quinta-feira, 1 de maio de 2014

Capítulo 57 – O Kraken

Capítulo 57 – O Kraken

Logan já havia sido ovacionado. Já havia sido cumprimentado por todos os cidadãos de Atlântida. Estes confiavam nele o futuro de suas vidas. E isso deixava Logan angustiado.
- Você nasceu para nos salvar! – Uma velha sereia lhe disse, sorrindo enquanto pegava suas mãos. Se Ariel tinha mais de cem anos e tinha a aparência de uma garota, Logan tentou imaginar quanto tempo ela já havia vivido naquele mundo.
Mas toda a glória, toda a segurança e até mesmo seu pai, seu irmão e Ariel haviam sido deixados para trás.
O príncipe virou-se e viu, ao longe, toda uma cidade o observando. Ele estava no limite até o qual um ser marinho poderia ir sem virar pedra. Passando daquele ponto, qualquer um daqueles que observavam Logan morreria, inclusive o próprio Poseidon, o deus dos mares.
Mas Logan não era um ser marinho. Pelo menos, não inteiramente.
O príncipe se viu pensando em sua vida, que mudara tão repentinamente em um dia e algumas poucas horas. Ele passara de o vergonhoso bastardo de Olimpiana para o herdeiro de um reino terrestre e de um reino marítimo, um semideus com capacidades especiais e que estava prestes a salvar o mundo.
Logan pensou se acreditava ou não em destino. Por que o navio de sua mãe fora abatido bem naquela região? Por que seu pai se apaixonou por ela? Por que ela também se apaixonara por Poseidon? Por que ele resolvera tentar casar com Eleanor e entrar naquela terrível e assustadora missão de resgatá-la, descobrindo mais tarde que estava envolvido em algo muito maior do que jamais poderia imaginar? Teria sido tudo uma trama do destino, uma brincadeira sorrateira que algo além do incompreensível teria resolvido fazer com Flack?
Pois seria impossível que existisse um ser que unisse a superfície às profundezas, que respirasse embaixo d’água, pudesse atravessar a barreira sem virar pedra e, ainda por cima, conseguir pegar o tridente da família real de Atlântida sem sofrer as terríveis consequências desse ato, não seria?
Para o desespero de Flack, aparentemente não.
Logan não sabia se era o destino, mas sabia que muitas coisas às vezes eram escritas por linhas tortas. Linhas escritas com tinta que nem a bruxa das bruxas poderia apagar.
Ele respirou fundo, começando a nadar. Quando passou o limite imposto pela barreira invisível, o povo que o assistia ao longe gritou. Ele foi saudado como o herói dos heróis, o príncipe dos príncipes, o rei dos reis. Nunca, em toda a sua vida, ele se sentira tão bem. Ali embaixo, ninguém caçoaria dele.
O príncipe continuou nadando, os gritos perdendo sua frequência enquanto ele se afastava. Em sua cabeça, ele ouviu a voz do pai.
“Não importa onde esteja. Eu estarei sempre ao seu alcance.”
............................................................................................................................................
Logan nadou com uma velocidade impressionante uma trajetória de mais de cem quilômetros em uma hora e meia.
Apenas parou quando viu. Ariel lhe dissera rapidamente onde aquela terrível criatura dormia. Existia uma espécie de abismo, uma abertura no chão, com quilômetros de extensão tanto horizontal quanto verticalmente.
Era ali que o Kraken morava.
O sol estava a pino. Era por volta de meio-dia, e Logan enxergava tudo com muita clareza em torno de si. Entretanto, o abismo, estreito, porém profundo, cheio de irregularidades em suas “paredes”, não parecia deixar muita luz entrar para revelar seu interior.
Logan engoliu em seco. Ele pegou do bolso o frasco com o líquido destruidor de orcruxes. Era melhor deixa-lo a postos, pronto para ser usado em qualquer eventualidade.
Ao pegar o frasco com o líquido, Logan sentiu alguma outra coisa em seu bolso, algo que não se lembrava de ter colocado lá.
Quando pegou, ficou surpreso. Era a lanterna feita com “antenas” de peixe. Como havia parado ali? Logan só conseguia pensar em uma única explicação: Ariel.
Ele sorriu com a lembrança dela. Sua imagem lhe deu força e determinação. Tudo o que ele queria era terminar o serviço, ajudar Louis a salvar o mundo e depois voltar para aquela Atlântida vermelha de olhos azuis que o esperava de braços abertos.
- Vamos acabar logo com isso.
Ele respirou fundo e penetrou no abismo.
............................................................................................................................................
Rei Simon olhou para a comida em seu prato. Batatas cozidas, um grande pedaço de pernil e uma enorme cocha de frango. Normalmente, ele teria esfregado as mãos e devorado tudo com muito apetite. Porém, fazia pelo menos um mês e meio que ele não se alimentava corretamente. Não desde que soubera que Eleanor fora sequestrada.
Uma lágrima correu por seus olhos. Ele não conseguia mais aguentar. Como rei, havia tentado se manter forte aquele tempo todo, para o bem de seu povo e de seu reino. Um rei jamais deveria demonstrar fraqueza em tempos de crise. Mas, antes de rei, Simon era também um homem. E todo homem possui sentimentos.
Ele dispensou os criados da sala de jantar e, quando o último deles finalmente saiu, deixou-se cair em prantos.
Eleanor viu tudo aquilo por Espelho. Em seu coração, a saudade quase não deixava espaço para outro sentimento. Entretanto, ela tinha de se manter firme. Eleanor tinha uma missão e sabia que ela precisava ser cumprida com êxito. E, acredite ou não, era algo muito, mas muito difícil de se fazer.
                ............................................................................................................................................
                Logan já estava descendo pelo penhasco estreito havia muito tempo. Ele não sabia exatamente há quantas horas estava fazendo aquilo, mas sabia que já se passava de duas. Duas longas horas descendo lentamente entre as paredes de um rochedo.
                A respiração dele estava começando a ficar esquisita, como se estivesse com gripe, e a água ficava cada vez mais fria à medida que metros e mais metros se acumulavam à distância percorrida, o que congelava seus ossos.
                Ele já não conseguia enxergar direito. A luz do sol o deixara muitos metros atrás. Sentiu a tentação de pegar a lanterna que Ariel deixara com ele, mas algo lhe disse para não fazer aquilo. Se o Kraken estivesse próximo, ele não iria querer acordá-lo.
E, por falar em Kraken, uma pergunta assolou a mente de Logan. Se aquela era realmente a toca do animal, como ele poderia ser tão grande? Logan mal cabia na abertura do rochedo, tão fina sua espessura.
Sua pergunta logo foi respondida. De repente, Logan viu chão. Quando pisou na areia molhada do fundo do oceano, seus olhos enxergaram a escura silhueta de uma abertura adiante.
Uma caverna! Sim, uma caverna embaixo do abismo! E ela parecia enorme, o que significava que era ali que o Kraken morava.
Um arrepio percorreu a espinha de Logan. Ele deveria entrar naquele breu, encontrar o tridente e destruir o feitiço. Tudo isso seria quase uma tarefa simples, se não houvesse um monstro terrível e mitológico guardando o objeto.
O príncipe respirou profundamente. Era agora ou nunca.
Logan entrou na escuridão da caverna. Ele não tinha noção de para onde estava indo. A lanterna de Ariel era uma opção cada vez mais tentadora, e Logan resolveu arriscar.
                Ele pegou o pequeno objeto e o balançou, e então se fez a luz!
                O mundo de repente se refez aos olhos de Logan, e ele pôde finalmente enxergar ao redor de si. A caverna era realmente muito ampla em altura e espessura, mas não exatamente em extensão. Ali, a uns trinta metros do príncipe, ela acabava.
                E ali, no fundo dela, Logan o viu.
                O Kraken.
.........................................................................................................................................................
                Rei Simon ainda chorava quando ouviu um barulho na porta do salão de jantar, bem à sua frente.
                Um velhinho de barba comprida e vestindo uma espécie de túnica entrou no salão, sem se apresentar ou fazer qualquer cortesia ao rei, o que deixou este enfurecido, pois, além de interromper seu momento particular e seu almoço, ainda era mal-educado.
                - QUEM OUSA ME INTERROMPER EM MEU MOMENTO PARTICULAR? – Simon se ergueu de sua cadeira, raivoso.
                - Oh, Rei Simon, perdoe-me pela interrupção, mas eu sabia que se eu tentasse conversar com Vossa Majestade da maneira tradicional, seus guardas me impediriam de o fazer.
                Simon ainda estava furioso, porém cauteloso. Quem era aquele homem? E como ele chegara até ali?
                - COMO PASSOU PELOS MEUS GUARDAS?!!!
                - Oh, isso não é importante, Majestade. – Disse o velhinho, andando devagar até o rei.
                - NÃO SE APROXIME MAIS, OU EU CHAMAREI MEUS GUARDAS!
                - Não será necessário, senhor. Eu não estou aqui para machuca-lo. Na verdade, creio que preciso da sua ajuda.
                - E PORQUE ALGUÉM COMO VOCÊ PRECISARIA DE MINHA AJUDA?!!!
                - Na verdade não se trata de mim, Vossa Majestade. Mas do sucesso do salvamento de sua sobrinha, a princesa Eleanor.
                Simon esqueceu-se de repente da cautela e da raiva. Ele ouviu o homem. E mandou um emissário convocar Mark imediatamente.
.........................................................................................................................................................
                A visão paralisou Logan. Ali, a sua frente, onde ele esperava encontrar uma enorme criatura horrenda, com dentes afiados e um olhar impiedoso, apareceu, na realidade, uma espécie de mulher-polvo.


                Ela encarava Logan, e sorriu maliciosamente.
                - Ora, ora, ora...  Você me pegou desprevenida... Há quanto tempo eu não recebo visitas! Na verdade, acho que nunca recebi visitas... Se eu soubesse que você viria, teria arrumado minha casa antes!
                - Q-quem é você? – Logan estava pasmado. Com certeza não se tratava do Kraken.
                - Quem sou eu? Ora, pensei que você soubesse. Ninguém vem aqui, porque sabe quem mora aqui.
                - O quê?! – Logan exclamou, espantado. Suas sobrancelhas estavam franzidas. Ele analisou a criatura: Era vermelha e branca, com tentáculos de polvo no lugar das pernas e tronco e rosto de mulher. Os cabelos eram como barbatanas unidas que formavam uma coroa. – Mas eu pensei... Eu pensei que o Kraken era...
                - Ah, meu queridinho... Você nunca ouviu falar que quem conta um conto aumenta um ponto? Mas, infelizmente para mim, sim, eu realmente me transformo naquele bicho de vez em quando... Mas, sabe como é... Só quando o tédio ou a fome são muito grandes...
                - Mas...
                - Você é um jovem muito preocupado, meu amor... – Kraken riu, se aproximando de Logan. Seus tentáculos acariciaram o belo rosto do príncipe. – Você é tão bonito... Quem é você?
                Logan não respondeu.
                - O que foi? A tartaruga comeu sua língua? Não tem problema, eu descubro quem você é...
                Os tentáculos de Kraken se esgueiraram até a nuca de Logan. Ela, de repente, afastou-se, surpresa.
                - Um filho de Poseidon! Mas veja só! – Ela riu novamente.
                Logan continuou com a cara e a boca fechadas.
                - Mas não pode ser...! Estou curiosa em como veio parar aqui... Como atravessou a barreira? Papai não pode ter ajudado você... Nem o irmãozinho Tritão. Pelo menos, não depois que eu acabei por ficar com o...
                - Com o tridente? – O rosto do príncipe estava impassível.
                Kraken afastou-se. Ela agora sabia que deveria tomar cuidado.
                - O que veio fazer aqui, meu amor? Ninguém nunca veio aqui antes.
                - Eu quero fazer um acordo...
                - Hummm... Além de bonito, é corajoso... Que tipo de acordo deseja fazer?
                - Eu quero uma coisa que não pertence a você.
                - E o que seria?
                - O tridente de meu irmão.
                Kraken gargalhou.
                - Ah, meu bem! Desculpe desapontá-lo, mas um acordo envolvendo o tridente está fora de cogitação.
                Os lábios de Logan se contraíram. Era óbvio que ela não lhe daria o tridente.
                - Você acha mesmo, meu bem, que eu lhe daria o objeto mais poderoso dos sete mares? Ele é inestimável para mim. Com Poseidon preso por seu próprio poder, eu ainda tenho me divertido mais do que o usual, sem ninguém para me atrapalhar com meus brinquedinhos. – Ela se afastou de Logan, virando-se de costas e indo para o que parecia uma penteadeira.
                Logan ficou enjoado ao entender que os “brinquedinhos” eram barcos de pessoas inocentes.
                - Mas que pena... Eu realmente achei que uma diva dos sete mares como a Kraken iria querer negociar comigo...
                - Não sejamos hipócritas... – Ela riu maliciosamente. – Você pensava que eu era simplesmente um monstro irracional...
                - Mas agora que eu sei que você não o é, pensei que meu plano poderia funcionar melhor ainda...
                Kraken ficou interessada.
                - Um plano, hein? – Os olhos dela se estreitaram. – Que tipo de plano?
                - Eu odeio Poseidon com todas as minhas forças. Aquele “deusinho” engravidou a minha mãe e me fez passar a minha vida inteiro sendo humilhado e estereotipado como o Príncipe Bastardo. Você faz ideia de o quanto isso é frustrante? – Logan parecia furioso, com ódio esvaindo-se de si por todos os lados. – Agora eu pretendo fazê-lo sofrer como ele fez com que eu e minha mãe sofrêssemos.
                Kraken estava alerta.
                - Não acredito em você. Eu sei das coisas que acontecem em todo o oceano. Eu posso sentir, eu posso ver com a minha mente.
                - Então sabia que eu viria. E também sabia quem eu era desde o começo, não é? – Logan encostou-se na parede da caverna e cruzou os braços.
                Kraken riu mais uma vez.
                - Eu gosto de brincar. Como eu disse, poucas pessoas vêm aqui. Eu não queria assustar a minha primeira visita... viva.
                Logan sorriu debochadamente.
                - Se fosse tão boa quanto diz que é, então teria percebido toda a minha encenação em Atlântida.
                - Se eu fosse tão boa quanto eu digo, e eu sou tão boa quanto eu digo, então, sim, eu teria percebido.
                - Pelo jeito eu sou melhor que você.
                - Hummm... Por favor... Dava para ver o brilho nos seus olhos ao olhar para o papaizinho... E Ariel? Sua sobrinha é bem vivaz, meu jovem príncipe... E você parecia muito convincente como o príncipe apaixonado.
                - Você sabe o que dizem... Mantenha seus amigos perto... E seus inimigos ainda mais perto.
                - E estamos tão perto um do outro agora, não?
                Logan revirou os olhos.
                - Eu precisava conquistar a confiança de todos de alguma forma.
                - Da mesma forma que precisa conquistar a minha para conseguir o que quer.
                - Se não vai confiar em mim, ótimo. Assim que eu dominasse Atlântida, faria Poseidon e Tritão seus escravos. E você teria liberdade para circular e atacar onde quisesse.
                - Meu querido, eu já tenho essa liberdade há cem anos.
                - Mas não tem como escravos seus maiores inimigos. E nem a mim como aliado. Juntos, poderíamos expandir nossos domínios até além dos sete mares, conquistando a terra e, finalmente, o mundo. Afinal, como você bem sabe, sou livre para escolher o mar ou a superfície. Seríamos imbatíveis.
                - Você seria imbatível.
                - E você seria mais temida do que nunca.
                - Você está tentando me cantar? Meu bem, não me leve a mal, você é um rapaz muito bonito, mas é jovem demais para mim.
                - Alguns milhares de anos não fazem diferença para mim.
                Kraken observou Logan atentamente. Ele saíra da parede e se aproximara dela. Era impossível decifrar os olhos do Príncipe.
                - O que é isto em sua mão? – ela perguntou.
                Logan percebeu que ainda segurava o frasco com o líquido de Louis.
                - Isso?! É magia. Muito poderosa.
                - Onde conseguiu isso?
                - Não importa. Mas saiba que aqui está a chave para destruir meu pai.
                - Se incomodaria se eu chegasse a qualidade do produto?
                Logan deu de ombros.
                - Certamente não.
                Kraken estendeu um tentáculo para pegar o frasco da mão de Logan. A pele dela era fria, mole e lisa.
Entretanto, algo muito estranho aconteceu. Mal ela encostou no frasco, que ainda estava na mão de Logan, e afastou seus tentáculo, assustada.
- O-onde conseguiu isso?
Logan ainda estava sério.
- Já disse que não importa.
                Kraken estava de olhos esbugalhados. Apesar de todas as suas dúvidas, ela sabia que aquele frasco continha magia negra. Uma magia negra que ela não conhecia, mas que sabia que era uma das mais poderosas que havia sentido. A monstro do mar pensou no acordo de Logan e pesou suas opções por alguns instantes. Ela duvidara dele até aquele momento, mas definitivamente ele tinha alguma conexão com magia negra, o que tornava sua história mais confiável aos olhos dela. Diante da expressão sombria e convicta de Logan, ela fez sua decisão.
                - Está bem... – Ela disse, a expressão de indiferença. Eu aceito suas condições. E, dizendo isso, ela estralou os dedos e, de um líquido preto que surgiu de repente, formou-se o tridente de Tritão. – Está claro para mim que esta é magia negra de primeira categoria. Eu acredito em você.
                Logan não entendeu quando ela disse magia negra. Louis não havia dito que Dumbledore lhes enviara o líquido? Dumbledore não era uma mago branco.
                De qualquer forma, seu jogo havia dado certo. Tudo estava ocorrendo da forma como ele desejava
Ele estava prestes a pegar o tridente.

.......................................................................................................................................
Bom gente, mais uma vez, perdoem a demora L
Aqui está mais um capítulo e, digo mais, os próximos estão repletos de emoções poderosas.
Curiosos?
Continuo com mais seis comentários.

Bjs

9 comentários: