocorrera cerca de cem anos antes, Poseidon tocou muito fundo em Ariel. Logan observou o brilho que seu olhar ostentava fraquejar e se apagar um instante. Mas apenas por um instante. Ela calou-se, curvou-se e disse, um pouco seca:

                - Perdoe-me, Majestade.

                - Pelos deuses, menina! Sabe como eu odeio quando me chama de majestade! – Ela continuou seca, e seu olhar adquirira um ar de indiferença - Nós conversaremos mais tarde. Sente-se à mesa e dê as boas-vindas ao nosso recém-chegado.

                Ariel encarou Logan de forma hostil e, sem cumprimenta-lo, sentou-se à mesa. Tritão tomou o assento a seu lado e Poseidon e Logan ocuparam os lugares vazios. Poseidon, na ponta, cercado de Tritão, à direita e Logan, à esquerda.

                Comidas exóticas então começaram a ser servidas.

..............

Mais tarde, Logan se reuniu na mesma sala de antes com Poseidon, porém agora Tritão os acompanhava.

Ele contou a mesma história a seu meio-irmão, que a ouviu tão pasmado quanto seu pai a ouvira.

                - Agora tudo faz sentido. – Pronunciou Tritão ao termino da narrativa. – Por isso Caroline roubou meu tridente!

                - Receio que sim, filho. Lamento.

                Tritão suspirou.

                - De um jeito ou de outro, estamos de mãos atadas. Não há nada que possamos fazer para destruir o feitiço do tridente.

                - Receio que você esteja certo. – Suspirou Poseidon. – Mesmo sabendo dos motivos de Caroline, não há como detê-la. E seus amigos não vão nem conseguir ficar embaixo d’água sem um bom feitiço, quanto mais recuperar o tridente que não podem tocar. E ainda teriam de passar pelo Kraken! Não há como.

Nesse instante, uma voz falou, vinda de uma das janelas:

- NÃO! Há uma maneira! – Era Ariel. Ela veio descendo de uma janela que ficava no alto do aposento.

- Ariel! Era para você estar no seu quarto, vigiada, de castigo! Como saiu de lá? – Falou Tritão, muito bravo.

- Isso não vem ao caso...

- Volte para lá imediatamente! – Vociferou o pai da sereia, mas Logan pousou a mão sobre o braço do irmão, que olhou para ele, sem compreender, os olhos ainda com raiva.

- Ela disse que conhece uma maneira de destruir a orcrux. Acho que deveríamos ouví-la.

Tritão relaxou os músculos e voltou a olhar para Ariel. Quando Logan pousou seus olhos nela novamente, a sereia o encarava com um sorriso e uma expressão de curiosidade. Porém, logo falou, sem se demorar em Logan:

- Meu recém-chegado tio pode resgatar o tridente e destruir a orcrux que nele paira. Aliás, ele é o único que pode fazer isso!

Todos logo entenderam. Era tão óbvio! Como não haviam pensado naquilo antes? Logan caíra fora da área permitida para os seres de Atlântida e conseguira entrar em Atlântida sem sofrer danos. Isso porque ele não era um ser totalmente marinho. Ele era metade humano também. Então, decerto conseguiria sair sem virar pedra.

- Não seja burra Ariel!

                - Não, ela está certa! – Logan disse. – Eu posso entrar e sair sem sofrer danos, pois sou meio humano. Além disso, também posso tocar o tridente sem morrer. Sou o único que pode fazer isso.

                - Mas... é muito perigoso! – Disse poseidon. – E, mesmo que Ariel esteja certa, como você fará para destruir o feitiço de Caroline? Precisamos de algo poderoso, e o maior poder que tínhamos era vindo do próprio tridente.

                - Acho que tenho uma solução para isso! – Disse o príncipe, sorrindo para Ariel. Ela lhe devolveu o sorriso, meio confusa e hesitante. – Mas, primeiro, tenho que fazer uma pequena viagem para a superfície.

                - E você, Ariel, deve fazer uma viagem para seu quarto, imediatamente! – Falou Tritão.

                - Meu irmão, com todo respeito, se eu não estiver desafiando sua autoridade, gostaria que Ariel me acompanhasse até a superfície. Preciso dela para assuntos importantes. – Ariel olhou para Logan muito surpresa. Tritão já ia protestar e perguntar que assuntos importantes eram aqueles, mas Poseidon falou primeiro.

                - Permissão concedida. Mas tome cuidado, Ariel, você sabe até onde pode ir.

                - Mas... Pai...                                                                       

                - Tritão, vai recusar um pedido tão gentil como esse?

                Tritão bufou. Realmente, era um pedido muito cortês. Não havia como recusar, especialmente quando se tratavam de... assuntos importantes.

                - Está bem... – Falou, um pouco contrariado. – Mas, dá pra dizer que assuntos são esses?

                Quando Tritão terminou a frase, Logan e Ariel já estavam passando pela janela do aposento. Quando saíram do castelo, ela perguntou:

                - Aonde estamos indo?

                - Para o barco que você viu esta manhã. Quero que você me guie até ele. Preciso conversar urgentemente com algumas pessoas.

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Oiê!!!!

Tudo bem com vocês? FELIZ ANO NOVO!!! (meio atrasado, mas o que vale é a intenção).

Como passaram a virada?

Continuo com cinco comments J

Bjs

Elissa