Capítulo 62 – Os Opostos se Atraem

Capítulo 62 – Os Opostos se Atraem

- Liam, você precisa dormir um pouco. Está ferido e precisa de descanso. O remédio que eu passei em você é bom, mas não faz milagre. Além disso, está muito frio. Nessa posição você vai acabar pegando friagem e isso não vai lhe fazer nenhum bem. – Mulan repreendeu Liam, que estava ao seu lado de sentinela lendo o livro que Dumbledore lhe dera.

- Não, você não entende! Estou lendo coisas importantíssimas aqui! Por exemplo, você sabia que algumas notas musicais podem atordoar as bruxas? – Disse Liam, animado.

- Como assim?

- Notas musicais. É uma sequência atingida depois do Si. Não sei o que alguém teria que fazer com a garganta pra conseguir uma nova sequência de notas como essas que estão no livro. Ainda assim, é uma informação muito útil. Se eu forçar a voz e conseguir um efeito desses, talvez...

- Liam! Eu já disse. Pare de ler e vá dormir. Caso contrário, você não vai conseguir fazer absolutamente nada para resgatar as princesas.

Liam bufou, mas cedeu à menção das princesas.

- Tá bom, mamãe. – Ele disse, se levantando e indo para um tronco para apoiar a cabeça e dormir.

Apesar de estarem sob o efeito do chá, medidas de segurança foram tomadas e eles fariam turnos de sentinela naquela noite. Já era por volta de onze e meia e todos já haviam dormido. Mulan se oferecera para ficar no primeiro turno, e Liam resolveu acompanha-la. Ainda faltava mais uma hora antes que ela fosse chamar alguém para trocar de turno, mas Liam era teimoso e não queria deixa-la desacompanhada.

- Hummm, vou chamar alguém para ficar com você. – Eles falavam em sussurros.

- Não precisa. – Ela rebateu, seca.

- É claro que precisa.

- Sério, Liam? De todas as pessoas que eu esperava que me julgassem pelo meu sexo, você é a última delas.

- Fazer o quê? Não duvido da sua capacidade, mas é que... – Ele começou a enrolar e a ficar vermelho, andando por entre os adormecidos até chegar a um certo corpo enrolado num cobertor.

- O quê? – Ela olhou para ele desconfiada.

- É que eu prometi uma coisa... – Ele disse se abaixando para acordar aquele alguém.

- Liam... – Ela começou.

- E, você sabe...

- Liam, não...

- Promessa...

- Liam, por favor... Não toque nele... – Ela disse quando viu de quem se tratava.

- É dívida.

Liam cutucou uma cabeça com cabelos cacheados. Harry nem parecia estar dormindo. De um pulo, ele se levantou, sorrindo, trocou um olhar cúmplice com Liam, e foi sentar-se ao lado de Mulan.

- Olá... – Ele disse, com um olhar que, para ele, era sedutor, mas que, para um observador qualquer, seria cômico.

Mulan não se deu ao trabalho de responder enquanto Harry se enrolava em seu cobertor ao lado dela e Liam se acomodava, rindo silenciosamente.

Harry não fez novas tentativas de contato por um tempinho. Mulan o deixava nervoso. Ela estava quase sempre séria e ele tinha a leve impressão de que ela não queria conversa com ele.

Ele olhou-a de esguelha por um momento, analisando seu perfil. Ela era realmente muito bonita e, agora que não era Pin, Harry podia admitir isso. Afinal, a beleza dela como mulher fazia muito mais sentido.

Foi então que Harry percebeu que Mulan tremia.

- Você está com frio! – Ele disse.

- Não, não estou.

- Está, sim, eu estou vendo.

- Você enxerga demais, em minha opinião.

- Por favor, pare de ser mais fria do que esta noite. – Ele disse, se levantando.

Mulan achou, por um momento, que Harry estava indo se deitar, cansado dela, e quase sorriu, aliviada pela sua saída.

Mas, um segundo depois, ela percebeu porque ele se levantara.

Harry abriu o cobertor que estava enrolado nele e jogou uma parte sobre o ombro da chinesa, que já estava enrolada em sua própria manta. Depois ele sentou-se novamente ao lado de Mulan, dessa vez colando seu ombro ao dela e, por fim, passando o cobertor pelas costas dos dois até chegar a seu próprio ombro.

- Pronto. Agora vai se esquentar um pouco mais. – Ele disse, sorrindo sem mostrar os dentes.

- Err... – Mulan não sabia o que responder. Ela estava se sentindo desconfortável com a proximidade dos dois, mas, definitivamente, estava se sentindo mais aquecida. – Obrigada.

- Não há de quê. – Harry disse, enquanto olhava para frente, observando todos dormirem. – Está ouvindo isso? – Ele de repente percebeu um som estranho.

- Não se preocupe. É apenas o Niall roncando.

- O quê?! Ele ronca assim?! Parece um coiote dando à luz! – Harry pareceu indignado.

Mulan não pôde evitar uma risadinha. Diante disso, Harry se sentiu mais confiante.

- Sabe... – Ele começou, querendo abordar o assunto delicadamente. – Tem algo que anda me deixando bem curioso... Por que você está na missão com a gente?

Mulan já sentira de alguma forma que ele perguntaria aquilo.

- Eu já disse. Caroline fez algo muito ruim com alguém que eu gostava muito. Quero vê-la perecer.

- Você sabe que a vingança não é o melhor caminho, não é?

- Sei, sim. Mas, às vezes, é difícil esquecer o que os outros fizeram.

- De fato. Ainda assim, não sei por que, nunca achei que a vingança é a solução para os nossos problemas.

- Como assim? – Ela disse, seca.

- Quero dizer, - ele explicou, sem se abalar pelo tom de voz de sua companhia - por mais que eu mate alguém que matou uma pessoa próxima de mim, isso não vai trazê-la de volta. E eu apenas vou me tornar um assassino frio como o assassino que eu caço. Se foi tão horrendo o que ele fez, por que eu me igualaria a ele?

Mulan ficou em choque por alguns momentos. Ela nunca pensara daquela forma antes. Em sua cabeça, queria desesperadamente ver Flack morta pelo que ela fizera a Shang.

- Então o que você sugere ao invés da vingança?

- Uma coisa extremamente difícil de se fazer.

- E que seria?

- Perdoar. – Aquela única palavra atingiu em cheio o coração de Mulan, e ela de repente se viu em um conflito interno. Perdoar? Deixar tudo por aquilo mesmo?

Harry viu a confusão nos olhos dela.

- Eu sei que é difícil compreender, mas... É uma causa mais nobre, entende? Por mais que seja gratificante ver uma pessoa pagar pelo que ela fez, eu acredito que nós não estaremos nos tornando algo melhor do que ela. O perdão dói, mas ele eleva a alma. Aquele que perdoa é sem dúvida superior àquele que se vinga e, principalmente, ao alvo da vingança. No fundo, teremos a certeza de estar fazendo a coisa certa.

Uma lágrima escorreu pelos olhos de Mulan enquanto ela observava Harry falando. Ele percebeu que atingira um ponto muito fraco dela.

- Ah, me desculpe. Gandalf tem razão, é melhor eu ficar de boca fechada...

- Não... – Mulan disse, a voz tremendo. – Não é isso. – Ela estava emocionada pela força de caráter de Harry, algo que, por trás de suas idiotices, ela nunca havia percebido. – Por que, então, está nessa missão? – Ela limpou um pouco os olhos, falando um pouco mais firme, intimando Harry da mesma forma que ele a intimara.

- Ah, você sabe... Nem todos pensam igual. Louis quer resgatar Eleanor e, de certa forma, sei que ele quer se vingar matando Caroline. O meu objetivo não é esse. Precisamos deter Caroline por um bem muito maior. Ela é cruel, e se houvesse outra forma de pará-la, eu a escolheria. Mas não há. Então...

- Mas antes de vocês saberem que o mundo estava em jogo, você já estava seguindo Louis.

- Sim, é verdade. Mas, nesse caso, entramos em uma contradição. Meus ideais versus minha lealdade.

Mulan sorriu e mais uma vez se surpreendeu com a beleza interior de Harry. Ele era capaz de passar por cima do que acreditava por causa de seus amigos. Ele prezava a amizade e a lealdade mais do que qualquer outra coisa. Morreria e mataria para defender seus amigos, mesmo que não gostasse daquilo. Não era sempre que se via um rapaz assim.

Mulan sorriu um pouco, lágrimas involuntárias escapando de seus olhos. Harry estava encabulado e não sabia exatamente o que dizer.

- Louis me tirou da obscuridade. Eu devo minha vida a ele. Eu estava sem rumo: sem família, sem dinheiro... Quando Louis me encontrou, eu estava quase morrendo e, na verdade, quase estava desejando minha morte.

Mulan assustou-se.

- O quê?! – Mulan não conseguia imaginar Harry, tão descontraído e feliz, depressivo de alguma maneira.

- Pense bem: para mim eu era um nada, um ninguém que também não servia pra nada e pra ninguém. Então Louis apareceu, e eu percebi o quanto era idiota. Ele me salvou aquela noite.

“Ele não me devia nada, nem me conhecia. Ainda assim, impediu que um taverneiro me rasgasse a garganta com seu facão. Depois desse dia, eu aprendi que, por mais que as coisas estejam difíceis, elas sempre melhoram. A tempestade sempre terá um fim e, com a água que ela traz a terra, flores novas e belas irão nascer. Nós temos que ter fé e amor próprio, e acreditar que, sempre à nossa frente, à nossa espera, há algo muito melhor.”

Mulan estava emocionada. Ela já não prestava atenção em mais nada que não fosse a voz de Harry.

- Depois desse dia – ele concluiu – Eu segui Louis. E desde então, tenho visto coisas terríveis e maravilhosas, mas estou me sentindo melhor do que nunca. Estou feliz por alguém ter percebido que eu era um idiota a tempo. – Ele riu da última frase.

- Eu jamais imaginaria que você tinha uma vida tão difícil.

Harry riu.

- É por isso, Mulan, que eu te digo: esvazie o ódio do seu coração. Você não imagina o que irá sentir ao encontrar o perdão.

- E o que seria?

- Depende. Esperança? Frustração, à princípio. Talvez paz.

- Como posso ter paz sabendo que o assassino de um ente querido jaz livre e feliz por aí, pronto para satisfazer tudo o que desejar? – Ela ainda não conseguia entender como alguém poderia perdoar. – Como fazer para instaurar o perdão dentro de mim? Não há como deixar de vingar Shang.

Harry ergueu uma sobrancelha. Um nome? Interessante.

- Não sei muito sobre Shang ou sobre o que Flack fez a você. Mas vejo em seus olhos e garanto... – Ele segurou o rosto dela com as mãos e olhou profundamente dentro dos olhos da chinesa – Você nunca vai conseguir perdoar o que aconteceu se não perdoar a si mesma primeiro.

Aquela foi a gota d’água. Literalmente. Lágrimas incontroláveis rolaram das pálpebras de Mulan, como se ela fosse uma garotinha que acabara de se machucar.

Harry ficou muito nervoso. Mas será que ele não fazia nada direito? Ele nunca vira Mulan daquele jeito. Ela parecia extremamente frágil e indefesa. Não parecia a mesma mulher que salvara a vida de uma tripulação inteira, lutara com bruxas terríveis e que agira com a frieza necessária para livrá-lo de um sono eterno quando todos achavam que ela era um homem.

Harry a abraçou, deixando que ela chorasse em seu peito.

- Me desculpe... – Ele disse, encabulado novamente.

- Não... Você está certo... Eu nunca vou me perdoar pelo que deixei acontecer com Shang. – Ela disse.

Depois de alguns segundos, a chinesa levantou a cabeça. Já se acalmara e olhou diretamente para os olhos de Harry. Este, por sua vez, percebeu o peso nos ombros dela, e fez a pergunta tão esperada.

- O que aconteceu com Shang? – A voz dele foi serena ao perguntar.

- Shang... – Ela deu um riso nervoso, olhando de esguelha para Harry, para ver sua reação. – Shang era meu marido.

Harry arregalou os olhos e tossiu por um momento. Mulan teve a impressão de que ele tinha engasgado.

- Prossiga. – Ele tentou parecer cordial.

- Estávamos em nossa lua-de-mel, aqui, na Inglaterra. Foi ideia minha, aliás... Tão tonta... – Ela riu, uma pontada de arrependimento temperada com ódio e culpa em sua risada. – Sabe, eu imaginava que, depois de ter derrotar os unos e salvar a China eu poderia vir para cá, onde as mulheres são... Tão mais femininas...

- Peraí, peraí, peraí... – Harry piscou várias vezes. – Você salvou a CHINA? – Ele estava pasmado.

- Sim. Foi quando eu me passei por homem pela primeira vez. – Ela disse como se fosse óbvio.

- Ah, claro... – Harry assentiu, também como se fosse óbvio. Deveria ser óbvio?

- Enfim, tem toda uma história de estar no meio da floresta e então encontrar a pessoa errada na hora errada e ir salvá-la. Ele foi bravo. – Mais lágrimas escaparam enquanto as cenas se desenrolavam na cabeça de Mulan. – Mas Caroline o pegou. Tirou seu coração. E bebeu seu sangue. E... E eu simplesmente não consegui impedir. Se não tivesse me distraído com as criaturas... Eu teria conseguido salvá-lo.

Harry abraçou-a de novo.

- Não foi sua culpa. Liberte-se desse fardo. Shang sabia que você o amava e que fez tudo por ele. É apenas isso que seu coração precisa saber.

Ela chorou mais, e sua respiração entrecortada foi voltando ao normal aos poucos, enquanto Harry ainda a abraçava e carinhosamente passava a mão pelos seus cabelos, não como um gesto de outras intenções, mas para conforto. Ele só percebeu que ela havia dormido quando a chinesa relaxou totalmente o corpo.

Ele olhou para ela com uma doçura que se transformou em pena. Harry estava gostando dela, com certeza. Era uma mulher incrível e inteligente, imponente mas frágil em suas fraquezas, e o magoava que ela estivesse sofrendo tanto por dentro.

Harry se culpou aquela noite inteira por tê-la feito chorar tanto. Ele nunca imaginaria que teria dado a Mulan a primeira boa noite de sono desde a morte de Shang. Ali, pelo menos naquele momento, nos braços de Harry, ela dormira em paz.

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Oi gente, td bem?

Bem, mais um momento “love” da história, o que acharam?

Já estava na hora de esses dois ficarem juntos, não é mesmo?

Bom, esse é apenas o começo.

Continuo com seis comments J

Bjs